O TRÊS EM DIFERENTES TRADIÇÕES E SISTEMAS DE PENSAMENTO
Este símbolo é universal. Encontramo-lo em todas as culturas. Na chinesa, por exemplo, temos a tríade de Lao Tse: Yang, princípio predominantemente ativo, e Yin, princípio predominantemente passivo, que são os aspectos de opostos contrários da unidade, que é o Tao. A harmonia entre os dois, h’u, forma os três puros, san-tsing, que são expressados por três sons y (a unidade absoluta) Hi (existência universal), Uei (a existência individual). Combs compara essas três letras, Y, Hi, Uei, com as três primeiras letras do tetragrama judeu iod-hé-vau, que juntando-se a repetição de hé, temos Jeová (he-yod-he-vau), e nos gregos a expressão mística evohé, que os romanos usavam para aclamar Baco, e finalmente, na decadência, a Momo.
No “Tao Te Ching”, diz Lao Tse : “o primeiro engendrou o segundo; os dois produziram o terceiro, e os três fizeram todas as coisas. Aquele que o espírito apercebe, e que os olhos não podem ver, chama-se Y, a unidade absoluta, o ponto central; aquele que o coração entende, e que o ouvido não pode ouvir, chama-se Hi, a existência universal; aquele que a alma sente, e que a mão não pode tocar, chama-se Uei, a existência individual. Não busques penetrar nas profundezas desta trindade, sua incompreensibilidade provém de sua unidade.”
E essa unidade é Tao, que é a verdade, é a vida, é a sua própria regra e o seu próprio modelo.”
“É tão elevado que não podemos alcançá-lo, tão profundo que não podemos sondá-lo; tão grande que contém todo universo. Quando olhamos do alto, vemos que não tem começo; quando seguimos suas produções, vemos que elas não têm fim.”
Encontramos a tríade na religião shintoísta, no Japão. No Egito, principalmente em Osíris, Ísis e Horus, que é o filho, produto da oposição entre o masculino Osíris, princípio ativo, e a feminina Ísis, princípio passivo, que formam Horus, o Synolon, no sentido aristotélico, isto é, o existente determinado.
Encontramos a tríade, na índia, em Agni, Indra e Soma, e posteriormente na trimurti Brama, Siva, Vishnu, em sentido exotérico, mas que esotericamente são três aspectos de Braman; Sati, Shit, e Anandra, que significam existência, espírito, e vida. Encontramo-la nos caldeus em Oanes, Bim, e Bel. Nos fenícios; com Baal, Astartée e Belkarte; nos persas, com Ormuzd, Ariman e Mitra. Na religião escandinava, com Odin, Frega e Tor. Nas religiões naturalistas simbolizadas pela tríade do Sol, Lua e Terra.
O três é assim o símbolo da trindade divina em todas as religiões cultas da humanidade.
Encontramo-lo também entre os gregos, como entre os filósofos. No cristianismo, temo-lo na trindade Pai, Filho, Espírito Santo, com várias interpretações, mas todas aceitando Filho como engendrado, e o Espírito Santo como o Amor entre ambos. Assim o Poder vem do Pai, o Intelecto é o Filho, e a Vida é o Espírito Santo.
Dai a trindade de São João: Vita, Verbum, e Lux, símbolos: a primeira, da ação; Verbum, do ato; e Lux, da intelectualidade, ou da Vontade.
Não vamos transcrever as diversas maneiras de interpretar a trindade cristã, mas devemos compreendê-la sempre como três pessoas, isto é, como três papéis supremos que representa a divindade, nas suas procissões ad intra, isto é, imanentes à própria divindade, como Acto, Intelecto e Amor. Acto como princípio, intelecto como escolha, vontade; amor, o poder absoluto unitivo do ser, que identifica as pessoas, que no ser supremo coincidem no mesmo ser e na mesma simplicidade absoluta.
