Fernand Schwarz — SÍMBOLO
O termo “símbolo” vem do grego «symbolon» e do latim «symbolus», que significa “aquele que conduz”.
O símbolo é, portanto, um mensageiro, um elemento mediador entre dois níveis de consciência, entre o profano e o sagrado.
O símbolo não deve ser confundido com o “signo”; este não possui conteúdo arquetípico. Ele é temporal, circunstancial. Quanto ao símbolo, este participa das estruturas profundas arquetípicas e seu papel é transmitir esta realidade abstrata ao mundo objetivo e racional dos sentidos.
O símbolo possui, portanto, uma função mediadora: ele é uma ponte; reúne elementos “separados”; religa o Céu e a Terra, o espírito e a matéria. Traz em si uma força centrípeta, estabelecendo um centro de relações, ao qual se refere o múltiplo, e em que ele encontra sua unidade. Resulta da confrontação de tendências contrárias e de forças antinômicas, que ele reúne numa certa relação. O símbolo é uma representação que faz aparecer um sentido secreto; é a epifania de um mistério.
O SÍMBOLO, EXPRESSÃO DO SAGRADO
“Uma tradição cultural profana é incapaz de transmitir outros signos além daqueles que foram denominados, por René Alleau, de “sintemas”. Apenas uma tradição iniciática e religiosa pode transmitir símbolos. Os primeiros evocam vínculos mútuos de natureza social ou de relações fundadas nos signos convencionais, constituindo um conjunto lógico ou um sistema de linguagem que, por sua origem, sua evolução e seu uso, é sempre concebido e criado pelo homem e apenas tem sentido para o homem. A letra O, por exemplo, não é o símbolo do oxigênio, mas um sintema do tipo abreviativo que não tem outra significação senão pertencer, por convenção, a um conjunto lógico coerente, em uma certa época da história das ciências químicas. Os signos utilizados pelos computadores são sintemas, não símbolos.
Essa diferença é facilmente compreensível em razão do caráter sempre não humano da experiência do “outro”, ao qual a unanimidade das tradições iniciáticas e religiosas relaciona a revelação e a instituição dos símbolos, nome que deve ser reservado aos signos do sagrado”.
A estrutura e a função autênticas do símbolo podem ser penetradas, sobretudo, pelo estudo particular do símbolo, enquanto prolongamento da hierofania e enquanto forma autônoma de revelação. Os símbolos religiosos são expressões do sagrado que não dão um conhecimento racional, mas permitem uma interpretação direta. O pensamento simbólico precede a linguagem; ele pertence à substância da vida religiosa.
“Estamos em vias de compreender hoje uma coisa que o século XIX não podia nem mesmo pressentir: que o símbolo, o mito e a imagem pertencem à substância da vida espiritual. “(Mircea Eliade)
É assim que os mitos, os arquétipos, os modelos ou princípios tornam-se identificáveis somente a partir do momento em que foi reconhecida sua estrutura simbólica inerente.
O simbolismo fornece a grade teórica, tornando possível a interpretação das diversas manifestações do sagrado.
É por intermédio do símbolo que o transcendente pode ser unido ao temporal e vice-versa. Graças ao seu papel de “ponte”, o símbolo permite ao “Homo Religiosus” ter acesso à realidade do outro, abrindo-lhe a via de participação e de comunhão. O símbolo permite, assim, saber o que é “alheio” ao humano e à sua situação existencial.
Os símbolos revelam uma estrutura do mundo que não está evidente no plano da experiência imediata. Contudo, os símbolos não suprimem a realidade objetiva, mas lhe acrescentam uma dimensão, a verticalidade. Estabelecem relações extra-racionais entre os diferentes níveis de existência e entre os mundos cósmico, divino e humano.
Como afirma Mircea Eliade “o simbolismo é um dado imediato da consciência total, isto é, do homem que se descobre como tal, do homem que se conscientiza de sua jxisição no Universo”. (Tratado de História das Religiões)
O SÍMBOLO É PLURI-DIMENSIONAL
Os símbolos solidarizam as realidades aparentemente mais heterogêneas, relacionando-as a uma mesma realidade mais profunda, que é sua última razão de ser.
Em vez de se fundar no princípio do terceiro excluído, como a lógica conceituai, o simbolismo supõe, ao contrário, um princípio do “terceiro incluído”, isto é, uma complementaridade possível entre os seres, uma solidariedade universal. É por isso que os símbolos são sempre pluri-dimensionais.
Graças a essa polivalência, o simbolismo está apto para reunir diversas significações em um todo integrado, em um sistema coerente. Sua capacidade para a unificação ou para a sistematização deixa o simbolismo em posição de exprimir situações paradoxais.
Os símbolos tornam acessíveis, a nossos espíritos, níveis de experiências que, sem eles, permaneceríamos fechados para sempre, pois não teríamos nem mesmo consciência deles.
A principal função dos símbolos é, portanto, permitir o acesso a níveis de realidades inabordáveis de outra forma e abrir ao entendimento humano perspectivas insuspeitáveis.
O símbolo anima sempre a existência humana e traz, ao mesmo tempo, uma significação, fazendo manifestar-se a realidade imediata.
Ele é animado por uma lógica que lhe é própria, e representa uma forma autônoma do conhecimento, diferente da abordagem racional clássica.
O domínio dos símbolos e do imaginário não é o da desordem e da anarquia. Existe uma “coerência funcional” do pensamento simbólico. Mas, essa lógica do símbolo não salienta a ordem racional, o que não significa que ela não tenha razão de ser, nem que escape a uma ordem que a inteligência pode tentar interpretar.
“Mesmo lá, onde o espirito humano parece mais livre para se abandonar em sua espontaneidade criadora, na escolha que ele faz das imagens, na maneira pela qual ele faz sua associação, sua oposição ou seu encadeamento, não há desordem alguma e nenhuma fantasia.” (Le cru et le cuit)
Assim, reabilitar o valor do símbolo, não é mais que professar um subjetivismo estético ou dogmático.
Ainda que de natureza extra-intelectual, os símbolos organizam-se em relações estruturadas que lhes permitem constituir uma linguagem coerente e sistemática.