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imagem e semelhança

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  
Abade Stephane

O fundamento bíblico da teologia da Imagem é evidentemente a criação do Homem “à imagem e à semelhança de Deus”. Mas em razão da Queda (o “pecado original”), a imagem “se quebrou” e a semelhança “se perdeu”; a imagem não é mais semelhança, ela não é senão uma caricatura. Mas a imagem é “restaurada” pela Encarnação do Verbo: a santa humanidade do Cristo unida à Natureza Divina é a verdadeira Imagem (Vera Icona) da Divindade. O Ícone e o homem devem eles mesmos ser “muito semelhantes” e dar uma imagem visível do Invisível. Antes da Encarnação, no AT, toda imagem é interdita, salvo ao nível “angélico”: dois querubins estão representados na Arca da Aliança. A figura terá sua completude na Ressurreição do Cristo: o túmulo corresponde a Arca e os Anjos anunciam a Ressurreição. Em consequência, é ao nível “angélico” que deve se realizar a “semelhança” do Ícone e a “semelhança” do Homem.

Isto não quer dizer que nos tornaremos Anjos, mas que devemos realizar um “estado angélico” guardando o estado humano. Com efeito, “a distância cresce perigosamente devido ao fato do homem ter se desviado de sua semelhança inicial com Deus e se mergulhado na “dessemelhança”. Por outro lado, o plano angélico guardou intacto sua natureza de “segunda luz”, receptáculo puro da Luz Divina...” (Paul Evdokimov  ). É portanto sob o aspecto de “receptáculo puro da Luz Divina” que se deve encarar o “estado angélico” a realizar, e o homem se torna assim o Ícone, a imagem visível do Invisível. O Evangelho confirma esta maneira de ver de um modo notável: Reino dos Pequeninos, assim como Deus de vivos.


Jean-Claude Larchet  

É para manifestar o caráter dinâmico da aquisição das virtudes e da deificação, que a maior parte dos Padres, diferentemente de Gregório de Nissa, distinguem a imagem e a semelhança. Segundo esta distinção, a imagem de Deus no homem define o conjunto das possibilidades de realizar a semelhança, a potencialidade da semelhança a Deus, ao passo que a semelhança, que é constituída pela realização da imagem, consiste no desabrochar desta conforme sua natureza integral, reside na realização de sua perfeição. Enquanto a imagem é atual, a semelhança é virtual, ela é a realizar pela livre participação do homem na graça deificadora de Deus. Assim Basílio o Grande explica: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”: possuímos por uma pela criação, adquirimos a outra pela vontade. Na primeira estrutura nos é dado ser nascidos à imagem de Deus; pela vontade se forma em nós o ser à semelhança de Deus. O que decorre da vontade, nossa natureza o possui em potência, mas é pela ação que nós a buscamos. Se em nos cirando, o Senhor não tomou de antemão a precaução de dizer “façamos” e “a nossa semelhança”, se não nos tivesse gratificado pelo poder de se tornar à semelhança, não é por nosso poder próprio que adquiriremos a semelhança de Deus. Mas eis que ele nos criou em potência capazes de semelhança a Deus. Em nos dando a potência de semelhança a Deus, permitiu que fôssemos artesãos da semelhança a Deus, a fim de que nos venha a recompensa de nosso trabalho, a fim de que não sejamos como estes objetos saídos da mão do pintor, objetos inertes, a fim de que o resultado de nossa semelhança não se volte ao louvor de um outro. Com efeito, quando vês um retrato exatamente conforme ao modelo, tu não louvas o retrato, mas admiras o pintor. Assim sendo, a fim de que seja eu o objeto de admiração e não um outro, me deixou o cuidado de se tornar à semelhança de Deus. Com efeito, pela imagem possuo o ser razoável, e me torno à semelhança em me tornando cristão” (Homilias sobre a origem do homem, I). Gregório de Nazianzo explica de maneira similar a necessária participação do homem na aquisição do dom que Deus lhe faz: assim, escreve ele, “a alma possuirá o objeto de sua esperança como preço de sua virtude, e não tão somente como um dom de Deus. Eis bem aí o aportar a bondade a sua plenitude de modo que o bem seja nossa propriedade. Um bem que não é somente uma semente confiada à natureza, mas que é também o objeto de uma cultura que depende de nossa vontade” (Discursos II). [TERAPÊUTICA DAS DOENÇAS ESPIRITUAIS]