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BGBh / BG / Bhagavad-Gita / Bhagavad-Gîtâ / Bhagavad Gitā / Bhagavad-gītā

  

O Bhagavad-Gîtâ, ou Canção dos Bem-aventurados, um poema épico indiano, é datado do século II aC pelos indianistas. Foi traduzido do sânscrito por Émile-Louis Burnouf, um helenista e indianista francês, e publicado em 1861.


Mircea Eliade

—É um dos grandes livros que me formaram. Nele encontro sempre uma significação nova, profunda. É um livro muito consolador, porque, como sabe, nele revela Krishna à Arjuna todas as possibilidades de salvar-se, quer dizer de encontrar um sentido à sua existência... De minha parte, acredito que é a chave de abóbada do hinduísmo, a síntese do espírito hindu e de todos os seus caminhos, de todas suas filosofias, de todas suas técnicas de salvação. O grande problema era este: para «salvar-se» —no sentido hindu— e liberar-se deste mundo maligno, é preciso abandonar a vida, a sociedade, retirar-se aos bosques como os rishis dos Upanishads  , como os iogues? Terá que dedicar-se exclusivamente à devoção mística? Não, Krishna revela que todos, a partir de qualquer profissão, podem chegar até ele, encontrar o sentido da existência, salvar-se deste nada de ilusões e de provas... Todas as vocações podem levar a salvação. Não são tão somente os místicos, os iogues, ou os filósofos os que conhecerão a libertação, mas também, o homem de ação, que permanece no mundo, mas a condição de atuar nele conforme ao modelo revelado por Krishna. Dizia que se trata de um livro consolador, mas é ao mesmo tempo a justificação que se dá à existência da história. Repete-se constantemente que o espírito hindu se desentende da história. É certo, mas não em Bhagavad-Gita. Arjuna se achava disposto, a grande batalha estava a ponto de começar, e Arjuna duvidava, pois sabia que mataria; a cometer, portanto, um pecado mortal. Então, revela-lhe Krishna que tudo pode ser distinto como tal que não persiga um objetivo pessoal, como tal que não mate por ódio, por desejo de proveito, ou para se sentir um herói... Tudo pode ser distinto se aceitar a luta como uma coisa impessoal, como algo que se faz em nome do deus, em nome de Krishna e —segundo esta fórmula extraordinária— se «renuncia ao fruto de seus atos». Na guerra, «renunciar ao fruto de seus atos» é renunciar ao fruto do sacrifício que se realiza ao matar ou ao ser morto, como se se fizesse uma oferenda em certo modo ritual ao deus. Deste modo é possível salvar do ciclo infernal de Carma; nossos atos não são já a semente de outros atos. Já conhece, com efeito, a doutrina do carma sobre a casualidade universal: quanto fazemos terá mais tarde um efeito; todo gesto serve de preparação a outro gesto... Pois bem, se em plena atividade, inclusive guerreira, não pensa já em si o homem, se abandonar o «fruto de seu ato», fica suprimido esse ciclo infernal de causa e efeito. [Prova do Labirinto]

Ananda Coomaraswamy

O Bhagavad Gita é um inspirado discurso de Krishna, parcialmente filosófico e parcialmente religioso. Foi proferido momentos antes da grande batalha entre os Kurus e os Pandavas, em resposta ao protesto de Arjuna, que afirmava não desejar matar seus amigos e parentes. Essa Gita, ou canção, tornou-se um hino universalmente adotado pelas seitas hindus. Nenhuma obra de igual extensão exprime tão bem a tendência característica do pensamento hindu ou descreve tão completamente os ideais hindus de caráter.

