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arcanjos / ἀρχάγγελος / archaggelos / archangelus / arcanjo / arcángel / Metatron

  

Schaya

A etimologia deste nome misterioso [Metatron] é discutida. Buscamos sua origem na palavra hebraica nator, "supervisionar", a palavra latina metator, "aquele que mede", e em mater, a "mãe", ou matrona, a “dama” divina, epíteto da Schekhinah, mas também no termo grego meta thronon, "além do Trono", e finalmente no valor numérico de Metatron, que é o do Nome divino Schaddai, o "Todo-Poderoso", do qual Metatron é de fato a Manifestação direta e universal.


Metatron também é chamado de "escriba" divino. Ele registra todos os Pensamentos criativos de Deus no "Livro" ou "Mundo da Criação". Sua “caneta” é o “Pilar do Meio”, ao longo do qual flui a “tinta” luminosa da Emanação divina, descendo do triplo “Cérebro” Kether-Hokhmah-Binah, como Onisciência (Da’ath), para acumular-se na Plenitude da Schekhinah e ser “gravado” no puro e translúcido “pergaminho” de Avir, o Éter generativo. Tudo o que foi, é e será, está inscrito, na forma de "letras celestiais" ou Arquétipos espirituais, no divino Livro de Metatron. Este carrega, aliás, o epíteto de "Jovem" ou eterno "Adolescente", porque é a primeira manifestação incorruptível e supratemporal da imanência divina. Ele é, em particular, a primeira Revelação da Sabedoria divina em relação ao Cosmos, a Fonte de toda inspiração ortodoxa, o “Mestre de todos os Doutores da Mischnah  ” (ou Tradição Oral).

Henry Corbin

Um dos hinos litúrgicos da Avesta descreve em termos prestigiosos seu esplendor e o mistério de suas relações. O hino celebra estes Arcanjos «que todos os Sete têm mesmo pensamento, todos os Sete mesma palavra, todos os Sete mesma ação... que veem a alma um do outro ocupada a meditar pensamentos de retidão, a meditar palavras de retidão, a meditar ações de retidão, a meditar a Morada-dos-Hinos, e que têm caminhos de luz para atender às liturgias (celebradas em honra deles)... que criaram e governam as criaturas de Ahura Mazda, que as formaram e as dirigem, que delas são os protetores e os libertadores».

Logo há entre os Sete Arcanjos uma espécie de unio mystica, pela qual a Heptade divina se diferencia tanto das representações correntes do monoteísmo quanto daquelas do politeísmo; seria melhor falar de um katheoteísmo, neste sentido que cada uma das Figuras da Heptade divina pode ser meditada por sua vez como realizando a totalidade das relações comuns às outras. Pode-se seguir nos textos como uma oscilação que ora destaca a primazia do Senhor Sabedoria entre os Sete, ora acentua a unio mystica com os seis outros Poderes de Luz. É assim que a frequência com a qual, nos textos pahlavis, Ohrmazd iniciando Zaratustra seu profeta, se exprime dizendo: «Nós, os Arcanjos» — corresponde ao emprego, na Avesta mesma, da palavra Mazda no plural, «os Senhores Sabedorias», para designar o conjunto dos Amahraspands. Pode-se evocar comparativamente como em Fílon o Logos — senão Deus ele mesmo — é denominado pelo nome de arcanjo, porque ele é Archon Angelon.

Tradicionalmente, na iconografia mental como também sem dúvida na iconografia real, a Heptade divina figura como dividida em dois grupos: três Arcanjos representados como masculinos à direita de Ohrmazd, três Arcanjos femininos à sua esquerda. Ohrmazd ele mesmo reúne sua dupla natureza, posto que é dito dele que foi ao mesmo tempo o pai e a mãe da Criação. Todos os Sete juntos produziram as criaturas por um ato litúrgico, quer dizer em celebrando a liturgia - Liturgia celeste, cada uma dos Sete Poderes da Luz produzindo em virtude da Energia que transborda de seu ser, a fração dos seres que no conjunto da Criação representa sua hierurgia pessoal, e que por esta razão pode ser designada por seu próprio nome.

Ohrmazd tomou como sua hierurgia própria, objeto de sua atividade criadora e providente, o ser humano ou mais exatamente esta porção da humanidade que escolheu de responder sobre a terra para os seres de Luz. Dos três Arcanjos masculinos: Vohu Manah (Pensamento excelente, palavi Vohuman, persa Bahman) se reservou à proteção de toda a criação animal; Arta Vahishta (Perfeita Existência, Artvahisht, Ordibehesht), o Fogo sob suas diferentes manifestações; Xshathra Vairya (Reino desejável, Shathrivar, Shahrivar), os metais. Dos três Arcanjos femininos: Spenta Armaiti (Spandarmat, Esfandarmoz) tem por hierurgia própria a Terra como forma de existência tendo por Imagem a Sabedoria e a mulher sob seus aspecto de ser de luz. A Haurvatat (Integridade, Khordad) pertencem as Águas, o mundo aquático em geral; a Amertat (Imortalidade, Amordad), as plantas, todo o universo vegetal. São estas relações hierúrgicas que precisamente indicam ao ser humano onde e como encontrar os Poderes de Luz invisíveis, a saber em cooperando com eles para a salvação da região criatural que procede de sua providência própria. [CorbinCETC]

Bernard Teyssèdre

Embora o termo “arcanjo” (gr. arkaggelos) não seja atestado antes da era cristã, o conceito está em lugar desde quando Daniel opôs “o selo do nome próprio” sobre eminentes personagens celestes, Mikhael e Gabriel, nitidamente destacados de uma coletividade anônima, “miríades de miríades” (Dn 7,10). Pouco antes a história de Tobias fez surgir em cena Raphael. Estas três figuras manterão até nossos dias, apesar de eventuais eclipses, seu nível elevado na hierarquia, sem no entanto ter jamais composto uma “tríade”.

