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Callistus Cataphygiotes

  

Seu sobrenome significa "aquele que se refugia", que vive na solidão e designa de qualquer modo um monge — monos —, de quem ignoramos a identidade histórica; talvez aquele referenciado nos escritos de Callisto Patriarca  . quer dizer que Callisto Cataphygiotes, Callisto Patriarca e Callisto Xanthopoulos   sejam a mesma pessoa? Isto não é impossível, na medida que suas obras , escritas no final do século XIV, pouco antes da queda do Império Bizantino, constituem o acabamento do memorial hesicasta, e também que se sobrepõem por vezes das mesmas expressões e referências indicando uma mesma tensão para a última delas.

Nelas o hesicasmo se apresenta como um movimento da inteligência (nous) "abandonando o criado para buscar sua própria causa" e assim "alcançar a paz, entrar no infinito e no não-criado" (agenetos), onde se encontra, "mais alto que o mundo, Deus, que é Uno", não o Uno imanente e abstrato dos neoplatônicos, mas o Uno transcendente, vivo, que significa a essência e as energias das três Pessoas divinas, como a irradiação do amor criador transmitido aos fiéis para que eles também sejam um.

No entanto a ascese é rigorosa: a inteligência não pode alcançar à semelhança divina se não cessa de se dispersar nas coisas do mundo e se encontra “fora das paixões e da divisão”, em plena liberdade evangélica, a qual, diz Callisto, é “o signo evidente da adoção divina”. Logo é demandado à inteligência livre de se voltar, de não mais parar no sensível, mas de tender para o inteligível, para isto que não pode ser percebido a não ser pela noera aisthesis, o sentido intelectual: o Reino de Deus no coração do mundo.

A mensagem filocálica é levada aqui a sua instância mais fina. Dos três componentes platônicos da alma — o desejo, o ardor e a razão —, somente a razão encontra graça e faz corpo com a inteligência “retornada”, reconduzida ela mesma à unidade e à simplicidade originais. Uma tal inteligência no estado puro só pode amar a beleza de Deus. Ela é votada ao “eros divino”, ela é “filocálica”, diz Callisto. A perspectiva é perfeitamente cristã, mas o amor é totalmente tencionado para a beleza de Deus, a atração do último é tão forte, que o discurso ;e como absorvido pelo ponto de fuga (a visão beatifica) e se anula nele. Resta então à chave o não dito: o Cristo ressuscitado, o corpo glorioso.

Retomando as palavras do Eclesiastes, Callisto afirma que o monge contemplativo está, de toda maneira, dividido entre o tempo de se calar, que é o arrebatamento da inteligência, e o tempo de falar, que é o combate espiritual e a transmissão da experiência. Mas a conclusão é imperativa: “rejuntar-se ao estado de infância”, para alcançar à condição extrema, à contemplação silenciosa do Uno oculto, “que não podem conter a natureza, o espaço e o tempo”. Este último grande texto da mensagem filocálica — seguramente um dos mais difíceis e dos mais belos — só pode ser uma apologia ao êxtase e ao silêncio. (Excertos da apresentação da versão francesa da Philokalia  ).