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quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Separação (chôrismos)

I. Na historiografia da filosofia mais recente, especialmente de língua alemã, a palavra “chôrismos” é usada com frequência para determinar a relação entre ideias e coisas individuais; com isso se assinala a linha de demarcação que separa (chôrizein = separar) o reino das ideias puramente espirituais (kosmos noêtos) do reino das coisas sensíveis materiais (kosmos aisthêtos). No entanto, aqui devemos levar em conta que em nenhuma passagem que nos foi originalmente transmitida Platão   fala de uma chôrismos ou de kosmos noêtos/aisthêtos nesse sentido. Ele emprega a palavra chôrismos apenas uma vez, e não com referência às ideias, mas em sua teoria da alma, ao definir a morte como “libertação e separação da alma em relação ao corpo” (Féd.   67d); e o verbo correspondente chôrizein aparece no mesmo contexto, quando Platão diz que a tarefa mais urgente do filósofo é “separar a alma do corpo tanto quanto possível” (Féd. 67c-d — quanto às implicações da relação corpo-alma ver DUALISMO). Aristóteles   será o primeiro a fazer uso dessa família de palavras em seu relato crítico da teoria platônica das ideias; contudo, ele também usa primariamente o verbo chôrizein e o advérbio chôris (separadamente), mas não chôrismos como termo conceitual técnico. Segundo Aristóteles, a doutrina de Platão é determinada pelo fato de ela estabelecer separação entre as determinações essenciais gerais e as coisas e designar as primeiras como ideias, que existiríam separadamente ao lado das coisas individuais (Metafísica 1039a, 1040b-1041a, 1078b-1079a, 1086a-1086b). De acordo com a visão própria de Aristóteles, nem a essência geral, a que ele chama “forma”, nem a alma como um todo são separáveis da corporeidade material (Física 193b; 217a; De anima 413a, 413b). Aristóteles nega um ser separado da matéria até mesmo aos objetos matemáticos, mas ele admite que podem ser vistos na matemática como independentes da matéria (Metafísica 1026a, 1080a, 1085b, 1093b). Apenas o “primeiro movente imóvel” (o conceito filosófico de Deus de Aristóteles) é pensado por ele como “substância separada” das coisas individuais (Metafísica 1073a).

A visão aristotélica crítica das ideias de Platão como substâncias separadas foi também particularmente determinante para a concepção da teoria platônica das ideias na Idade Média. Assim, Tomás de Aquino  , por exemplo, também entendia as ideias como “species separatas per se subsistentes” (“espécies separadas, subsistentes por si mesmas”; Suma teológica I, 6,4). Mas a palavra chôrismos se tornou termo técnico apenas no âmbito da representação da teoria platônica das ideias no início do século XX (Natorp, Cassirer  , E. Hoffmann  ; cf. a respeito as provas em Meinhardt 1971). Aí, o emprego do conceito se apoiou sobretudo na distinção — corrente na tradição platônica e considerada central para a teoria das ideias — entre mundo inteligível e mundo sensível (kosmos noêtos/kosmos aisthêtos). Mas o próprio Platão ainda não usa esse par conceitual com as mesmas palavras (ele fala apenas de noêto topos, Rep.   517b), o qual aparecerá somente no médio-platonismo (cf. Alcínoo  , Didaskalikos   4, 8, 1). [SHÄFER]