Outros nomes surgiram como Uriel, o guia de Enoque em seu “Livro das Luminárias”. O fator determinante para agrupar os anjos foi a simbólica dos números. Ela propunha dois modelos, um fundado sobre o número sete e outro sobre o quatro.

Sete, número do absoluto saber. “Sete olhos de YHWH percorrem a terra inteira” (Za 4,10). Quatro, número do supremo poder. Os Quatro Viventes da Merkabah e suas quatro rodas avançam onde o espírito-sopro os leva, “na direção dos quatro ventos” (Ez 1,17).

A mais antiga indicação sobre o número dos anjos não é anterior ao ano 200 AC. No livro de Tobias, Rafael se apresenta como ”um dos sete anjos que se mantêm sempre prontos a penetrar junto da Glória do Senhor”. Nada indica se o autor tinha conhecimentos dos seis outros nomes. Enoque, em seu “Livro dos Egrégoros”, incorpora Rafael seja em um quaternário, seja em um septenário. Mas parece indicar em seu Sonho, por volta de 164 AC, que entre as duas tradições concorrentes, uma fundada sobre a cifra sete, a outra sobre a quatro, o esforço de síntese alcançara um compromisso. O patriarca viu “sair do céu” sete anjos “semelhantes a homens em branco”, quatro a princípio, três em seguida. Estes últimos são os que conduzem Enoque sobre uma alta montanha próxima a torre divina, para que ele observe os quatro primeiros anjos castigando os Egrégoros e os Gigantes, em seguida salvando Noé do Dilúvio. Eles ainda, no Fim dos Tempos, o tomarão “pela mão” para o introduzir na Jerusalém Celeste. Quando do Juízo Final, os sete “homens brancos” reunidos conduziram todos os anjos maus diante de Deus que os fará jogar no abismo de fogo. Este “Sonho” tem por efeito instaurar um septenário sem prejudicar o estatuto privilegiado de um quaternário. [Excertos de Bernard Teyssèdre, “Anges, astres et cieux : Figures de la destinée et du salut”]

Philippe Faure

A literatura apocalíptica, cujo livro de Daniel é o exemplo mais famoso, repousa sobre o princípio de revelação da Glória divina. Por esta razão, ela concede aos anjos um lugar maior, chegando a forjar nomes próprios. Um só nome era até então mencionado, o de Rafael, curador e protetor de Tobias, “um dos sete anjos que se mantêm diante da Glória do Senhor” (também 12,15). Duas novas personalidades se afirmam particularmente, Gabriel, o anjo intérprete das visões (Dn 8,16; 9, 21-23) e Miguel, que tem o papel de anjo de YHWH e sustenta um duplo combate, histórico e escatológico, contra o demônio.

Miguel aparece como o príncipe dos anjos, que vem em ajuda de Israel. Sua figura permite precisar a correspondência entre a corte terrestre e a corte celeste: cada nação tem seu príncipe-protetor espiritual que a representa e a defende diante da corte divina.

Um apócrifo célebre, o (livro de Enoque, fixa o nome e a função dos quatro arcanjos superiores encarregados de garantir a justiça: Uriel (fogo de Deus), Rafael (Deus cura), Gabriel (Força de Deus) e Miguel (que é como Deus). Outros nomes são forjados segundo o mesmo procedimento, que consiste em juntar o sufixo “El” (a Divindade - divindade) a uma raiz designando a função ou a qualidade angélicas. Enumera-se assim setenta nações e correspondentes anjos guardiões. Os anjos tomaram o lugar dos deuses particulares dos povos. em parte talvez sob a influência babilônica. É por eles que Deus se revela e dita sua Lei às nações. Eles dispõem de uma certa autonomia, mas são sempre responsáveis diante de YHWH. [Excertos de Les Anges]

Gilbert Durand

O Concílio Vaticano II — contradizendo totalmente Divino afflatu, a Quam_singulari - bula de Pio X, de primeiro de novembro de 1911, e desprezando tradição angelológica tão poderosa entre o "povo do Livro", como o mostrava de forma clara um recente e sábio colóquio havido não na Cúria romana, mas na universidade de Tours — os arcanjos Gabriel, Rafael e todos os santos anjos estão agora afastados e amontoados na festa da consagração do arcanjo Miguel, perto do equinócio do outono. Ora, o nosso antigo calendário tivera o cuidado de situar os três arcanjos maiores da cristandade, Gabriel, Miguel e Rafael, nas cúspides do equinócio da primavera (Gabriel, em março, secundado pelo legendário São Jorge em abril) e do outono (Miguel, secundado por Rafael, na cúspide do escorpião). Porque esses três arcanjos, como aliás todos os outros, tipificam potências distintas, orientadores cada uma delas de uma função, de um mundo. Gabriel é o angelus rector da lua e, especialmente na tradição islâmica em que tem o papel de intermediário, de "arcanjo purpurado", o mais próximo da humanidade "sublunar", enquanto Miguel, com sua espada flamejante, é o rector do sol; Rafael, o protótipo do médico, protetor da Viagem de Tobias, é o rector de Mercúrio, o planeta do deus viajante e condutor das almas. [Excertos de "A Fé do Sapateiro"]