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christophoros

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Perenialistas
Jacques Bonnet
Excertos de "A Travessia das Águas" publicado em Études Traditionnelles   479, 1983
Suporte de uma divindade, gr. "christophoros". São Cristóvão partilha este atributo com outros santos: primeiro aqueles que efetivamente portaram Jesus menino: Maria em seu seio, José em seus joelhos, adotoando-o e em seus braços. Há também o santo popular que é Antônio de Pádua, que diz a lenda viu o menino Jesus surgir do livro santo que tinha nas mãos: símbolo da divindade nascendo do estudo da Escritura. Portador de Deus era o Anjo do Senhor ou Anjo de YHWH que a tradição judaica assimila a Metatron, paredro da Shekina. Os anjos cujos nomes são feitos atributos divinos são portadores da Verbo - Palavra vinda do alto e da mesma forma os mensageiros humanos, tal como Elias denominado "santo anjo" pela Didascalia (XIV) e da qual o profeta Malaquias disse: "Eis que vos envio Elias" (3,23). Francisco de Assis   chega a dizer: "Somos as mães de Jesus quando nós o portamos em nosso coração e em nosso corpo... e que o engendramos por nossas boas ações que devem ser uma luz para o outro" (Carta a todos os fieis, 53).

Mas é um suporte que se desloca, símbolo da divinização (theosis) que transforma o ser humano o fazendo passar do individual ao universal (no curso de um êxtase ou no momento da morte). Esta passagem é representada por um movimento ao longo de um eixo vibrante. No quadro da tradição judeu-cristã, é a subida e descida dos anjos na escada de Jacó, é a elevação da serpente de bronze sobre um mastro porta-bandeira (símbolo axial). O eixo pode ser representado por uma montanha (Sinai, Tabor, Monte das Oliveiras), por uma árvore (Árvore de Vida), uma ponte (arco-iris) e aquilo que se associa a nosso assunto, o rio ele mesmo.

Ainda essa pode ser visada sob três pontos de vista, como distingue René Guénon: pode-se subir a corrente até a fonte, descê-la até o oceano ou atravessar o rio de uma margem à outra por mergulho e subida; é o simbolismo do Batismo - batismo. Este último caso é evidentemente aquele ao qual se relaciona a lenda de São Cristóvão, mas deve-se notar o traço comum as estas diferentes versões. A descida e a subida dos rios não se faz em linha reta, mas seguindo os meandros do rio, meandros assimilados, na Antiguidade a uma dança, tal qual a "dança das gruas" ou a cabeleira balançando da "deusa de belas tranças" (Bonnet, Artémis d’Ephèse et la Légende des Sept Dormants). E da mesma forma a travessia de um rio se faz com balanços seguindo os impulsos da corrente. Esta vibração, signo de uma "água viva", é como as danças extáticas, como os balanços do corpo dos sacerdotes judeus, como as respostas de um coro ao outro nos Liturgia - ofícios cristãos, a manifestação de uma démarche contemplativa, de um jubilação espiritual: aquela expressa pelo Salmo   de Páscoa: "Que tiveste tu, ó mar, que fugiste, e tu, ó Jordão, que voltaste para trás? Montes, que saltastes como carneiros, e outeiros, como cordeiros? Treme, terra, na presença do Senhor, na presença do Deus de Jacó. O qual converteu o rochedo em lago de águas, e o seixo em fonte de água." (Sl 114:5-8)

Cristóvão recebeu por função fazer passar os viajantes de uma margem a outra através da corrente perigosa. Ele se ajuda para tal de um cajado imenso como ele, cajado que brota, logo cheio de seiva. Para interpretar este símbolo convém pesquisar paralelos, que podem ser encontrados na tradição judeu-cristã e depois indo-ariana.