Schopenhauer (MVR1:187) – vontade própria

Jair Barboza

Espinosa afirma (Epist. 62) que, se uma pedra fosse atirada, por choque, ao ar, e tivesse consciência, pensaria voar por vontade própria. Apenas acrescento: a pedra teria razão. O choque é para ela o que para mim é o motivo. O que nela aparece como coesão, gravidade, rigidez no estado adquirido é, segundo sua essência íntima, o mesmo que reconheço em mim como Vontade, e que a pedra, se adquirisse conhecimento, também reconheceria como Vontade. Espinosa, naquela passagem, concentrou sua atenção na necessidade com que uma pedra voa, e quis, com razão, transmiti-la à necessidade do ato voluntário isolado de uma pessoa. De outra perspectiva considero a essência íntima, que, como pressuposto, confere significação e validade a toda necessidade real (isto é, efeito a partir da causa), que no homem se chama caráter e na pedra qualidade, como sendo em ambos os casos uma única e mesma coisa, chamada VONTADE ali onde é imediatamente conhecida, e que na pedra tem o seu grau mais fraco e no homem o seu grau mais forte de visibilidade, de objetidade. (p. 187)

E. F. J. Payne

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