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República IX

  

A descrição do ponto mais baixo a que chegou a degradação humana põe de novo a questão inicial da felicidade e virtude de cada uma destas espécies, em relação com as qualidades que predominam na cidade [1], com a conclusão de que o tirano, escravo dos mais sórdidos prazeres e apetites, é o que mais se opõe ao filósofo-rei, que tem acesso aos prazeres puros e reais, e de que é a justiça, e não a injustiça, que traz vantagens a quem a pratica.

Ao terminar o Livro IX, Gláucon reconhece que a cidade que acabam de delinear é utópica. Mas, objeta Sócrates  , fica o paradigma no céu, para quem quiser contemplá-lo e estabelecer por ele o seu teor de vida. Quer a cidade exista, quer não, é só a esse modelo que o filósofo seguirá. [Rocha Pereira]

Traduções: Chambry; Jowett


Resumo analítico de Francis Wolff  , no livro de Julia Annas, Introduction à la République   de Platon   (PUF, 1981)

A CORRUPÇÃO DO ESTADO IDEAL E SUAS FORMAS (cont. de República VIII)

  • A tirania (cont.)
    • O homem tirânico é dominado pelo desejos desregrados (aqueles que se manifestam no sono, a loucura ou sob o império da bebida). Ele é ele mesmo tiranizado por seus desejos eróticos e extermina tudo o que lhe faz obstáculo; a vida criminal do homem tirânico (571a-576c)

QUEM, DO HOMEM JUSTO OU INJUSTO (DO FILÓSOFO OU DO TIRANO) É O MAIS FELIZ?

  • Primeira prova, política: se o indivíduo se assemelha a um cidade (analogia entre a estrutura da alma e aquela do Estado), o homem tirânico é ele mesmo tiranizado por seus desejos e seus medos, que são mestres dele; ele é o menos livre (ele está sob o império de suas paixões), ele é o menos rico (ninguém é rico cujos desejos não podem ser jamais satisfeitos), ele é o que tem menos segurança (vive no medo), então, ele é o mais infeliz. (576c-580c)
  • Segunda prova, psicológica: a comparar as duas vias a respeito do prazer, o melhor juiz é o filósofo, único a ter feito a experiência do prazeres particulares às três partes da alma, que têm cada uma sues desejos próprios (580d-583a)
  • Terceira prova, filosófica: os prazeres os mais sensuais são impuros, pois eles são ilusoriamente exagerados pelo sofrimento dos quais procedem; as satisfações intelectuais são puras e também mais reais (na proporção da realidades de seus objetos). O tirano, acorrentado aos desejos mais baixos, é o mais afastado dos prazeres puros e reais acessíveis unicamente ao filósofo. (583b-586b)

Conclusão (e resposta final à afirmação inicial de Glaucon (360e), segundo a qual a injustiça é vantajosa, se ela não é punida): O homem, forma única que recobre três figuras, aquela de um monstro de cabeças múltiplas, aquela de um leão e de um homem; a honestidade submete a parte bestial da parte humana (ou divina) e a desonestidade submete a parte doce à parte selvagem; o sábio realiza nele a Cidade ideal. (586c-592b)


[1IX. 577c.