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SER-EM

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

VIDE: MORADA; CASA; LUGAR; FILHO DE DEUS
FILOSOFIA
Heidegger  : [http://ereignis.hyperlogos.info/ser-em">SER-EM

Stanislas Breton  : LIBRES COMMENTAIRES

Entre os limites opostos de um mesmo fluxo semântico se situa o primeiro estudo lexical, consagrado por Aristóteles (Física IV 3 210a, 14s), à expressão «ser-em» que figurava já em número de textos platônicos ou pré-socráticos  :

Ser em um outro (...) como o dedo (...) na mão e, em geral, a parte no todo (e) (...) como o todo nas partes; como o homem no animal e em geral a espécie no gênero (e o gênero na espécie); assim como a saúde nas coisas quentes e frias, e em geral como a forma na matéria; assim como os afazeres gregos nas mãos do rei de Macedônia e em geral como no primeiro motor; assim como no bem e em geral no fim, quer dizer isto em vistas do que se age. Mas o sentido o mais próprio, é quando diz-se em um vaso e em geral em um lugar.

O filósofo cuidou de abrir tão amplamente que possível seu guarda-sol. Obtém-se assim uma série de variantes sem ordem precisa: «o dedo na mão, a parte no todo»; inclusão lógica; imanência qualitativa da propriedade ou da forma; preexistência causal ou teleológica. Seu conjunto aí não está, se diria, senão para preparar a emergência do sentido mais próprio e mais banal: a água no vaso, que o leitor completará imediatamente por um aditivo menos prosaico: o peixe na água.

Quando, fechando o leque, faz-se a conta das relações que enumera o texto aristotélico para fixar o ponto que comanda e conclui o percurso, o movimento do sentido, em suas etapas sucessivas, não pode não evocar o célebre dito sobre as múltiplas maneiras das quais o ser «se fala» na linguagem erudita ou cotidiana. O «ser-em» participa desta flexibilidade, a tal ponto que se pode perguntar se ele não beneficia, ele também, de uma amplitude transcendental; com o risco, é verdade, de uma sinonímia contestável entre as duas expressões.

Esta seca nomenclatura abre ao sonho ou ao pensamento mais de uma avenida. Se fica surpreso que Aristóteles não tenha retomado do Parmênides   a locução «ser-em-si», chamada a tão grande fortuna na história da filosofia. A começar, bem entendido, pela substância, tão mal servida por sua etimologia (o «sub-jacente»), então que se trate menos de suporte que de uma densidade e de uma textura, de um ato de ser, heroico ou desesperado (os dois talvez), cuja causa sui permanecerá, ao longo dos séculos, a paradoxal testemunha. Se o filósofo, que não ignorava a expressão platônica, não fez nenhum caso, não é, assim parece, nem por ignorância nem por esquecimento. É simplesmente porque, segundo ele, o «ser-em» demanda um complemento de alteridade: «ser-em-um-outro». O «em-si» ele mesmo marca assim, no interior do ser, uma espécie de distância que deveria atravessar para se juntar e se realizar em uma hiperbólica coincidência. O extremo-oriente tão preocupado do «si» e do «em-si» foi disso perfeitamente consciente, como nos significam a paciência e sutilidade na série de exercícios que conduzem à iluminação.

Martin Heidegger: [http://ereignis.hyperlogos.info/spip.php?mot319">SER-EM

Segundo Hervé Pasqua, este parágrafo aborda o Dasein a partir de um existencial, o ser-no-mundo (In der-Welt-Sein), onde os traços expressam que se trata de um fenômeno unitário, de um todo: «A expressão complexa "ser-no-mundo" indica em sua formação mesmo que é um fenômeno unitário que é visado por aí. Este dado primário deve ser percebido em seu todo». Aqui, Heidegger estabelece uma ligação entre unidade e totalidade. O ser do Dasein existe em circuito fechado. Ele constitui um todo onde se mantêm juntos os diferentes momentos estruturais que compõem o Dasein. Isso explica que o fato que seja «irredutível a componentes isoláveis não exclui nele uma pluralidade de momentos estruturais constitutivos». A analítica poderá portanto visualizar o Dasein segundo um triplo ponto de vista em mantendo a totalidade do fenômeno: o «no-mundo», o «ente», o «ser-em». A consideração de cada um destes momentos não pode ir sem aquela dos outros.

Quando dizemos ser-no-mundo que entendemos por «ser-em»? Queremos dizer que o ser é no mundo como a água no vaso, a roupa no armário? Neste caso a expressão «in» exprimiria uma relação espacial de conteúdo e continente. Falaríamos de entes tendo o caráter de ser-sob-a-mão, coisas surgindo no interior do mundo. Mas teríamos uma linguagem «categorial» sobre os modos de ser de entes que não são o Dasein! Ora, queremos falar do ser do Dasein, é de uma análise «existencial» que se trata. O «ser-em» não poderia portanto designar a inclusão no espaço de um ente qualquer. A etimologia da palavra in pode nos ajudar a apreender seu sentido existencial. «In», diz Heidegger, vem de «innan» que significa habitar, morar; «in» quer dizer: sou habituado a, familiar de, tenho costume de; a palavra tem o sentido do latim colo, quer dizer habito, diligo. Este sentido junta-se àquele de «bin» ele mesmo vizinho de bei (junto de). Ser, então, é habitar, morar junto de um mundo familiar. Quando, portanto, empregamos a expressão ser-no-mundo entendemos por aí que o mundo não se junta de fora ao Dasein, como um ente a um outro ente. O mundo faz parte do ser do Dasein, tem com ele uma relação essencial não acidental: «O ser-em... é a expressão existencial formal que designa o ser do Dasein enquanto este possui por constituição essencial o ser-no-mundo».