O que chamamos de “uso do tempo” é muitas vezes, se não sempre, uma maneira de não usar o tempo, de colocá-lo em espera e em segundo plano. Mais precisamente, é uma maneira de não vivenciar o tempo como tal. O que ocupa o tempo, o uso do tempo, é também o que torna o tempo imperceptível, insensível, fora da consciência e fora da vista. É quando não há nada para fazer que o tempo se torna perceptível – não o tempo no sentido da estrutura transcendental de toda percepção possível, como ensina Kant, mas o tempo como pura duração que nada pode ocupar – e é imediatamente revelado como uma fonte de tédio e angústia. Acontece que nunca há nada sério para fazer, ou pelo menos nada cuja seriedade não se evapore com a menor reflexão, como manteiga derretendo no calor da frigideira. Portanto, é sempre uma questão de urgência não deixar o tempo se esgotar, improvisar no momento, no caso de uma pausa na atenção que estava concentrada em algum objeto, uma ocupação alternativa para que o tempo possa continuar a fluir sem danos. Basicamente, a expressão comum “passar o tempo” significa principalmente que encontramos um investimento que faz com que o tempo não passe mais, ou melhor, que encontramos uma maneira de esquecer que o tempo está passando. O problema com o tempo é que ele só “passa” (ou seja, é esquecido) se você tiver algo a fazer com ele. E a tragédia do tempo é que, infelizmente, nunca há nada a fazer com ele.