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Protágoras
PLATÃO - PROTÁGORAS. Trata da virtude em geral, e em especial se pode ser ensinada. Contra os sofistas. Se propõe assinalar a diferença entre o método socrático e a sofística.
Estrutura do diálogo
- Protágoras 309a-314c — Prólogo
- Protágoras 310a-311a — O relato de Sócrates
- Protágoras 311b-314c — O que é o ofício de Sofista ?
- Protágoras 311b-314c — O que é o ofício de Sofista? (A)
- Protágoras 311b-314c — O que é o ofício de Sofista? (B)
- Protágoras 314c-337b — Primeira Parte
- Protágoras 314e-316a — Personagens
- Protágoras 316a-317d — Profissão de fé de Protágoras
- Protágoras 317d-319a — O ensinamento de Protágoras
- Protágoras 319a-320c — O ensinamento de Protágoras se ensina?
- Protágoras 320c-328d — Protágoras responde por um mito
- Protágoras 322a-323c — Protágoras responde por um mito (A)
- Protágoras 323c-324c — Protágoras responde por um mito (B)
- Protágoras 324c-326e — Protágoras sobre a educação
- Protágoras 326e-328d — Sofística como fator de progresso da moral
- Protágoras 328d-334c — Réplica de Sócrates
- Protágoras 329d-330e — A virtude é una?
- Protágoras 330e-332a — Distinção das virtudes
- Protágoras 332a-333d — A noção de contrariedade
- Protágoras 333d-334c — Sabedoria e Justiça
- Protágoras 334c-347b — Intermezzo
- Protágoras 336d-337c — Apartes
- Protágoras 337c-338b — Hípias
- Protágoras 338b-338e — Sócrates respondendo
- Protágoras 338e-340d — Poema de Simonides
- Protágoras 340d-342a — Prodicos, sobre o sentido das palavras
- Protágoras 342a-347b — Comentário do Poema de Simonides
- Protágoras 343b-344b — Comentário do Poema (A)
- Protágoras 344b-345c — Comentário do Poema (B)
- Protágoras 345c-347b — Comentário do Poema (C)
- Protágoras 347b-360e — Segunda Parte
- Protágoras 348c-349d — Retomada da discussão
- Protágoras 349d-351b — Análise da coragem
- Protágoras 351b-353b — O que é bem viver?
- Protágoras 353c-355a — Prazer = bem; dor = mal
- Protágoras 355a-357e — Contabilidade dos Prazeres
- Protágoras 358a-358e — Agir contra o bem
- Protágoras 359a-360e — Retomada da questão da coragem
- Protágoras 360e-362a — Epílogo
Jean Brun
No Protágoras, ou os Sofistas, Protágoras define a sofística como uma arte de educar os homens. Ao contrário de Hípias, que ensina o cálculo, a geometria, a música, a astronomia e todas as outras ciências, Protágoras pretende unicamente ensinar a prudência e o bom conselho (euboulia) relativamente à vida dentro da família e da cidade. Deste modo, Protágoras parece não confundir a técnica e a educação e é isso que vemos no famoso mito deste diálogo (320 c). Quando os deuses criaram os mortais, encarregaram Epimeteu e Prometeu de lhes dar um certo número de qualidades. Epimeteu dá a uns a força, a outros a agilidade, a resistência ao frio, asas, cascos, etc. Quando chega a altura de dar alguma coisa aos homens não resta nada. Prometeu decide então roubar a Hefeste e a Atena o fogo e o conhecimento das artes. No entanto, apesar das suas técnicas, os homens não foram capazes de viver em cidades porque não possuíam a ciência política. Zeus envia-lhes então Hermes que lhes traz a veneração e a justiça (aido te kai diken, 322 c), fundamentos da política, e é por isso, conclui Protágoras, que se ouve indiferentemente toda a gente nas assembleias públicas.
Protágoras, mestre da virtude, tem assim o comportamento de um sociólogo à maneira de Durkheim. Para ele, de facto, a moralidade nasce da pressão constante que os diferentes grupos exercem sobre o indivíduo (325 c). Assim, a sociedade ensina-nos a virtude tal como nos ensina a nossa língua materna, de modo que toda a gente é professor de virtude; pode eventualmente dizer-se que uns ultrapassam os outros na ajuda à virtude e Protágoras considera-se como um desses, por isso não hesita em pedir dinheiro em troca das lições que dá. Depois de uma acérrima discussão, Sócrates vai mostrar que a consciência colectiva e popular assimila o agradável e o bem e reduz o mal à dor; no entanto, simultaneamente, admite-se que o homem se deixa desviar do bem pela dor ou se deixa levar para o mal em busca do prazer. O homem que age assim, erradamente, é portanto vítima de um erro de cálculo e de uma ignorância; falta-lhe uma ciência da medida (357 a), da justa medida. Por isso, diz Sócrates ironicamente, a multidão precisa desses professores de virtude que são Protágoras, Pródico e Hípias, precisa de aprender com eles uma ciência que lhe faz falta (357 e). Os interlocutores de Sócrates, que aprovam essas afirmações lisonjeadoras, são apanhados na ratoeira: se a multidão precisa de aprender a virtude desses professores, é porque a virtude não é um dado social, como pretendia Protágoras, mas antes um saber que se procura. Por isso não é na tradição da multidão que se irá encontrar a medida de que necessitamos, visto que essa multidão precisa de aprendê-la com professores de virtude.