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Perenialistas Gnose

sexta-feira 29 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

Perenialistas — Gnose e Gnosticismo  
O mais importante "tradicionalista", René Guénon, fazendo restrições aos movimentos gnósticos dos primórdios do cristianismo, ainda assim reconhece e dá relevância à "gnose" em suas obras, tendo inclusive dirigido uma revista esotérica no início dos anos 1910, denominada "La Gnose", onde publicou alguns ensaios, posteriormente editados na coletânea MISCELÂNEA.

Por sua vez, Frithjof Schuon  , ainda que critique os movimentos gnósticos no cristianismo emergente, enaltece a gnose em suas obras, tendo inclusive um livro com o título TRILHAS DE GNOSE.

Jean Borella   é um seguidor de René Guénon, que, sem abandonar sua cátedra de Filosofia soube, como poucos, apresentar um quadro notável do cristianismo emergente e da gnose em seus verdadeiro sentido, obscurecido na difusão e crítica dos escassos registros da tradição gnóstica, em grande parte destruídos pela Igreja.


René Guénon
  • A GNOSE E AS ESCOLAS ESPIRITUALISTAS
    Frithjof Schuon
  • Gnose:
    • COMPREENDER O ISLÃ
      • ... o termo gnose que aparece neste livro como em nossos precedentes, refere-se ao conhecimento supraracional — logo puramente intelectivo — das realidades metacósmicas; este conhecimento não se reduz ao "gnosticismo" histórico, sem que se tenha de admitir que Ibn Arabi   ouSankara tenham sido "gnósticos" alexandrinos; resumindo não se pode tornar a gnosis responsável de cada associação de ideias e cada abusos de linguagem. ... Em lugar de "gnose", poderíamos dizer tão bem marifah, em árabe, ou jnana, em sânscrito, mas nos parece bastante normal usar um termo ocidental do momento que escrevemos em uma língua do Ocidente.
      • A gnose total supera imensamente tudo que no homem aparece como "inteligência", precisamente porque ela é incomensurável mistério de "ser"...
    • O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA
      • O conhecimento direto e interior, aquele do Coração-Intelecto, é aquele que os gregos denominavam a gnose; a palavra "esoterismo" — segundo sua etimologia — designa a gnose enquanto de fato subjacente a doutrinas religiosas, logo dogmáticas.
      • O homem de gnose tem sempre consciência — é pelo menos sua predisposição e sua intenção — do enraizamento ontológico das coisas: para ele o acidental, não é somente isto ou aquilo, é antes de tudo a manifestação diversificada e inesgotável da Substância; intuição que, na medida que é concreta e vivida, exige e favoriza não somente o discernimento e contemplatividade, mas também a nobreza de caráter, pois o conhecimento do Todo engaja o homem total.
    • IMAGENS DO ESPÍRITO
      • A gnose exige a impassibilidade fundada sobre a verdade, sobre o Imutável, e não o sofrimento oferecido ao Amor; dizemos que ela não o “exige”, não que ela não o “admite”, pois ela admite por definição tudo o que é verdadeiro a qualquer título. Para a gnose, o elemento emotivo não é uma chave utilizável, salvo no plano estético que compensa no entanto este elemento pelo aspecto intelectual da beleza; o ponto de partida do jnani não poderia ser a paixão de Deus; sua natureza está impregnada de contemplação e de verdade, ela é profundamente estática; segue sua própria essência imutável, embora deva forçosamente integrar em sua via os fatores normais da natureza humana. Este aspecto de serenidade, de paz profunda, de “santo silêncio”, é como a pedra de demarcação no portal da gnose, mas é ao mesmo tempo a essência desta, a atmosfera que ela respira e da qual vive; entendemos aqui a gnose como tal, sem perder de vista que ela é suscetível de combinações com as outras vias, que de fato as diferenças jamais são absolutas.
    • ESTAÇÕES DA SABEDORIA, 200
    • LÓGICA E TRANSCENDÊNCIA
      • ... que nos seja suficiente lembrar aqui a distinção entre a gnose em si e o gnosticismo histórico e herético, aquele de Valentino   sobretudo. Que haja no seio de toda religião uma gnose, em princípio ou de fato e a um grau qualquer de desdobramento, isto está na natureza das coisas e não poderia ser discutido como se se tratasse de invenções humanas ou de acidentes históricos. A gnose coincide com o “esoterismo”, com a diferença todavia que este comporta igualmente uma dimensão de mística volitiva e emocional, no gênero da bhakti hindu. Só o grau de gnose representa um esoterismo quase absoluto; o grau de amor é um esoterismo relativo e condicional, — na medida que se trata de um método, pois o amor em si é igualmente uma dimensão do conhecimento, como a beleza, — e este grau forma como um ponto entre a gnose e a crença religiosa comum, o exoterismo. O cristianismo transpôs a Lei das prescrições ao plano interior, e com ela a messianidade ela mesma, donde o mal entendido fundamental entre as religiões judaica e cristã; o cristianismo nascente opôs-se ao judaísmo legalista e formalista — não ao essenismo todavia — como o “espírito” se opõe a “letra”, eventualmente e sob uma certa relação, ou como a essência pode se opôr à forma, Quebrando os quadros formais do mosaísmo em nome da essência, esta mensagem teve a função de esoterismo, mas foi um esoterismo de amor, suscetível de devir por seu lado um exoterismo de fato, sem dever nem poder perder portanto suas virtualidades esotéricas, aí compreendido aquelas de gnose.
      • A gnose supera o mental e com mais razão os sentimentos; esta superação resulta da função “sobrenaturalmente natural” do Intelecto, a saber a contemplação do Imutável, do “Si” que é a Realidade, Consciência e Beatitude; as gotas perdidas desta Felicidade, caídas em nosso mundo de cristalizações separadas e passageiras, se tornam o amor e a felicidade das criaturas terrestres. Querer superar os sentimentos por ambição é o que há de mais contrário à verdade e à contemplação; além do que o desprezo dos sentimentos é coisa sentimental, — a sentimentalidade frígida não sendo mais intelectual que a quente, — é contraditório querer escapar à individualidade em um contexto individualista. Em metafísica, não há tomada de posição nem ambições; cada coisa é posta em seu lugar, seguindo a ordenança do “Grande Arquiteto do Universo”; trata-se menos de saber aquilo que somos que o que é Deus; a primeira investigação só tem sentido em função da segunda. Se “se conhecer a si mesmo é conhecer seu Senhor”, é porque o puro “ser” dos fenômenos reduz estes à suas raízes universais; ad majorem Dei gloriam.
    • TRILHAS DE GNOSE 26, 90,
    • PERSPECTIVAS ESPIRITUAIS E FATOS HUMANOS
      • A gnose é para aqueles cuja inteligência está naturalmente voltada para as essências universais; o mundo das formas lhes aparecerá de alguma forma como transparente; sua inteligibilidade vem das essências, não das formas.