Schopenhauer (MVR1:216-217) – ações calculadas

Por fim, lá onde a Vontade atingiu o grau mais elevado de sua objetivação e não é mais suficiente o conhecimento do entendimento, do qual o animal é capaz e cujos dados são fornecidos pelos sentidos, dos quais surgem simples intuições ligadas ao presente, um ser complicado, multifacetado, plástico, altamente necessitado e indefeso como é o homem teve de ser iluminado por um duplo conhecimento para poder subsistir. Com isso, coube-lhe, por assim dizer, uma potência mais elevada do conhecimento intuitivo, um reflexo deste, vale dizer, a razão como faculdade de conceitos abstratos. Com esta surge a clareza de consciência que abarca panoramas do futuro e do passado e, em função destes, ponderação, cuidado, habilidade para a ação calculada e independente do presente, por fim a consciência totalmente clara das próprias decisões voluntárias enquanto tais. Se, de um lado, com o conhecimento meramente intuitivo surge a possibilidade da ilusão e do engano, e assim é suprimida a infalibilidade na atuação destituída de conhecimento da Vontade, tem de vir em seu auxílio, em meio às exteriorizações guiadas pelo conhecimento da Vontade, o instinto e o impulso industrioso como exteriorizações destituídas de conhecimento da Vontade; por outro lado, com o aparecimento da razão é quase que inteiramente perdida aquela segurança e infalibilidade das exteriorizações da Vontade (que no outro extremo, na natureza inorgânica, aparece inclusive como estrita conformidade a leis): o instinto entra por completo no segundo plano. A ponderação, que agora deve a tudo substituir, produz (como exposto no primeiro livro) vacilações e incertezas; o erro se torna possível, obstando em muitos casos a adequada objetivação da Vontade em atos. Pois, embora a Vontade já tenha tomado no caráter a sua direção determinada e inalterável, em conformidade com o qual aparece de maneira infalível caso seja dada a ocasião dos motivos, ainda assim o erro pode falsear as suas exteriorizações, na medida em que motivos ilusórios, agindo como se fossem reais, ocupam o lugar destes e os suprimem. 1 Por exemplo, a superstição que compele o homem por motivos imaginários a modos de ação que são exatamente o oposto de como sua vontade se exteriorizaria nas circunstâncias existentes: Agamenon sacrifica sua filha; um avaro dá esmolas por puro egoísmo na esperança de um retorno cem vezes maior, e assim por diante.

  1. Os escolásticos dizem com bastante acerto: “Causa finalis movet non secundum suum esse Reale, sed secundum esse cognitum, a causa final não faz efeito segundo sua existência real, mas segundo sua existência conhecida” (Cf. SUAREZ, Disp. Metaph. Disp. XXIII, sect. 7 et 8).[]

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