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simbolismo solsticial

terça-feira 30 de abril de 2024

  

Homero  , segundo Porfírio, designa apenas as duas portas situadas uma ao norte e outra ao sul (v. portas solsticiais), sem indicar os signos zodiacais correspondentes. Mas, visto que Homero indica com precisão que a porta "divina" (v. deva-loka) é a do sul, torna-se necessário concluir que esta é a que corresponde para ele a Capricórnio, do mesmo modo que para Numênio, ou seja, ele também situa essas portas de acordo com sua situação no céu, o que parece portanto ter sido, de modo geral, o ponto de vista dominante em toda a tradição grega, mesmo antes do pitagorismo. Depois, a saída das almas do "cosmo" e o seu "retorno a Deus" são exatamente uma única e mesma coisa, de modo que o sr. Jérome Carcopino (v. zodíaco pitagórico) atribui, aparentemente sem o perceber, o mesmo papel às duas portas. Homero diz, muito pelo contrário, que é pela porta do norte que se efetua a "descida", isto é, a entrada na "caverna cósmica" (v. antro das Ninfas), ou, em outros termos, no mundo da geração ou da manifestação individual. Quanto à porta do sul, é a saída do "cosmo" e, por consequência, através dela se efetua a "subida" dos seres em via de libertação. Homero não diz de forma expressa que se pode também descer por essa porta; mas isso não é necessário porque, designando-a como a "entrada dos deuses", indica de forma suficiente que são "descidas" excepcionais que se efetuam por aí.

Enfim, seja a situação das duas portas consideradas em relação ao percurso do Sol no céu, como na tradição grega, ou em relação às estações no ciclo anual terrestre, como na tradição hindu, Câncer é sempre a "porta dos homens" e Capricórnio a "porta dos deuses". Não pode haver qualquer variação a esse respeito e, de fato, não há; trata-se apenas de incompreensão dos "eruditos" modernos que acreditam descobrir, entre os diversos intérpretes das doutrinas tradicionais, divergências e contradições que não existem de modo algum. [Guénon]

Com relação aos dois São João e seu simbolismo solsticial (v. solstícios), é também interessante considerar um símbolo que parece ser peculiar à maçonaria anglo-saxônica, ou que pelo menos só foi conservado por ela: trata-se do círculo com um ponto no centro, compreendido entre duas tangentes paralelas. Essas tangentes são tidas por representar os dois São João. O círculo é aqui, de fato, a figura do ciclo anual e sua significação solar torna-se mais clara pela presença do ponto central, pois essa figura é também o signo astrológico do Sol. E as duas retas paralelas são tangentes ao círculo nos dois pontos solsticiais, marcando assim seu caráter de "pontos-limites", pois tais pontos são como que o limite que o Sol não pode jamais ultrapassar em seu percurso. É por essas linhas corresponderem assim aos dois solstícios que se pode também dizer que representam os dois São João. Existe contudo nessa figuração uma anomalia pelo menos aparente: o diâmetro solsticial do ciclo anual, como explicamos em outras ocasiões, deve ser entendido como relativamente vertical em comparação com o diâmetro equinocial, e é aliás apenas desse modo que as duas metades do ciclo, que vão de um solstício ao outro, podem na realidade aparecer como respectivamente ascendente è descendente, pois então os pontos solsticiais permanecerão como o ponto mais alto e o mais baixo do círculo. Nessas condições, as tangentes às extremidades do diâmetro solsticial, portanto perpendiculares a este último, serão necessariamente horizontais. No entanto, no símbolo em questão, as duas tangentes estão ao contrário figuradas como verticais; ocorre portanto nesse caso especial uma certa modificação no simbolismo geral do ciclo anual, mas que se explica de modo muito simples. Trata-se com toda evidência de uma assimilação estabelecida entre essas duas linhas paralelas e as duas colunas [maçônicas]. Além disso, estas últimas, que naturalmente só podem ser verticais, em virtude de se encontrarem situadas ao norte e ao sul, possuem uma relação efetiva com o simbolismo solsticial, ao menos de um certo ponto de vista. [Guénon]


Ver online : René Guénon