Míguez
2-De ese mundo verdadero y uno obtiene su existencia este mundo nuestro que no es verdaderamente uno; que es múltiple, añadiremos, y se halla repartido en muchas partes, distantes y extrañas entre sí, en las cuales ya no reina la amistad, sino también el odio, por la misma separación e insuficiencia de cada parte que, necesariamente, se hace enemiga de la otra. Cada parte no se basta a sí misma, sino que necesita de otra parte para conservarse, siendo no obstante enemiga de aquella (…)
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semente etc
sperma / σπέρμα / spérma / semente / gérmen / σπείρω / speiro / semeador / κόκκος / kokkos / grão / ἄχυρον / achyron / palha / γεωργός / georgos / lavrador
gr. σπέρμα, spérma: semente. Da raiz sper-, cujo sentido original parece ser "espalhar". A semente do fogo é um tema de ricas consonâncias mitológicas (Prometeu), cosmológicas (fogo monádico pitagórico) e fisiológicos (Odisseia V, 488ss). O termo panspermia que descreve a ideia de Anaxágoras que toda coisa tem uma semente de tudo, designa na origem o bolo servida nas festa cultuais., reunindo as primícias de todos os frutos.
Na Homilia sobre o Livro dos Números, Orígenes fala de "uma terra semeada da palavra de Deus", e em seus Comentários sobre Ezequiel, deixa claro que "a terra, é nossa alma". Assim elabora, sempre que trata da semente como representada na Parábola do Semeador, da necessidade de semear nas almas as santas sementes de uma doutrina santa, de acolher as santas sementes em um coração renovado, de fazer frutificar as sementes sobre o verdadeiro caminho, o Cristo.
René Guénon
O Princípio divino que reside no centro do Ser é representado, na doutrina hindu, por um grão, ou uma semente (dhâtu), e por um germe (bhijâ). [Observaríamos, a propósito, o parentesco das palavras latinas gramen, grão, e gérmen, germe. No sânscrito, a palavra dhâtu serve também para designar a raiz verbal como a "semente" cujo desenvolvimento dá nascimento à linguagem como um todo (cf. L’Homme et son devenir selon le Vêdânta, cap. XI)] pois de certo modo só está virtualmente nesse ser, enquanto a "União" não estiver efetivamente realizada.[Dizemos "virtualmente" ao invés de "potencialmente", pois nada pode existir de potencial na ordem divina; é apenas no que se refere ao ser individual e em relação a ele que se poderia falar nesse caso de potencialidade. A pior potencialidade é a indiferenciação absoluta da "matéria-prima" no sentido aristotélico, idêntica à indistinção do caos primordial.] Por outro lado, esse mesmo ser e a manifestação total à qual pertence só existem por causa do Princípio, só têm realidade positiva pela participação em sua essência e na exata medida dessa participação. O Espírito divino (Atma), sendo o Princípio único de todas as coisas, ultrapassa imensamente toda existência. [Tomamos a palavra "existência" em sua acepção etimológica rigorosa: existere, ou seja, ex-stare, manter o seu ser com outra coisa além de si mesmo, ser dependente de um princípio superior. A existência assim entendida diz respeito essencialmente ao ser contingente, relativo, condicionado, ou seja, o modo de ser que não tem em si mesmo sua razão suficiente.] É por isso que se diz que ele é maior que cada um dos "três mundos", terrestre, intermediário e celeste (os três termos do Tribhuvana), que são os diferentes modos da manifestação universal, e também maior que o conjunto desses "três mundos", pois está além de toda manifestação, por ser o Princípio imutável, eterno, absoluto e incondicionado. [Os "três mundos" não são mencionados na parábola do grão de mostarda, mas encontram-se representados pelas três medidas de farinha na parábola do fermento, que lhe segue imediatamente (Mateus, 13, 33; Lucas , 13, 20-21).] [O GRÃO DE MOSTARDA]
Existe ainda, na parábola do grão de mostarda, um ponto que exige explicação no que se refere ao que acaba de ser dito: [Podemos ainda assinalar que o "campo" (kshêtra) é, na terminologia hindu, a designação simbólica do domínio no qual se desenvolvem as possibilidades de um ser.] a semente, ao se desenvolver, torna-se uma árvore, e sabemos que a árvore é, em todas as tradições, um dos principais símbolos do "Eixo do Mundo". [Cf. Le Symbolisme de la Croix , cap. IX.] Essa significação ajusta-se aqui perfeitamente: a semente é o centro; a árvore que dela sai é o eixo, proveniente desse centro, e, através de todos os mundos, ela estende seus ramos, sobre os quais vêm pousar as "aves do céu" que, como em certos textos hindus, representam os estados superiores do ser. Esse eixo invariável, de fato, é o "suporte divino" de toda existência; ele é, como ensinam as doutrinas extremo-orientais, a direção segundo a qual se exerce a "Atividade do Céu", o lugar da manifestação da "Vontade do Céu". [Cf. Le Symbolisme de la Croix, cap. XXIII. Empregaríamos aqui, de bom-grado, a expressão "lugar