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Perenialistas Sagrado

sexta-feira 29 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

PERENIALISTAS — SAGRADO

René Guénon:
A verdade é que não existe, na realidade, um "domínio profano" que se oporia de certo modo ao "domínio sagrado"; existe somente um "ponto de vista profano", que é propriamente o ponto de vista da ignorância. A CRISE DO MUNDO MODERNO
Ora, parece que não existe no Ocidente senão uma única organização que possui caráter tradicional e que conserva uma doutrina susceptível de fornecer uma base apropriada ao trabalho em questão: é a Igreja católica. Bastaria restituir à doutrina desta, sem nada modificar da forma religiosa segundo a qual ela se apresenta no exterior, o sentido sagrado que ela tem realmente em si mesma, mas do qual os seus atuais representantes parecem já não ter consciência, tanto quanto não a têm da sua unidade essencial com as outras formas tradicionais; as duas coisas, aliás, são inseparáveis uma da outra. Isso seria a realização do Catolicismo no verdadeiro sentido da palavra, que etimologicamente exprime a ideia de "universalidade", coisa que esquecem um pouco aqueles que desejariam fazer dela a denominação exclusiva de uma forma especial e puramente ocidental, sem qualquer laço efetivo com as outras tradições. A CRISE DO MUNDO MODERNO
Devemos fazer primeiro uma consideração importante, e que reduz já muito o alcance desta questão: é que, se alguém se remeter às origens, esta questão não teria que ser exposta, posto que a distinção entre «sagrado» e «profano» que implica era então inexistente. De fato, como o explicamos frequentemente, não há propriamente um domínio profano, ao qual uma certa ordem de coisas pertenceria por sua própria natureza; na realidade, há somente um ponto de vista profano, que não é mais que a consequência e o produto de uma certa degeneração, que resulta da marcha descendente do ciclo humano e de seu afastamento gradual do estado primordial. Por conseguinte, anteriormente a esta degeneração, quer dizer, em suma, no estado normal da humanidade ainda não caída, pode-se dizer que tudo tinha verdadeiramente um caráter tradicional, porque tudo era considerado em sua dependência essencial a respeito dos princípios e conforme com estes, de tal sorte que uma atividade profana, quer dizer, separada destes mesmos princípios e ignorando-os, tivesse sido algo completamente inconcebível, inclusive para o que depende do que se conveio chamar, hoje em dia, de «a vida ordinária» ou, melhor, para o que se podia corresponder com ela, na época, mas que aparecia sob um aspecto muito diferente do que nossos contemporâneos entendem por isso , e com maior razão no que concerne às ciências, às artes e aos ofícios, para os quais este caráter tradicional se manteve integralmente até muito mais tarde e que se encontra ainda em toda civilização de tipo normal, de tal forma que se poderia dizer que sua concepção profana, além da exceção que há talvez lugar a se fazer, até um certo ponto, para a antiguidade chamada «clássica», é exclusivamente própria apenas da civilização moderna, que não representa, ela mesma, no fundo, mais que o último grau da degeneração, da qual acabamos de falar. APRECIAÇÕES SOBRE A INICIAÇÃO

Frithjof Schuon  :
O paradoxo do esoterismo é que, por um lado, "ninguém oculta a verdade" e, por outro, "não se deve dar aos cães o que é sagrado"; entre as duas imagens situa-se a "luz que brilha nas trevas, mas que as trevas não compreenderam". Existem aí flutuações que ninguém pode evitar e é o que se paga pela contingência. O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA
O Véu impenetrável subtrai ao olhar algo muito sagrado ou muito íntimo; o véu de Ísis sugere as duas relações, uma vez que o corpo da Deusa coincide com o Santo-dos-Santos. O "sagrado" refere-se ao aspecto divino Jalâl, a "Majestade"; o "íntimo", por seu lado, refere-se ao Jamâl, à Beleza; Majestade deslumbrante e Beleza inebriante. O véu transparente, em compensação, libera tanto o sagrado quanto o íntimo, como um santuário que abre sua porta, ou como uma noiva que se entrega, ou como um noivo que acolhe e toma posse. O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA
A virtude em si é a adoração que nos vincula a Deus e nos atrai para Ele, resplandecendo à nossa volta. Adoração primordial e quase existencial, que se anuncia antes de tudo pelo sentido do sagrado, como acabamos de dizer. O sagrado é o perfume da divindade, é o divino tornado presente; amar o sagrado é impregnar-se do perfume do Ser puro e da sua serenidade. O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA

Mircea Eliade  :

Pode se medir o precipício que separa as duas modalidades de experiência — sagrada e profana — lendo-se as descrições concernentes ao espaço sagrado e à construção ritual da morada humana, ou às diversas experiências religiosas do Tempo, ou às relações do homem religioso com a Natureza e o mundo dos utensílios, ou à consagração da própria vida humana, à sacralidade de que podem ser carregadas suas funções vitais (alimentação, sexualidade, trabalho etc.). Bastará lembrar no que se tornaram, para o homem moderno e a religioso, a cidade ou a casa, a Natureza, os utensílios ou o trabalho, para perceber claramente tudo o que o distingue de uni homem pertencente às sociedades arcaicas ou mesmo de uni camponês da Europa cristã. Para a consciência moderna, um ato fisiológico — a alimentação, a sexualidade etc. — não é, em suma, mais do que uni fenômeno orgânico, qualquer que seja o número de tabus que ainda o envolva (que impõe, por exemplo, certas regras para “comer convenientemente” ou que interdiz um comportamento sexual que a moral social reprova). Mas para o “primitivo” um tal ato nunca é simplesmente fisiológico; é, ou pode tornar-se, uni “sacramento”, quer dizer, uma comunhão com o sagrado.

O leitor não tardará a dar-se conta de que o sagrado e o profano constituem duas modalidades de ser no Mundo, duas situações existenciais assumidas pelo homem ao longo da sua história. Esses modos de ser no Mundo não interessam unicamente à história das religiões ou à sociologia, não constituem apenas o objeto de estudos históricos, sociológicos, etnológicos. Em última instância, os modos de ser sagrado e profano dependem das diferentes posições que o homem conquistou no Cosmos e, consequentemente, interessam não só ao filósofo mas também a todo investigador desejoso de conhecer as dimensões possíveis da existência humana.

Roberto Pla  :

No entanto a separação testamentária entre o santo e o profano é o resultado de uma distinção natural, inteligente, que busca preservar o sagrado. Quando no Êxodo diz YHWH a Moisés: “Deslinda o contorno da montanha”. O que aconselha é conservar a transcendência da santidade, porque como é sabido: “Todo aquele que toque o monte morrerá”, quer dizer, todo aquele que empreenda o caminho até a consumação, deverá entrar na negação de si mesmo, na morte da alma, na incineração dos conteúdos desta, e essa é uma Paixão difícil que só está reservada para as almas que já se fortaleceram na fé em sua semente interior.

Da mesma maneira, quando no Levítico se diz: “Nenhum laico comerá das coisas sagradas”, há que entender que o laical se aplica aos leigos, quer dizer, aos que na falta de conhecimento não alcançam distinguir o sagrado. Para eles o “não comer” não é o resultado de uma proibição, senão uma impossibilidade mais ou menos eventual, por falta de maturidade.

Fernand Schwarz: SAGRADO