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ordem

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

A noção de razão está intimamente ligada à de ordem. A alma governada pela razão é uma alma ordenada, que desfruta concórdia e harmonia, como já vimos. Por sua própria natureza, a alma precisa ou tende a um certo tipo de ordem, em que a razão é soberana, exatamente como o corpo precisa e tende à ordem que chamamos de saúde. A analogia da saúde tem um papel importante para Platão. No Livro IV por exemplo, afirma que a saúde do corpo também é uma questão de que os elementos apropriados governem e sejam governados, e a doença é quando essa ordem se inverte. Assim, “a virtude... seria uma espécie de saúde, beleza e bondade da alma, e o vício seria doença, feiúra e fraqueza” (444D-E).

Razão é a capacidade de ver e entender. Apreender por meio da razão é ser capaz de “apresentar razões” ou “dar uma explicação” [lógon didónai, 534B). Assim, ser governado pela razão é ser governado pela visão ou entendimento corretos. A visão ou entendimento corretos de nós mesmos são aqueles que apreendem a ordem natural, o análogo da saúde. Uma característica dessa ordem natural é o próprio requisito de que a razão deve governar; desse modo, existe um aspecto de auto-afirmação na hegemonia da razão. Mas a ordem correta também estabelece prioridades entre nossos diferentes apetites e atividades, distingue entre desejos necessários e desnecessários (558-559) e coisas do gênero. Portanto, a razão pode ser compreendida como a percepção da ordem natural ou correta, e ser governado pela razão é ser governado por uma visão dessa ordem.

Platão oferece-nos o que podemos chamar de concepção substantiva da razão. A racionalidade está ligada à percepção da ordem; portanto, realizar nossa capacidade racional é ver a ordem como ela é. A visão correta é criteriosa. Não há como alguém ser governado pela razão e estar enganado ou errado a respeito da ordem da realidade. Para Platão, não faz sentido imaginar uma pessoa perfeitamente racional que, apesar disso, tenha uma visão errônea da ordem das coisas ou do moralmente bom — que acreditasse, por exemplo, num universo democritiano de átomos acidentalmente concatenados, ou afirmasse que o sentido da vida era acumular poder ou riqueza. Mas a ordem com a qual a razão está assim criteriosamente associada não é apenas aquela que seríamos tentados a chamar de “interna”, aquela entre as diferentes metas, apetites e elementos da alma. Mais fundamental é a ligação com a ordem das coisas no cosmo que, por sua vez, está conectada com a ordem correta da alma como o todo com a parte, como o que engloba com o englobado. Porém, não é mais importante só por esse motivo. A verdadeira questão é que somente no nível da ordem do todo é que se pode ver que tudo está ordenado para o bem. [TaylorFS  :142-143]


LÉXICO: ordem