metafísico", por analogia com o "lugar geométrico", que oferece um símbolo tão exato quanto possível do que estamos tratando.] Não seria essa uma das razões pelas quais, no Pater, logo após o pedido "Venha o teu reino" (trata-se na verdade do "Reino de Deus"), suceda-se este outro: "Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu", expressão da união "axial" de todos os mundos entre si e ao Princípio divino, da plena realização daquela harmonia total à qual nos referimos e que só pode ser alcançada se todos os seres acordarem suas aspirações segundo uma única direção, qual seja, a do próprio eixo? [Cabe observar que a palavra "concórdia" significa literalmente "união dos corações" (cum-cordia); nesse caso, o coração é utilizado para representar principalmente a vontade.] "Que todos sejam um", diz Cristo, "assim como tu, meu Pai, estás em mim e eu em ti, também eles sejam um em nós... Que sejam um como nós somos um, eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade." (João, 17,21-23) Essa perfeita união é o verdadeiro advento do "Reino dos Céus" que vem de dentro e desabrocha para fora, na plenitude da ordem universal, acabamento de toda manifestação e restauração da integridade do "estado primordial". É a vinda da "Jerusalém Celeste no fim dos tempos": [Para vincular essa expressão mais estreitamente ao que acabamos de dizer sobre o simbolismo da árvore, lembraríamos ainda que a "Árvore da Vida", está colocada no centro da "Jerusalém Celeste" (cf. O Rei do Mundo, cap. XI, e Le Symbolisme de la Croix, cap. IX).] "Eis o tabernáculo de Deus com os homens: Ele habitará com eles, e eles serão o seu povo; e o próprio Deus estará com eles como seu Deus. [Poderíamos naturalmente nos reportar aqui ao que foi dito mais acima a respeito da Shekinah e de Emmanuel.] E lhes enxugará toda lágrima de seus olhos, e a morte não mais existirá..." [Apocalipse, 21, 34. A "Jerusalém Celeste", enquanto "Centro do Mundo", identifica-se de fato à "morada da imortalidade" (cf. O Rei do Mundo, cap. VII).] "Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro; seus servos o servirão, contemplarão a sua face e nas suas frontes estará o nome dele. [É possível ver nisso uma referência ao "terceiro olho", com a forma de um iod, tal como explicamos em nosso estudo (Cap. 72) sobre O Olho que tudo vê: uma vez restabelecidos no "estado primordial", eles possuirão de fato, por isso mesmo, o "sentido da eternidade".] Não haverá mais noite,[Naturalmente a noite está aqui entendida no seu sentido inferior, em que é assimilada ao caos; evidentemente a perfeição do "cosmo" é o oposto do caos (poderíamos dizer que é o outro extremo da manifestação), de modo que tal perfeição pode ser considerada como um "Dia" perpétuo.] e não mais terão necessidade, nem da luz de lâmpada nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles e reinarão por todos os séculos. [Apocalipse, 22, 3-5. Cf. também ibid., 21, 23: "A cidade não precisa nem de sol, nem de lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a ilumina, e o Cordeiro é a sua lâmpada." A "glória de Deus" é ainda uma designação da Shekinah, cuja manifestação, de fato, é sempre representada como "Luz" (cf. O Rei do Mundo, cap. III).] [GRÃO DE MOSTARDA]
Roberto Pla
É essa transformação, o reconhecimento do grão que “um é” em essência, e não a palha que veste o grão e com a qual nos identificamos habitualmente, o que põe fim à dualidade transitória, errônea, pois tudo é uno na unidade do “gérmen” semeado pelo Pai.
A presença do gérmen divino, a única Vida eterna implantada no mundo, é o que serve de selo da unidade; o que confirma que tudo há de ser um só reino, o de Deus, quando o mundo tenha passado.
Em verdade, o mundo já passou para todo aquele que desde o princípio até hoje tenha sido transformado em grão. Quando todos os grãos se tenham revelado, ficarão consumadas essa dissipação do psíquico e esse desgaste das vestimentas, que profetizou Isaías.
Dissipação é negação de ser, essa negação que Jesus explicava como negação de si mesmo; uma negação que vem por si mesma quando a verdade sobre a natureza, evanescente, do psíquico, tenha sido descoberta. É o mesmo que as ondas do mar, que quando cessam não vão a nenhuma parte nem estão em seu lugar, senão que reabsorvem no mar e se dissipam como se nunca tivessem sido.
Quando às vestimentas desgastadas, é o tempo o que as leva a envelhecer e logo as queima e vêm a ser como fumaça. Mais tarde o tempo as esquece e nada resta delas por trás de si. Como se nunca houvessem sido.
Tudo isso significa que quando os reinos dos céus e da terra tenham passado, o todo terá recuperado a unidade no Reino de Deus.
Se a exegese manifesta do evangelho afirma um dualismo estrito para a eternidade pós-escatológica, é por sua interpretação peculiar do sentido da formosa imagem de Mateus da palha e do grão com a que João Batista abre a predicação.
