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épico

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

EPOS
Filosofia
Henri Maldiney  : Aîtres de la langue et demeures de la pensée

Todos os verbos que fazem parte do vocabulário grego da logos - palavra figuram na Ilíada   e na Odisseia — salvo legein. Audan, phtheggestahi, phonein são empregados com valores diferentes aí onde alguém faz ouvir a sua voz, enquanto phemi tem um sentido declarativo. Os mesmos verbos (Salvo phtheggesthai) compostos com o prefixo pros, especialmente prosaudan, marcam que a palavra se dirige a alguém e atravessa para alcançá-lo um intervalo separador. Ora estas diversas dimensões se unem em eipein. De uma parte o substantivo epos (plural epea) é empregado como complemento de objeto ou como instrumental (cf. audan epos, Ilíada 6,54 ou prosaudan epea, Ilíada 4.203 e 22.37 e prosaudan epeessi, Odisseia 9.363). As palavras são lançadas pela voz em direção do outro como projéteis ou mensagens (phonesas epea pteroenta prosauda; Odisseia 8.346 = elevando a voz ele lhe lançou ao ar estas palavras, lit. estas palavras aladas). As palavras tem uma carga de sentido. O verbo eipein (ou proseipein) tem uma função ao mesmo tempo nominativa e declarativa (cf. hos eipon, Odisseia 10.76). A palavra exprimida por eipein põe a descoberto aquele que fala assim como aquele ao qual ele se dirige, ou sua situação comum, porque ela nomeia o que está em causa e o que é em realidade. Aquilo do qual o locutor fala não está ausente; está somente ocultado e a palavra o traz a luz. O que é que vem à luz no epos homérico? Figuras preexistindo a seus atos que não os desmentem jamais. Elas preexistem a suas aventuras na identidade de seu nome e do motivo, sempre o mesmo, cuja repetição remete em memória o caráter distintivo que os define. Os epítetos homéricos representam a emergência do memorável. Elas instauram, da maneira mais nua, o ato fundamental do tomar por... ou do tomar a... Por elas o ouvinte-espectador é tomado pelo ser ou pela coisa, de que elas designam um aspecto atinente a todos os outros. O compreender consiste na ligação «paratática» (não sintática), própria da língua épica, de todas as manifestações coexistindo na necessidade interior de uma forma única — que a estabilidade da forma poética (cf. o emprego constante do hexâmetro oposto às variações métricas da lírica) garante contra as tensões do tempo. O tempo do Epos é aquele do relato (aorista), mas cuja diacronia não é separadora de épocas mas essencialmente aspectual.