0 nosso conhecimento de crise, que exige oposições nitidamente esboçadas, por dispormos de esquemas que, separados, não podemos captar na sua homogeneidade, explica-nos o mistério que se atribui à trindade, que é objeto de especulação e não de solução, pois só beatificamente poderíamos compreendê-la.
Este é o pensamento da Igreja, o que não impede ao filósofo que busque explicá-la, embora aquela estabeleça que toda e qualquer explicação pode ser melhor que outra, nunca porém exaustiva da Verdade, cuja captação total exige um intelecto infinito, do que não dispomos.
Nas diversas classificações da psicologia, encontramos a presença do três, das disposições de nossas funções e faculdades, das almas : aningal, vital, intelectual, ou outras como sensibilidade, intelectualidade, vontade, etc.
O homem pode ser visto triadicamente como sensibilidade, intelectualidade e afetividade, isto é, o sensório-motriz, o pensamento, e o coração. Esta é a divisão triádica dos índios quíchuas da Bolívia e da Argentina, que expusemos na “Psicologia”.
O ternário é por sua vez simbolizado de diferentes maneiras. O símbolo mais universal é o triângulo. Encontramos o triângulo na China para simbolizar o Tau; no Egito, nas pirâmides, que por sua vez são três, como a de Kheops, Khefren e Mikerinos; nos judeus com o símbolo de Jeová.
E também nas igrejas cristãs, na maçonaria, entre os hindus, etc.
Tudo quanto é três, por ser três, participa da tríade suprema, por isso, em todos os povos, em todas as eras, encontramos o três como símbolo do Supremo, da Divindade.
Seguindo as providências que dispusemos quanto aos planos simbólicos, o três, como símbolo primário, secundário, etc., até alcançar a década, reflete toda a simbolização universal de que três aponta, pois, em todos os planos, temos sempre presente o ternário. Ao fazermos este exame verificamos que hieraticamente todos os planos universais se processam por ligações de ternário a ternário. A trindade suprema, divina; logo abaixo a trindade da criação, os opostos e o que surge desta oposição, a relação; o ternário ontológico e o ôntico que dele decorrem hierarquicamente, até o ternário da criatura, tomada individualmente. Por isso encontramos na arte decorações em forma triangulares, em que o vértice do triângulo penetra na base do triângulo superior, entrelaçando-se, assim, ternários ligados uns aos outros, o que simboliza a ordem e consequentemente a lei universal.
Em todas as igrejas, templos e até em construções profanas, encontramos símbolos do ternário, expostos intencionalmente ou não, os quais nos favorecem, com o auxílio da dialética simbólica, realizar a análise de uma obra cultural nos seus diversos planos, isto é, desde a significabilidade mais próxima até à mais remota.
Na tríade maçônica, aprendiz, companheiro, mestre, isto é, trabalho, estudo, sabedoria, vemos a mesma tríade das ordens iniciáticas, como no pitagorismo: paraskeiê (preparação, aprendizagem), cathartyses (de cátharsis, purificação, estudo conhecimento), e, finalmente, teleiôtes (de teleion, fim, finalidade, conhecimento das causas, saber).
Encontramos o três não só nesta simbolização iniciática como também como símbolo de uma iniciática superior, grau mais elevado de penetração no místico, no oculto, no desconhecido, no que se cala, no que é temido, como vemos em todos os mitos religiosos nos três dias, em que a figura divinizada penetra nas trevas para, finalmente, ressurgir, como se dá no mito de Buda, Krishna, de Osíris, de Derreter, Dioniso, Cristo etc.
Teríamos assim duas tríades iniciáticas: a primeira no campo do conhecimento, e a segunda no mistério, cuja soma de ambas daria o seis, símbolo da harmonia que mais adiante estudaremos, que é simbolizado também pelos dois triângulos, que formam a estrela de seis pontas, da qual trataremos oportunamente.
São símbolos do 3, o tridente, a letra G (gama dos gregos, o Ghimel dos hebreus). O Tridente, mais a flor de lótus, simbolizam o iniciado nos mistérios.