Por efeitos do batismo de fogo, desse fogo que Jesus disse que ele tinha vindo para lançá-lo sobre a terra (Fogo sobre a terra) e cuja obra consiste em derramar sabedoria sobre o coração do homem, pode Cristo aventar as messes trilhadas — e essa é a ação do mangual — para separar do grão a palha e limpar sua eira.
Como bem sabemos, a palha é em cada homem a envoltura superficial do grão, e este é o Ser essencial, o espírito, a Palavra preexistente e eterna semeada em todo homem.
Que a palha significa aqui todos os conteúdos mortais próprios do mundo e dos quais o Homem se reveste; e que o grão é “figura” do gérmen eterno do Reino de Deus, é coisa tão evidente que por si só parece refutar a ideia manifesta de que o mangual ativado por Cristo tem por fim que a palha — os homens maus — chegue aos fornos de um inferno eterno e extramundano, e que os grãos de trigo limpo — os homens “bons” — sejam reunidos no celeiro de Deus. Evangelho de Tomé - Logion 106
A ideia do momento da sega é explicado muito claramente em uma perícope fundacional, quando João Batista promulga o Reino de Deus como voz preparatória do caminho por onde deve acceder o Senhor: "Em sua mão tem o mangual, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará" (Mt 3,12). este texto não parece ter sido entendido em seu sentido justo por aqueles que não experimentaram ainda a intuição do tesouro interior, quer dizer, "do Ser que eles são", e por isso não sabem que não é possível que nenhum homem esteja isento do grão quando este, o grão, é o homem essencial, o homem pneumático. O que muitos entendem da enérgica afirmação de João Batista é que uns homens são grão e outros palha, segundo uma classificação absoluta e imatura que apresenta aos homens frente ao juízo divididos em bons e maus. Mas o que o mangual aventa é a palha que fica depois da messe e separado o grão da palha. O que importa entender é que a palha não é nunca nada por si mesma, senão o dejeto que fica para queimar como despojo ou envoltura do grão.
É importante esclarecer muito bem isto: o que a perícope do Batista tenta descrever não é um mundo formado por palha (homens maus) e grão (homens bons). O que explica é que todo homem consiste em ser um grão com vestimenta de palha e, em consequência, convida a todos sobre o resplendor da Boa Nova a empreender essa difícil e as vezes longa viagem cujos primeiros passos vêm assinalados pela conversão (metanoia), e ao final da qual a palha termina por ser reconhecida como palha e o grão como grão. Este é o fruto da conversão, bem distinto da posição errônea do homem que identifica a palha como grão. Quando chega a ação do mangual, o destino da palha é somente o do fogo da geena (em seu sentido real) pois este fogo atua como a vida temporal, que consume permanentemente tudo aquilo que de nenhuma maneira poderia ser purificado porque é o homem que passou pela dupla ação batismal da água e do Espírito, aprendeu a discernir e sabe que a palha aventada nunca constituiu um "si mesmo"; assim como sua consciência, desperta pelo conhecimento que trazem em sua descida as línguas de fogo, põe sem esforço o machado "à raiz das árvores sem fruto", e quando estes são cortados para ser arrojados ao fogo, já não formam parte de seu coração.
Quanto ao grão, ele é sempre "o eleito", o habitante desse Reino que está dentro e fora de nós e do que o evangelista João diz "em enigma", que é o Filho do homem, "o qual não subiu ao Céu senão que desceu do Céu (em nós) e está no Céu (Jo 3,13). Evangelho de Tomé - Logion 8
Frente à consumação do criado está a eternidade do ingênito. Assim foi dito: A Palavra do Senhor permanece eternamente”. Nessa afirmação coincide o Livro de Daniel desde o AT: “O Deus vivo subsiste para sempre; seu reino não será destruído e seu império durará até o fim”. (Se refere, sem dúvida, ao fim do criado, pois de igual maneira que o que não nasceu não pode morrer, assim o não criado não conhecerá o fim).
Tudo isto significa que quando os reinos dos céus e da terra tenham desaparecido, o espírito dos “moradores” brilhará em sua unidade com o Deus vivo em seu império único e eterno.
Em consequência, a exegese oculta do evangelho não encontra dualidade nem no princípio, nem no final da criação, porquanto a eternidade pós-escatológica, uma eternidade atemporal, consistirá em ser a unidade recuperada no reino de Deus.
Quando chegue tal ocasião, todos os grãos de semente que foram semeados no começo dos tempos, terão produzido já seu fruto de transformação. Isto é o que dizia Paulo: “Não todos morreremos, mas todos seremos transformados”. Com isto explicava o apóstolo que a transformação, o reconhecer-se como grão e deixar aventada a palha, é a obra designada. A isto agregava que alguns podem alcançar a bem-aventurança de ser transformados antes de morrer.
A transformação, esse ressuscitar de entre os mortos por renascimento interior, que consiste, já se sabe, em reconhecer-se como grão, o retira o aguilhão da morte, pois a morte da palha, que é o que sempre morre, deixa de ser morte para a consciência ressuscitada, chegada à Vida eterna. A Vida eterna foi reservada desde o princípio a todos os grãos, porque eles, os grãos, tiveram sempre à Vida eterna em propriedade. Evangelho de Tomé - Logion 106