TEMA III
ARTIGO 2 — AS RELAÇÕES
Ao proceder um exame do princípio de causalidade, logo nos surge, desde que permaneçamos dentro do quantitativo, a ideia de lei, a ideia, portanto, de relação, relação quantitativa.
Consideravam Leibniz, Bergson, etc, que temos um sentir da nossa eficacidade de um todo causante de fenômenos, graças à experiência da transmissão da força, por exemplo, como a do taco à bola de bilhar.
Já nos tempos de Sócrates, os megáricos negavam a relação. Diziam que nenhuma coisa poderia ser qualidade de outra (fundavam-se, assim, no parmenidismo, que como ismo é uma forma viciosa da filosofia de Parmenides.
Diziam; não podemos dizer que cavalo corre, porque a ideia de cavalo é uma ideia e a de correr é outra. Não viam nenhuma legitimação possível da síntese operada pelo homem no juízo.
Havia assim sujeitos sem comunicação com os seus atributos, e sem comunicação uns com os outros. Se assim é, não há mudança, não há movimento no universo, há apenas termos, e as relações são apenas aparências.
Platão combateu-os afirmando que há possibilidade do juízo, porque o espírito humano pode ligar, contrariamente ao que pensavam pensavam os megáricos, termos diferentes.
O espírito humano está em relação com outras coisas além dele, e pode estabelecer relações que correspondem à relação que existe entre as coisas. Tal é a dupla condição da verdade. O espírito humano está em relação com outras coisas, e aqui Platão coloca o que é fundamento e princípio da fenomenologia de Husserl para exemplificar: uma ideia é sempre ideia de alguma coisa.
E em segundo lugar, o juízo é um enunciado de relações; um juízo verdadeiro é um enunciado de relações que são reais.
O universo de; Platão é um universo de relações. Para que uma ideia seja a ideia que ela é, supõe que ela é outra do que as outras ideias, isto é, que a própria identidade é uma relação a própria identidade é a afirmação que uma coisa é outra que outras e a mesma que ela mesma.
Posteriormente Hegel mostrará que pensar no ser é pensar no não-ser, e que a ideia de unidade exige a de, multiplicidade.
A teoria que nega absolutamente as relações, termina na negação do ser e da verdade, o que também se dá numa teoria que apenas afirme que tudo é relação.
Se pensamos, dizia Platão, pensamos alguma coisa diferente do nosso espirito.
Verdade é o fato de as relações que temos em nossos pensamentos convirem às relações que estão nas coisas; e erro, o desacordo entre as representações e as coisas.
Em toda afirmação, continuava, está implicada uma ideia de negação, pois afirmar uma coisa é também dizer que ela é diferente das outras.
Toda ideia se define por sua diferença às outras. A relação significa apenas referência a outro (re-latum). Podemos estabelecer a seguinte distinção:
a) relação como acidente predicamental;
b) relação chamada transcendental.
Na segunda, expressa-se a ordem de uma coisa a outra. Esta ordem não é uma realidade distinta do sujeito, que se identifica com ele. Pode ser substancia, quantidade, qualidade etc Exs.: a potência de entender e de querer nos atos de intelecção ou de volição, etc.
A predicamental expressa uma categoria distinta de ser, irredutível a todas as outras, a qual consiste precisamente na ordem respeito a ou referência entre dois termos, e não é nem substancia, nem quantidade, nem qualidade, etc. é tão só relação (re-latio).
Para os escolásticos, a relação transcendental é apenas relação no nome, porque, enquanto à sua essência, se identifica com os seres aos quais é atribuída.
O ser do relativo é um referir-se a outro. A sua natureza consiste em certa referência do uma coisa a outra.
Após esta introdução sintética do tema da relação, estudemo-lo analiticamente para o encerrarmos, afinal, numa concreção decadialética.
Já salientava Alberto Magno – Albertus Magnus “Inter philosoohos semrper fuit disputatio de relativis”, e se procurarmos historicamente veremos que tal tema está sempre na ordem do cultura ocidental, como em outras culturas
Na Grécia, desde os pré-socráticos até os filósofos helenistas e no mundo cristão desde os primeiros apologetas até os dias de hoje, com momentos de fluxo e de refluxo como o refluxo depois do século XIV, até chegar a Kant, e na filosofia posterior até nossos dias, período de fluxo as relações passam,ao lado dos modos e dos valores, a ser tema primordial, como o serão, em em futuro próximo, os sinais, os símbolos e os modos.
Conhecida a relação já dos filósofos antigos, e especulada por eles, podemos partir de Aristóteles para a colocação do tema dentro dos quadros da filosofia como atualmente podemos construí-la.
O pros ti, o para alguma coisa, o ad-aliquid dos escolásticos, a relação é o ser cujo ser consiste no para, ante algo. Pros ti é o relativo para ele.
Nos Comentários à Física de Aristóteles Tomas de Aquino – São Tomás sintetiza a definição do peripatético nestas palavras: a relação consiste unicamente na referência a outra coisa (re-fero, trazer para… no particípio passado re-latum, de onde relatio, relativo, relação, o que corresponde ao pros ti). É uma definição muito ampla mas que inclui todas espécies de relação.
Duns Scot definia “Relatio est essentialiter habitudo ad aliud”, a relação é essencialmente a habitudo a alguma coisa, o haver-se ante alguma coisa, o habere ad, o referri ad, o ad-aliquid, o respectus, o esse ad, esse ad, é da sua essência.
Nas categorias aristotélicas, a relação é um acidente.