Ele fala das diversas maneiras de salvação – que é a libertação de si mesmo e o conhecimento de Deus pelo amor, pelo trabalho e pelo saber. Deus tem dois modos de ser; o não manifesto e incondicionado e o manifesto e condicionado. Alguns há, de fato, que procuram a experiência direta do incondicionado; mas, como diz Shri Krishna, “demasiadamente grande é o árduo trabalho daqueles cuja mente está ligada ao que não se mostra, pois o caminho que não se mostra é vencido a custo pelos que usam o corpo”. A todos aqueles que não estão ainda maduros para tal esforço supremo Shri Krishna ensina a apaixonada dedicação a si mesmo e o persistente svadharma – ou seja, agir de acordo com o dever de cada indivíduo. Já vimos (capítulo sobre o Ramaiana, p. 21) que a moralidade ou as regras de conduta não são as mesmas para todos os indivíduos; a moralidade do iogue é diferente da do cavaleiro. Shri Krishna ensina que a adoção do svadharma por uma pessoa, sem preocupação com os frutos da ação – isto é, com indiferença pelo seu malogro ou sucesso, ou por quaisquer vantagens ou desvantagens que ela possa trazer para essa pessoa –, é um meio infalível de avanço no conhecimento de Deus. E para aqueles que se atemorizam com a questão do sofrimento, ele diz: “Não lamentem pela vida e pela morte dos indivíduos, porque elas são inevitáveis; os corpos de fato vêm e vão, mas a vida que se manifesta em todos é imortal, intocável, nunca mata nem é morta” – nayam hanti na hanyate.

Roberto Pla

A mais completa e exaustiva tradução, é a versão de Roberto Pla  , indicada por meu amigo Antonio Carneiro   (BHAGAVAD GITA, conforme excertos de sua resenha em Yoga):

Este es uno de los libros que contienen la traducción y comentario de la Gita más lúcidos que hemos encontrado y, sin lugar a dudas, el más indicado para introducirse en esta lectura.
 
Roberto Pla siempre ha hecho trabajos serios de traducción y de comentarios de obras de la Tradición Hindú. Su punto de vista no llega a ser decididamente tradicional, es decir, declarar abiertamente el carácter "no humano" de estas obras pero, sin embargo, demuestra un gran conocimiento de la Tradición y, sobre todo, un inmenso respeto ante la obra que se propone traducir y comentar.
 
La introducción que hace sobre la Gita es toda una declaración de intenciones y ya, por sí sola, avala todo el trabajo posterior. Nos gusta especialmente lo siguiente: "El firmante de esta edición española de la Gita debe confesar que su nombre figura aquí en función de ser éste el pseudónmio usado por esta vez por un grupo de personas que en su conjunto son el verdadero y único autor". Lo cierto es que precisamente esa es la verdadera "autoría" de los textos tradicionales y, consciente o inconscientemente, es curioso que el "autor" de este libro adopte la misma función.
 
Señalamos algunos ejemplos más que echamos a faltar en otros "especialistas". "Las diferencias culturales de la India y Occidente son tan acusadas y a veces radicales que con frecuencia ocurre que no hay palabras adecuadas para expresar fielmente en lenguas europeas el sentido de un contenido textual". Este es el gran problema de la traducción que hemos señalado otras veces. Para solventar esta dificultad Roberto Pla deja algunos términos sin traducir y, al final del libro, añade un "Glosario terminológico de la Gita" con la explicación de esos términos. El intento nos parece muy original, que no deja de tener sus inconvenientes, pero que expresa bien claramente la insuficiencia de las lenguas modernas en cuanto a la terminología metafísica se refiere.
 
"La Gita sólo puede ser seriamente entendida por la realización personal, pues es ésta, la realización, la que da vigor y sentido verdadero a su doctrina". Muy pocos orientalistas hablan de doctrina, suelen quedarse en el sentido más superficial: "literatura", "filosofía", "expresión religiosa", aquí, por fín, vemos un verdadero acercamiento a la naturaleza de estos textos.
 
"En el hecho verdadero de viajar Arjuna y Krishna en un mismo carro corporal hay una representación escénica del purusha perecedero que creemos ser y de lo imperecedero que somos en verdad. Quizás sea muy difícil para algunos aceptar que hay dentro de sí esta doble existencia simultánea de lo que son como dos entidades de uno mismo; pero ocurre que la presencia real del purusha imperecedero únicamente es perceptible cuando el purusha que creemos ser es reconocido como nada y entra en vías de destrucción. Sólo entonces empieza a emerger para la conciencia transformada, desde el vacío o silencio que contra todo sentido se produce, desde eso que parece ser nada, la realidad bienaventurada del ser imperecedero que somos". Nos hemos extendido en la cita porque sintetiza perfectamente tanto la doctrina de los dos "síes" como la enseñanza final implícita en ella. En definitiva, sólo la introducción ya es una síntesis magistral y certera de la enseñanza de la Gita, lo cual hará que la lectura del propio "Canto" sea más profunda.

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