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Allard l’Olivier (IC:88-89) – individuum
domingo 24 de abril de 2022
Todo objeto sensível individual é uma estrutura determinada procedente de uma forma inteligível. Esta define a espécie à qual pertence o indivíduo considerado. A palavra indivíduo deriva de individuum. O individuum é isto que não se pode dividir. Destruímos o indivíduo quando o dividimos ou, pelo menos, o lesamos gravemente [1]. O indivíduo é um todo, uma «unidade ontológica» ou, melhor, «ôntica»: tal homem, por exemplo, então, descendo do mais complexo ao mais simples, tal cavalo, tal macieira, tal indivíduo unicelular, tal bactéria, tal formação cristalina, tal molécula (de água, por exemplo), tal átomo (de ouro, de ferro), tal partícula elementar (elétron, nêutron). Esta escala merece ser estudada e completada por mentes informadas, competentes para o fazer, capazes de traçar com confiança a fronteira que separa os indivíduos vivos dos que não o são.
O indivíduo se encontra [2] no seio do mundo sensível, em um meio que é preciso distinguir e que é constituído de aglomerados, ou de misturas de outros indivíduos. Uma montanha não é um indivíduo; nem uma pedra, nem uma chama, nem um torrão de terra, nem um monte de areia, nem um bloco de ferro, nem uma massa de água, nem uma corrente de ar é um indivíduo. Mas cada uma dessas coisas é, em última análise, redutível a indivíduos da mesma espécie ou de espécies diferentes.
Todo indivíduo é aqui em baixo um composto de Forma e de matéria. A forma é aquela pela qual resulta que o indivíduo é um ser inteligível, pertencente, com uma multidão de outros, à mesma espécie. A matéria é do que o indivíduo “é feito”, como dizemos, por exemplo, que a estátua de Júpiter “é feita” de mármore [3]. Qualquer que seja o nível em que o indivíduo esteja situado, a matéria é sempre secundária, no sentido de que o indivíduo considerado é sempre "feito" de algo que é ele próprio redutível a outros indivíduos de espécies diferentes. Qualquer matéria já é ela mesma um composto onde encontramos formas unidas à matéria, e é assim até que, descendo a escala dos indivíduos, desde o mais complexo, que é o indivíduo humano, nos encontramos finalmente na presença, se de fato o encontro é possível, das primeiras matérias segundas, sendo cada uma delas composta por uma forma, primeiro pela sua extrema simplicidade, e pela matéria-prima.
Se é verdade que a alma humana é a forma do indivíduo humano, a matéria deste indivíduo (matéria-segunda) é o corpo. Quando a alma sai, se há alma, o corpo se torna um cadáver, uma massa de indivíduos celulares que logo se decompõem, cada um deles perdendo sua forma e fragmentando-se em indivíduos químicos ou bioquímicos. Uma molécula de água é um indivíduo químico cuja forma é definida pelas relações entre os átomos que a compõem, e cuja matéria (matéria-segunda) é constituída pelos próprios indivíduos atômicos, que sustentam entre si estas relações. Quando uma molécula de água se decompõe, perde sua forma e, deixando de ser o indivíduo que era, transforma-se em três átomos, dois de hidrogênio e um de oxigênio, que são outros indivíduos, por sua vez decomponíveis em partículas elementares individuais.
Ver online : André Allard l’Olivier
[1] O indivíduo humano não deixa de sê-lo se perde um olho, uma orelha, uma perna, um braço; mas está incompleto. De qualquer forma, você não pode dividir um homem dividindo-o da cabeça à barriga.
[2] Deixo de lado os artefatos produzidos pela arte ou indústria dos homens ou mesmo de certos animais (a teia de aranha, o ninho do pássaro etc.) e que, sem dúvida, têm um caráter “individual”: uma estátua, um edifício, um móvel, uma máquina. Esses seres exigiriam tratamento especial.
[3] Trata-se da matéria sensível (υλη αισθητη [hyle aisthete]). Aristóteles dá o nome de matéria inteligível (υλη νοητη [hyle noete]) aos gêneros que as diferenças específicas determinam para deles extrair espécies.