Wittgenstein (1969) – clareza filosófica

(Philosophische Grammatik, organização de R. Rhees. Oxford: B. Blackwell, 1969, pp. 381-2)

O filósofo percebe mudanças no estilo de sua dedução (Ableitung) ao largo das quais o matemático de hoje, com sua visão obtusa, passa tranquilamente. Propriamente falando, o que distinguirá o matemático do futuro do matemático de hoje é uma sensibilidade maior; e é ela que, por assim dizer, podará a matemática, pois então haverá uma preocupação maior com a clareza absoluta do que com a invenção de novos jogos.


A clareza filosófica terá no crescimento da matemática a mesma influência da luz do sol no crescimento dos germes das batatas. (Na caverna obscura, eles chegam a ter metros de comprimento.) O matemático não pode deixar de horrorizar-se com as considerações matemáticas que exponho, pois a formação que ele recebeu sempre o dissuadiu de se entregar às ideias e dúvidas que desenvolvo. Ele aprendeu a considerá-las uma coisa desprezível e, para utilizar uma analogia retirada da psicanálise (este parágrafo faz lembrar Freud), adquiriu a seu respeito uma repulsa do mesmo tipo da que experimentamos diante de tudo o que é infantil. Ou seja, desenvolvo todos os problemas que uma criança, por exemplo, sente como dificuldades, e que o ensino reprime sem resolver. Assim, digo a essas dúvidas reprimidas: vocês têm toda razão, pois peçam, exijam que se faça luz!