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cidade

terça-feira 30 de abril de 2024

  

Os pontos de vista macrocósmico e microcósmico são interdependentes; o fato é que a "acrópole" (como é chamada por Platão) da cidade está dentro da pessoa e literalmente no "coração" da cidade. "O que há dentro desta Cidade de Deus (brahma-pura, um homem) é um santuário que contém o Céu e a Terra, o Fogo e o Vento, o Sol e a Lua, tudo que é possuído ou não; tudo que existe aqui está dentro dele." Surge a pergunta: então que resta ou sobrevive quando esta "cidade" morre de velhice ou é destruída? cuja resposta é: sobrevive O Que não envelhece com a nossa inveteração e não morre quando "nós" morremos; Aquele é a "verdadeira Cidade de Deus"; Aquele (e de modo nenhum esta cidade perecível que consideramos o "nosso" eu) é o nosso Eu, que não envelhece e não morre nem é afetado pela "fome e sede" CU. VIII. 1.1-5, ligeiramente abreviado), "Aquele és tu" (ibid. VI.8.7); e "Em verdade, quem O vê, contempla-O e distingue-O, Ele, cujos jogos e esportes, folguedos e beatitude estão dentro daquele Eu e com aquele Eu (atman), é autônomo (svaraj, kreitton heautou, "que se autogoverna") e se movimenta à vontade em qualquer mundo; 6 mas quem conhece o que está fora d’Ele é heterônomo (anyaraj, hetton heautou, sujeitado) e não se movimenta à vontade em nenhum mundo" (ibid., VII.25.2). [Coomaraswamy]


Em primeiro lugar, devemos notar que polis no grego e civitas no latim, que designam a cidade, correspondem respectivamente, pelas suas raízes, aos dois elementos que formam a palavra purusha, ainda que, em razão de certas mudanças fonéticas de uma língua para outra, isso possa não ficar claro à primeira vista. De fato, a raiz sânscrita pri ou pur torna-se nas línguas europeias ple ou pel, de modo que pura e polis são estritamente equivalentes; essa raiz exprime, do ponto de vista qualitativo, a ideia de plenitude (sânscrito puru e purna, grego pleos, latim plenus, inglês full), e, do ponto de vista quantitativo, a de pluralidade (grego polus, latim plus, alemão viel). Uma cidade, é evidente, só existe pela reunião de uma pluralidade de indivíduos que a habitam e constituem a "população" (o termo populus tem a mesma origem), o que já poderia justificar o emprego, para designá-la, de termos tais como os que estamos tratando. Esse, porém, é o aspecto mais exterior; muito mais importante, quando se quer ir ao fundo das coisas, é a consideração da ideia de plenitude (v. pleno-vazio).

Por outro lado, a palavra latina civitas deriva da raiz kei que, nas línguas ocidentais, equivale à raiz sânscrita shf (daí shaya); seu primeiro sentido é o de repouso (no grego keisthai, estar deitado), do qual resulta o de residência, ou morada estivei, que são os atributos de uma cidade. [Guénon]


O plano tradicional da cidade é uma imagem do Zodíaco, o que nos permite encontrar de imediato a correspondência dos pontos cardeais com as estações. De fato, como já explicamos em outra parte, o solstício de inverno corresponde ao norte; o equinócio da primavera, ao leste; o solstício de verão, ao sul; e o equinócio do outono, ao oeste. Na divisão em "quarteirões" cada um deles deverá naturalmente corresponder ao conjunto de três dentre os doze signos zodiacais, constituído por um dos signos solsticiais ou equinociais e por dois signos adjacentes a este. Haverá, portanto, três signos em cada "quadrante", se a forma da muralha for circular, ou sobre cada lado, se for quadrangular. Esta última forma, aliás, é a mais particularmente apropriada para uma cidade, pois exprime a ideia de estabilidade que convém a um estabelecimento fixo e permanente, e também porque não se trata aí do próprio zodíaco celeste, mas apenas de sua imagem e de uma espécie de projeção terrestre. [Guénon]

Ver online : Ananda Coomaraswamy