Página inicial > Kierkegaard, Søren Aabye > Kierkegaard (CA): o conceito de angústia
Kierkegaard (CA): o conceito de angústia
quarta-feira 10 de junho de 2020
A angústia é uma qualificação do espírito que sonha, e pertence como tal à Psicologia. Na vigília está posta a diferença entre meu eu e meu outro [1]; no sono, está suspensa, e no sonho ela é um nada insinuado. A realidade efetiva do espírito se apresenta sempre como uma figura que tenta sua possibilidade, mas se evade logo que se queira captá-la, e é um nada que só pode angustiar. Mais ela não pode, enquanto apenas se mostra. O conceito de angústia não é tratado quase nunca na Psicologia, e, portanto, tenho de chamar a atenção sobre sua total diferença em relação ao medo e outros conceitos semelhantes que se referem a algo determinado, enquanto que a angústia é a realidade da liberdade como possibilidade antes da possibilidade [2]. Por isso não se encontrará angústia no animal, justamente porque este em sua naturalidade não está determinado como espírito.
Se quisermos considerar as determinações dialéticas da angústia, mostrar-se-á que esta justamente possui a ambiguidade psicológica. A angústia é uma antipatia simpática e uma simpatia antipática. Vê-se facilmente, penso eu, que esta é uma determinação psicológica num sentido inteiramente diferente daquela da concupiscentia. A linguagem usual o confirma inteiramente, pois dizemos: a doce angústia, a doce ansiedade, e dizemos: uma angústia estranha, uma angústia tímida, etc.
[KIERKEGAARD , Søren. O conceito de angústia : uma simples reflexão psicológico-demonstrativa direcionada ao problema dogmático do pecado hereditário. Tr. Álvaro Luiz Montenegro Valls. Petrópolis: Vozes, 2017 (epub)]
Ver online : O conceito de angústia
[1] mellen mig selv og mit Andet : também se poderia traduzir como: “entre mim mesmo e meu outro” [N.T.].
[2] Angest er Frihedens Virkelighed som Mulighed for Muligheden. Outra tradução possível: A angústia é a realidade da liberdade enquanto possibilidade para a possibilidade [N.T.].