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René Guénon

terça-feira 30 de abril de 2024

  

Tradicionalista do século XX, que desbravou com um caminho em busca da Tradição Primordial, e as tradições que dela floresceram ao longo da história da humanidade. Seus temas de investigação principais, além da Tradição, foram a metafísica, a iniciação, o simbolismo, e algumas tradições que ainda guardavam remanescentes desta Tradição Primordial, tal como a Tradição Vedanta e a Taoista.

Nos legou uma imensa obra, que prima pelo rigor de suas colocações em qualquer tema tratado, o que dificulta o acesso do público em geral. Mas é a referência maior da chamada corrente "perenialista", que teve outros expoentes como Frithjof Schuon  , Titus Burckhardt  , Martin Lings  , Marco Pallis   e outros.

A Wikipédia oferece boas apresentações do homem e seu pensamento, em suas versões em inglês e em francês.


Esse otimismo ingênuo pode ser - e tem, de fato, sido - criticado sob muitos pontos de vista. Mais significativa que o racionalismo, por exemplo, que vê no reflorescimento do ocultismo apenas uma forma de religião "pop", é a rejeição radical por parte do representante principal do esoterismo moderno, René Guénon. Nascido de uma família católica, Guénon interessou-se cedo pelo ocultismo; contudo, após ter sido iniciado em várias sociedades secretas parisienses, abandonou-as e resolveu seguir a tradição oriental. Converteu-se ao islamismo, em 1912, e, em 1930, partiu para o Egito, onde viveu o resto de seus dias, vindo a morrer em 1951.40 Se pudesse presenciar a explosão ocultista contemporânea, René Guénon teria escrito uma crítica bastante mais devastadora do que a contida em sua obra Le Théosophisme: Histoire d’une pseudo-religion (1921). Nessa obra, de ampla erudição e estilo brilhante, Guénon desmascarou todos os grupos chamados ocultistas ou esotéricos, desde Papus e a Sociedade Teosófica de Mme. Blavatsky até os vários redutos neo-espiritualistas ou pseudo-rosacruzes. Considerando a si mesmo como um real iniciado e porta-voz de uma tradição esotérica verdadeira, Guénon contestou não somente a autenticidade do chamado ocultismo ocidental moderno, mas também a capacidade de qualquer indivíduo ocidental fazer parte de uma organização esotérica válida. Segundo ele, apenas um ramo da maçonaria havia conservado segmentos de um sistema tradicional; mas ele acrescentava que a maior parte dos membros dessas lojas desconhecia essa herança cultural. Em consequência, Guénon jamais cessou de defender em seus livros e artigos a tese de que apenas no Oriente permaneciam vivas as autênticas tradições esotéricas. Além disso, Guénon acreditava que qualquer tentativa de práticas ocultas pelo homem moderno representava um sério risco mental e mesmo físico.

É obviamente impossível resumir aqui a doutrina particular de Guénon. Com relação ao nosso tema de discussão, basta dizer que ele rejeitava definitivamente o otimismo geral e a esperança numa renovatio pessoal e cósmica, que parecem caracterizar o reflorescimento ocultista. Já em seus livros Orient et Ocident e La Crise du Monde Moderne, publicados em 1924 e 1927, Guénon proclamava a decadência irremediável do mundo moderno e a sua inevitável destruição. Fazendo uso de termos da tradição hindu, ele afirmava estarmos nos aproximando rapidamente da fase final da Kali-yuga, o fim do ciclo cósmico. Segundo Guénon, esse processo é irreversível. Em consequência, não é possível haver uma esperança numa renovatio cósmica ou social. Um novo ciclo terá início somente após a destruição completa do atual.

Com relação à salvação individual, Guénon acreditava haver, em princípio, a possibilidade de contato com um dos centros iniciatórios sobreviventes do Oriente, mas que essas chances de contato eram muito limitadas.

O mais importante - e em contradição com as ideias implícitas nos movimentos ocultistas recentes - é o fato de Guénon negar a condição privilegiada da personalidade humana. Podemos citar literalmente sua afirmação de que o homem representa apenas uma manifestação transitória e contingente do ser verdadeiro... A individualidade humana... não deve ter uma posição privilegiada, "fora de série", na hierarquia indefinida dos estados do ser total; o homem ocupa nela uma posição que não é mais importante que a dos outros estados.

Durante sua vida, René Guénon foi um autor bastante impopular. Tinha fanáticos admiradores, mas seu número era reduzido. Somente a partir de sua morte, e especialmente a partir de dez ou doze anos atrás, é que os seus livros começaram a ser reeditados e traduzidos, divulgando suas ideias. Trata-se de um fenômeno bastante curioso, porque, como eu já disse, a visão do mundo apresentada por Guénon é pessimista e anuncia um fim catastrófico iminente. É verdade que alguns de seus discípulos não dão muita importância à ideia do fim inevitável do atual ciclo cósmico, tentando, em vez disso, desenvolver sua concepção do que a tradição esotérica representava para culturas específicas. Posso também acrescentar que a maior parte dos seus discípulos é composta de adeptos do Islamismo ou estudiosos da tradição indo-tibetana.

Presenciamos, dessa forma, uma situação bastante paradoxal: de um lado, temos uma explosão ocultista, um tipo de religião "pop", característica da cultura jovem americana, segundo a qual haverá a grande renovação da era pós-Aquarius. Por outro lado, há uma descoberta e aceitação mais modesta, porém gradualmente crescente, do esoterismo tradicional, como o formulado, por exemplo, por René Guénon, que nega a possibilidade de haver uma esperança otimista de uma renovação cósmica e histórica sem uma destruição prévia do mundo moderno. Essas duas tendências se opõem frontalmente. Há alguns indícios de um esforço para se atenuar a visão pessimista da doutrina de Guénon, mas é cedo para julgarmos seus resultados. [Eliade  ]


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