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psicanálise

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Quando uma forma de pensamento dá mostras de envelhecer e se inclinar rumo ao seu fim, mais do que o seu futuro incerto, convém interrogar o longo processo de sua maturação e nascimento, a fim de neles serem lidos os signos anunciadores de seu destino. Uma genealogia da psicanálise, seguramente, nos será mais instrutiva acerca da própria psicanálise do que os seus temporários êxitos ou fracassos. E quando, cada vez mais contestada na eficácia de sua terapêutica apesar de sua audiência popular, a psicanálise já reveste o hábito cinzento da ideologia, é a filosofia que deve elucidar o motivo desse declínio, quer dizer, o de um corpus teórico que se consagrou inicialmente a uma revolução total no modo de compreender o ser mais íntimo do homem – sua Psique – assim como a inversão da própria filosofia, ao menos sob sua forma tradicional. Mas aí está sem dúvida a sua principal ilusão. As razões que determinam o lento refluxo da psicanálise não lhe são inerentes e seria um erro se elas lhe fossem imputadas. A psicanálise não é um começo, mas um término, o término de uma longa história que é nada menos que a história do pensamento do Ocidente, a de sua incapacidade para se apoderar do único que importa e, assim, a de sua inevitável decomposição. Freud   é um herdeiro, mas um herdeiro tardio. Não será então de Freud que convém, em primeiro lugar, que nos desembaracemos, mas dessa mais pesada herança que vem de bem mais longe. São as pressuposições que guiaram, ou melhor, extraviaram a filosofia clássica e que Freud recolheu sem saber ou querer, para conduzi-las às suas últimas implicações, que devem ser postas em causa. Essas investigações também não se empreenderiam caso se tratasse somente, para o autor, de declarar o seu desacordo com uma doutrina particular. O que é preciso trazer à luz é, antes de tudo, o fundo impensado do qual ela procede, visto que esse fundo determinou quase [40] tudo o que precedeu Freud, assim como determinará também, se não tomarmos cuidado, tudo o que corre o risco de vir depois dele. [MHPsique:39-40]


LÉXICO: psicanálise