Schopenhauer (MVR1) – fenômeno da vontade

Com isso tem de assumir que seu corpo é o único indivíduo real no mundo, o único fenômeno da vontade, o único objeto imediato do sujeito. – MVR1: Livro II §19

Se, contudo, abstraio o meu caráter e pergunto por que em geral quero isso e não aquilo, então resposta alguma é possível, justamente porque apenas o fenômeno da vontade está submetido ao princípio de razão, não ela mesma, que, nesse sentido, é para ser denominada [164] sem-fundamento. MVR1: Livro II §20

Assim, se cada ação de meu corpo é fenômeno de um ato volitivo, no qual minha vontade mesma, portanto meu caráter, expressa-se em geral e no todo sob certos motivos, então o pressuposto e a condição absolutamente necessária daquela ação têm de ser também fenômeno da vontade, pois o aparecimento desta não pode depender de algo que não exista imediata e exclusivamente mediante ela, que, portanto, seja-lhe simplesmente contingente: com o que seu aparecimento mesmo seria casual. MVR1: Livro II §20

Este, portanto, já tem de ser fenômeno da vontade, e relacionar-se com minha vontade em seu todo, isto é, com meu caráter inteligível, cujo fenômeno no tempo é meu caráter empírico, da mesma forma que a ação isolada do corpo se relaciona com o ato isolado da vontade. MVR1: Livro II §20

Tampouco a explanação fisiológica da vida vegetativa (functiones naturales, vitales), por mais longe que vá, pode suprimir a verdade de que toda vida animal a se desenvolver nesses moldes é ela mesma fenômeno da vontade. MVR1: Livro II §20

O processo de alimentação e as mudanças completas no corpo animal se darem segundo causas (excitações) que fazem efeito necessariamente; mesmo assim a série completa das ações, portanto também cada ação isolada, bem como sua [166] condição, o corpo todo que a consuma, conseguintemente o processo no e pelo qual o corpo subsiste, não são outra coisa senão o fenômeno da vontade, o tornar-se-visível, a objetidade da vontade. MVR1: Livro II §20

Tal significação anuncia imediatamente a si na consciência, mediante o fato de, por um lado, a prática da injustiça ser acompanhada por uma dor interior, a qual é simplesmente a consciência sentida de quem praticou a injustiça via força excessiva de afirmação da vontade [436] presente nele mesmo até o grau de negação do fenômeno da vontade alheia; por outro lado, devido ao fato de o praticante da injustiça ser, como fenômeno, diferente de quem a sofre, porém em si idêntico ao sofredor. MVR1: Livro IV §62

Ao examinar o íntimo dessa justiça já se descobre a intenção de não ir tão longe na afirmação da própria vontade até a negação do fenômeno da vontade alheia, compelindo-a a servir à própria. MVR1: Livro IV §66