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hypostasis

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

gr. ὑποστάσις, hypóstasis: que está sob, daí, substância; ser real, frequentemente em oposição a aparências; hipóstase. Brisson   às vezes traduz por existência. Para Plotino  , toda verdadeira substância, mas a princípio aquelas do Uno, da Inteligência e da Alma designadas como principais (archikai) no Tratado 10. Nos textos tardios refere-se a substância ou subsistência da sabedoria no humano adormecido ou inconsciente (Tratado 46).


Ficin   rend ce mot par subsidens actus (acte substantiel). [Bouillet  ]
As três hipóstases ou realidades subsistentes [1] - o Uno, o Noûs e a Alma do mundo - constituem o universo inteligível ou imaterial do licopolitano e representam um dos pontos pinaculares do pensamento filosófico de Plotino.

De imediato, surge a pergunta: por que são exatamente três hipóstases? Em duas respostas bifurca-se a questão. Em primeiro lugar, como intérprete e exegeta de Platão  , Plotino encontrou seus três princípios divinos no Parmênides   do fundador da Academia — prôton hén, hèn pollá, hèn kaí pollá - e nos três reis da Segunda Carta.

Em segundo lugar, essa tríade constitui uma reação aos gnósticos  , máxime a Valentiniano, que viveu no século II de nossa era. É tido como o mais destacado gnóstico dentre as numerosas seitas em que se pulverizara o gnosticismo. Sem razão alguma, Valentiniano multiplicou os princípios divinos, imaginando serem trinta, denominados éons, distribuídos em zonas escalonadas e procedentes umas das outras por emanação [2]. [ULLMANN  :17-18]


É.-H. Wéber [3] explica que “os medievais dispõem de muitos outros termos ou noções para designar a pessoa singular”: “Boécio   lhes transmite também o termo hypostasis, decalque do grego ὑποστάσις, sinônimo, desde a idade patrística, de πρόσωπον, mas “a tradição lhes oferece ainda suppositum, o supósito, e individuum, indivíduo, sujeito singular”. Na perspectiva de Weber  , “hipóstase”, “supósito”, “indivíduo” pertencem ao vocabulário da pessoa: o próprio Boécio assinala que sua definição da pessoa (naturae rationabilis individua substantia) se limita a “traduzir em latim o que os gregos chamam de hypostasis”. Será que se deve compreender que substantia e hypostasis – em outras palavras: suppositum – são noções que designam a pessoa singular ou, ao contrário, que uma mesma noção, a da pessoa como sujeito pensante subsistente (pensante porque razoável, isto é, dotado de logos, o que quer dizer ainda: falante) se constrói aqui no jogo das sinonímias? Foi assim que muitos modernos compreenderam a gênese da noção de pessoa, e foi com isso que alguns decidiram romper. [LiberaAS  :106]
Heidegger   não se interessa muito pela hipóstase. Estas poucas linhas de Questões II explicam sem dúvida por que: ver “Ce qu’est et comment se determine la ΦΥΣΙΣ”, p. 211: “[...] ser quer dizer alguma coisa como ‘se erguer em si mesmo’; ora, erguer’ é [...] o contrário de ‘se estender’. Seguramente, se nos contentamos em olhar cada um dos dois a partir dele mesmo; se, ao contrário, apreendemos ‘se erguer’ e ‘se estender’ naquilo em que eles convêm, então cada um só se torna visível a partir de sua contrapartida. Somente o que se ergue pode escolher depois estar—estendido; e somente o que se estende pode ser levantado e depois se erguer. Se os gregos apreendem o ser ora como se-erguer-em-si-mesmo, ὑποστάσις-substantía, ora como se estender-para-a-frente, ὑποκείμεvoν-subjectum, os dois igualmente têm peso, porque nos dois casos seu olhar examina o Uno e Único: o vir a partir de si mesmo a ser, a entrada na presença”. Como se vê, o par (emparelhamento) heideggeriano hypostasis-hypokeimenon não faz senão modular a terceira acepção do verbo ὑπόκειμαι indicada pela filologia: ser colocado sob os olhos ou sob a mão, ser proposto” — que conduz diretamente à interpretação do subiectum como Vorhandenes. Sobre as cinco acepções de ὑπόκειμαι, entre as quais “estar deitado ou colocado abaixo, servir de base, de fundamento” (I) e “ser colocado como fundamento, ser admitido como princípio” (II), cf. A. Bailly, Dictionnaire grec-français, pp. 2002-2003. [LiberaAS:113]
LÉXICO: hypostasis; hipóstase. V. existência

Observações

[1Em Plotino, hypóstasis pode significar a) fundamento, suporte, substância; b) algo que existe à parte; c) pessoa. Para Plotino, as três hipóstases são deuses felizes: "Esta é a vida impassível e feliz dos deuses" (En. I, 8, 2, 26). A sinonímia de hipóstases e deuses é endossada por DE CAPITANI, Franco, II problema dei male nell’ VIII trattato della prima Enneade di Plotino. In: ANGELLI. Franco (org.), Sapienza Antica: studi in onore di Domenico Pesce (Parma, 1985), p. 79. E Plotino completa o pensamento: "Ali, em nenhuma parte, existe o mal e, se a realidade ficasse restrita a esse lugar, não existiria o mal (...)" (En. I, 8, 2, 26-27). "So gibt es diese drei Wesenheiten oder Hypostasen: Gott, Geist und Seele, die zu einer Einheit verbunden sind, da sie alie ais göttlich und wesenhaft bezeichnet werden müssen, die aber ein sehr verschiedener Ausdruck der göttlichen Einheit sind" (MEHLIS, Georg, Plotin (Stuttgart, 1924), p. 59-60).

[2Cf. CHARRUE, Jean-Michel, Plotin lecteur de Platon, 3. ed. (Paris, 1993), p. 45-58, com ampla e clara exposição do assunto em tela; etiam ARNOU, René, Le désir de Dieu dans la philosophie de Plotin, 2. ed. (Rome, 1967), p. 122-123.

[3Cf. É.-H. Wéber, La Personne humaine au XIIIe siède, p. 496.