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Perenialistas Coroa

sexta-feira 29 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

PERENIALISTAS — COROA

CABALA  
Leo Schaya  
Kether, a “Coroa” — denominada também Kether elyon, a “Coroa suprema” entre todas as “Coroas” divinas, Sephiroth, ou Princípios universais — é a Toda-Realidade incriada e infinita de Deus. Nada não está fora Dele; o nada não existe, pois se existisse, não seria mais nada, mas realidade de sua Realidade.

Kether, o único Real, por um lado, permanece oculto nEle mesmo, em Sua Transcendência absoluta, e por outro, Se manifesta como Imanência incriada, no seio de Seu próprio reflexo transitório: a criação.

Kether em Si é Ipseidade pura, Essência superinteligível, Unidade sem traço de dualidade. É a Realidade sem condição, sem determinação qualquer: nEla, Deus é O que Ele é. além do Ser; pois o Ser não é o real em Si, mas Sua primeira Afirmação.

Kether repousa em Sua Essência, Seu Sobre-Ser, mais que consciente dEle mesmo, sem querer o que quer que seja e sem agir de maneira alguma; pois Sua Essência é tudo, e nEla, tudo é Ela, tudo é tudo, sem a menor restrição, distinção, oposição ou relação. Aí não há nem sujeito nem objeto, nem causa nem efeito; não há senão o Um sem segundo, a Ipseidade sem alteridade, a Totalidade indivisível.

Kether, em Sua Essência pura e absoluta, não tem aspectos; Ele é a Realidade eternamente misteriosa: “não há outro a Lhe comparar ou a Lhe associar”. Não se poderia falar dEle que a condição de negar o que Ele não é, ou de O situar acima de tudo o que é inteligível, logo de O designar por termos que sejam ou negativos ou superlativos, ou ainda interrogatórios.

Assim, a Qabbalah chama Kether em Si: Ain, “Nada”, a Ausência de toda realidade determinada ou condicionada: o Não-Ser ou Sobre-Ser, a Não-Causa, o Absoluto; En-Soph, “Não-Limitado”, o Infinito; Raza de-Razin, “Mistério dos Mistérios”, o Suprainteligível ou Sobreconsciente; Mi, “Quem?”, o “eterno Objeto das investigações”: Attiqa de-Attiqin, o “Ancião dos Anciões”, ou Princípio de todos os Princípios universais; Attiqa qadischa, o “Antigo sagrado”, ou Princípio supremo.

A Infinidade absoluta da Essência Suprema, a Ipseidade pura de Kether, exclui toda alteridade e, portanto, todo conhecimento dEla: “O Infinito (En-Soph) não pode ser conhecido, pois não se poderia conhecer o que não tem nem começo nem fim... O que é o começo? É o Ponto supremo, o começo de tudo, oculto no “Pensamento” (divino, sinônimo de Hokhmah, a “Sabedoria” suprema, que emana de Kether), e é ele que constitui o fim (de toda emanação)... Mas além dele (no Kether, o Infinito puro) não há fim, nem de intenção, nem de luz, nem de “lâmpada”; todas as luzes dependem dEle (Kether), mas Ele não pode ser alcançado. É uma Vontade suprema, mais misteriosa que todos os Mistérios. É o “Nada” (Ain, que é o Absoluto).” (Zohar  , Pequdé, 239a)

