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quatro propriedades

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Perenialistas
Titus Burckhardt  : Burckhardt Alquimia   - A ALQUIMIA

Com vista a poderem captar, nas transmutações materiais, a expressão de uma lei geral, os alquimistas reportam-se, por um lado, aos quatro elementos, e, por outro, às quatro propriedades (quente, frio, úmido e seco), as quais, na sua qualidade de funções da natureza, surgem face aos elementos enquanto factores ativos. Já Aristóteles, no seu tempo, traçara o esquema de uma tal relação.

Consequentemente, as quatro propriedades naturais são agentes indutores que, pelo menos na aparência, transformam um dado elemento num outro qualquer: assim, por efeito do calor, a água vem a ser absorvida pelo ar, isto enquanto o frio, ao convertê-la em gelo, acaba por lhe conferir uma solidez semelhante à da terra. Na realidade, porém, a verdade é que os elementos não se transformam uns nos outros, aquilo que sucede prende-se antes com o facto de a matéria corporal, por efeito do calor, do frio, da umidade ou da estiagem, vir a passar por todos os estados elementares. Com efeito, as verdadeiras forças indutoras são o calor e o frio, além de que, dado esta última propriedade poder ser considerada como uma mera negação da primeira, o calor vem a revelar-se por si só suficiente para completar o ciclo. Deste modo, a ação do fogo é quanto basta para levar a matéria contida no recipiente a passar sucessivamente do estado líquido ao gasoso, deste ao ígneo e, finalmente, ao sólido, reproduzindo assim, em pequena escala, a obra da Natureza.

O esquema esboçado pode aplicar-se igualmente ao mundo interior, substituindo o calor, o frio, a umidade e a estiagem pelas propriedades de expansão, contração, dissolução e solidificação, a que, mais adiante, voltaremos de novo a referir-nos. Isto porque, no restante à correspondência existente entre as propriedades da alma e os quatro elementos, trata-se de uma questão a que já antes tivemos ocasião de aludir.

O valor especulativo desta alquimia - no sentido primitivo da palavra speculatio, ou seja, espelho de verdades espirituais - reside no facto de a observação de um caso visível poder vir a interligar-se com os grandes processos da Natureza. A intromissão nos invisíveis e tortuosos recessos de cada matéria, objectivo que a Química moderna impôs a si mesma, em nada contribui para levar esta tarefa a bom termo. Muito pelo contrário, pois tende a levar a experiências muito distantes de um tal objectivo, experiências que não fornecem praticamente qualquer contributo com vista ao clarificar da visão de conjunto material e espiritual.

O verdadeiro significado da contemplação hermética da natureza está nas seguintes palavras de Ibn Arabi   - Muhyi-d-Dín Ibn ‘Arabi: «O mundo da natureza consiste em múltiplas formas reflectidas num único espelho. Não, melhor dizendo, é antes uma única forma reflectida em múltiplos espelhos.» Este paradoxo vem a ser a chave do sentido espiritual dos fenômenos físicos.

Não é por acaso que o esquema dos elementos e das propriedades naturais ou modos de operar, atrás indicado, se assemelha à roda cósmica, cujo aro é a órbita solar e cujos raios são os pontos cardeais - quatro pontos cardeais.

No campo alquímico, o campo da «roda» é a quinta-essência. Entende-se por este nome tanto o polo espiritual dos quatro elementos quanto a sua substância básica comum, o éter, no qual os quatro se acham plenamente presentes. A fim de reconquistar este centro, os componentes opostos dos elementos devem reconciliar-se entre si: a água deve tornar-se ígnea, o fogo, líquido, a terra, leve, o ar, sólido. Contudo, neste ponto já estamos a sair do âmbito dos fenômenos físicos e a penetrar no campo da alquimia interior.

Sinésio   escreve: «Assim, torna-se, pois, claro, aquilo que os filósofos pretendiam dizer quando descrevem a produção da nossa pedra enquanto modificação da natureza e do ciclo dos elementos. Porque, como facilmente podes ver, acontece que, por meio da sua incorporação, o úmido torna-se seco, o volátil solidifica-se, o espiritual passa a corpóreo, o líquido cristaliza, a água torna-se fogo e o ar, terra, de tal forma que os quatro elementos vêm assim a despojar-se da sua própria natureza a fim de assumir a do seu contrário...» E, mais adiante: «Assim como no princípio reinou o uno, também nesta obra tudo procede do uno e ao uno retorna. E é isto que a inversão dos elementos vem a significar...»