No entanto, Kether não é somente a Realidade que exclui tudo o que não é Ela mesma, mas também aquela que inclui tudo, porque não há nada fora dEla. Kether é exclusivo, enquanto Ele é Ain, o “Nada” de tudo o que não é Ele; e Ele inclui, enquanto Ele é En-Soph, ou o Infinito, que abarca, em Sua Unidade sem limites, tudo o que é possível. Assim, residindo, além do ser e do conhecer, em Sua Essência não causal, o único Real, graça a Sua Ilimitação, toma consciência de Suas Possibilidades universais. ë por Seu Ser causal, inteligente e inteligível, que Ele se conhece e Se afirma como Princípio ontológico necessário e único: “Eu sou O que sou” (Ehyeh ascher Ehyeh) (Ex. II,14). “Eu sou o Primeiro e Eu sou o último e não há Deus fora de Mim! Quem como eu — que fale, que declare, que Me o demonstre!... Há um deus fora de Mim? Não há outro rochedo (Ser necessário); Eu não conheço nenhum”. (Is XLIV, 6-8) “Antes de Mim, nenhum Deus não foi formado (não se manifestou), e não haverá nenhum depois de Mim... Sou Eu que sou Deus” (ibid. XLIII, 10,13).

Na Unidade absoluta de Seu Sobre-Ser (Ain), Kether não porta nenhum traço do múltiplo e transcende a Unidade causal de Seu Ser (Ehyeh) que contém, na Entidade de Seus Aspectos inteligíveis ou Sephiroth, os Arquétipos da multidão cósmica: a dualidade em princípio. Mas a Unidade do Ser supera ao mesmo tempo todo dualismo por Sua Infinidade que se integra — eternamente e sem qualquer movimento — na Essência pura e não dual: o Sobre-Ser. Logo, não nenhuma cisão no Um, nenhuma separação entre Seu Ser e Seu Sobre-Ser ou Não-Ser, mas não há confusão hierárquica entre Eles. Se o Não-Ser compreende indistintamente o Ser — do qual Ele é a Essência pura e indeterminada — Ele não o “é” no entanto, não tendo nenhuma necessidade de “ser”, para ser real; da mesma maneira, o Ser, em “sendo” o Não-Ser, por identidade essencial com Ele, não o é não mais, na Sua determinação primeira e ontológica.

Kether é portanto o Princípio que se identifica ao mesmo tempo a Ain e a Eyeh, sem abolir a hierarquia dos graus universais; em outros termos, Kether é En-Soph que, na Sua Toda-Possibilidade, abarca tanto o Ser quanto o Não-Ser, deixando a cada possibilidade seu caráter próprio. Eis porque, quando se visualiza esta Unidade infinita, que tudo abarca, fala-se ou de Kether ou de En-Soph; e quando se quer designar um ou outro de Seus dois Aspectos supremos, se refere seja a Ain, seja a Ehyeh.

A identidade de Kether e Ain é misteriosamente revelada na introdução do Decálogo (Ex XX,2): “Eu (sou) YHWH, teu Deus”. Se se suprime da palavra “Eu”, ANoKhY, as letras A, N, Y, que — segundo uma aplicação da permutação cabalística das letras — formam elas só a palavra AYN (Nada), resta Kh (Kaph), inicial da palavra Kether, o que indica, segundo a Tradição esotérica, que a Sephirah Kether é o grau universal supremo, Ain. Visto ad intra, Kether não difere em nada de Ain; só do ponto de vista extrínseco do emanado ou do manifestado, que Ele Se situa enquanto Ehyeh, ou Causa não agente, entre Ain, a Não-Causa, e Hokhmah, a “Sabedoria” divina, Emanação primeira e Causa ativa.

Sob Seu Aspecto de Ehyeh, ou “Causa das Causas”, Kether repousa eternamente e indistintamente na Sua Essência absoluta e imutável, Ain; Ele não age, mas deixa os nove outros Sephiroth, Suas Emanações e Intelecções ontológicas, Suas “Luzes” ou “Lâmpadas”, operar em Seu Nome. Ele que à Anokhi, o “Eu” divino ou “Si mesmo” supremo de todas as coisas, permanece não afetado por Suas Irradiações e seus efeitos cósmicos. Ele contém tudo o que é, como Unidade em Sua Unidade; e cada coisa O contém, no mais profundo dela mesma, como o Um, o Invariável. Ele é a Identidade essencial de todas as coisas com o Absoluto. Ele é o Absoluto mesmo: o “Um sem segundo”.