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Éden / Eden / jardim do Éden / Κήπος της Εδέμ / παράδεισος / paradeisos / paraíso / haggan / pardes

  

Nothomb (Éden)

Não há desfrute desdobrado, felicidade completa senão lúcida e é o que já evoca a simples palavra “Éden” que quer dizer em hebreu “delícias”. A fortiori a expressão “jardim do Éden” que a Bíblia das Origens designa como o “lugar” por excelência no mais antigo dos três relatos da Criação que ela contém. O Éden deve ser confirmado? A palavra, antes de significar “delícias” em hebreu, queria dizer “estepe” em acádio ou árabe antigo? Uma certa crítica, sempre ávida em “demitologizar”, o pretende. O “jardim” plantado por Deus para o Homem só era um enclave em um mundo hostil? O relato dos Seis dias, redigido no segundo século antes de nossa era mas muito depois do relato do Jardim do Éden, responde. O mundo tal qual Deus criou na origem, era — e é ainda de certa maneira — integralmente bom.

Leo Schaya

Os degraus quase inumeráveis de interpretação da Escritura se encontram resumidos nas quatro consoantas da palavra-chave hebraica PaRDeS, significando o Paraíso da abordagem cognitiva de Deus. Cada uma destas consoantes representa a inicial de um destes graus de abordagem, a começar, em sentido ascendente, por Peshat, a “simples” interpretação literal da Escritura; em seguida vem Remez, a “alusão” ou o simbolismo das frases, das letras e dos signos de pronunciação do texto escriturário hebraico, em seguida, Derash, sua “interpretação” explícita, homilética, tanto figurada quanto abstrata; enfim, Sod, o “Mistério”, a iniciação secreta aos “Mistérios da Revelação”, sua exegese puramente espiritual ou esotérica. Quanto ao ensinamento exotérico ou “público”, aquele do Talmude  , o “Estudo” aberto a todos, se estende sobre os três primeiros graus exegéticos, enquanto o quarto é próprio ao esoterismo, a Qabbalah   ou “Recepção” da Verdade pura, que domina e elucida os graus inferiores da hermenêutica. Os cabalistas — e por vezes os talmudistas — utilizam acessoriamente em suas exegeses a ciência das letras e dos números (v. Linguagem), cada letra do alfabeto hebreu representando também um número. Os três procedimentos mais conhecidos desta ciência são a Guematria operando pelo valor numérico das letras, o Notarikon onde se pode servir das letras iniciais, medianas e finais das palavras escriturárias, e a Temurah ou método das permutações e das combinações das letras da Escritura. Enfim, segundo a tradição judaica, cada palavra divina foi revelada no Sinai sob setenta aspectos fundamentais — correspondendo entre outros aos “setenta povos da terra” — e constituindo a base de outros aspectos subsequentes dos quais o número pode se elevar, simbolicamente falando, até “seiscentos mil”; é o número dos Filhos de Israel assistindo à revelação sinaítica e dos quais o assimilou segundo sua receptividade espiritual própria. A princípio, cada lei mosaica é suscetível de quarenta nove interpretações em um sentido conforme à tradição codificada, e de quarenta nove outros igualmente conformes a ela, mas ao mesmo opostos e complementares aos primeiros, o “quinquagésimo sentido” — oculto — sendo aquele da suprema “coincidentia oppositorum” que implica, em última análise, a “liberação” espiritual no Uno. Dada a multiplicidade de graus e de aspectos de sua interpretação legítima respondendo às capacidades espirituais e, correlativamente, às necessidades humanas extremamente variadas dos fiéis, a palavra de Deus é comparada pela Escritura a um fogo de miríades de centelhas ou a um martelo que quebra a pedra, na qual estão gravadas as letras reveladas e de onde libera estas centelhas iluminadoras: “Pois Minhas palavras são como fogo, diz o Eterno, e como um martelo que quebra a pedra” (Jeremias XXIII, 29).

A essa multiplicidade de interpretações da Verdade revelada, multiplicidade que se encontra mutatis mutandis nas outras religiões, corresponde aquela de sua realização pelos homens que a afirmam segundo o grau de sua fé e de sua compreensão efetiva. Estes graus constituem suas relações interiores — frequentemente permanentes — com Deus; por estes, eles se situam diferentemente em sua Realidade universal e infinita: “Há várias moradas na casa de meu Pai” (Jo XIV, 2). São os seres raros cuja necessidade de causalidade vai ao infinito, os sedentos de absoluto, que passam de um degrau espiritual a outro, com o desejo inextinguível de alcançar à Verdade pura; eles ascendem por assim dizer pela “Escada de Jacó” que é “posta sobre a terra e cujo topo toca no céu”, escada “acima da qual se encontra o Eterno” (Gen XXVIII,12). A “terra” corresponde à letra da Escritura, e o “céu” a seu espírito, enquanto o “Eterno” é a eterna Realidade que os homens espirituais buscam neles mesmos, até O encontrar com Sua ajuda; pois “aquele que busca encontra”, ele encontra “o Reino de Deus que está em vós mesmos”. Há aí toda a diferença entre os crentes que, apesar de sua fé, permanecem presos à terra, ao criado, à letra, às concepções exotéricas da religião cuja finalidade é a coexistência bem-aventurada do homem com o Criador, no aqui em baixo como no além, enquanto a pura espiritualidade ou o esoterismo tem por meta conduzir os contemplativos qualificados, tanto quanto possível desde esta vida, para a realização da identidade transcendente e eterna da essência humana com a Essência Divina, a “unio mystica” no sentido mais elevado do termo. [SchayaCD]

Allard l’Olivier

Em Cabala judaica, o Pardes é o lugar do coração onde Deus reside (Shekinah); Pardes como diz o nome «paraíso» deriva do sânscrito para-desha, palavra que significa «direção suprema» — aquela a seguir para «ver» a Shekinah; o Pardes é também o «jardim», o verdor místico.

Alcançar o Pardes é a meta do conhecimento secreto. Ora, o Talmude   reporta o que se passou com os quatro rabis que penetraram juntos no Pardes: só Akiba-ben-joseph disto saiu indemne; ben-Azai morreu, ben-Zoma ficou louco e ben-Abouya renegou sua fé. Sei que o Olho do Coração pode se abrir, se Deus assim o julgar, então mesmo que que a alma seja impura. Neste caso, aquele a quem foi dado ver experimenta tormentos da danação. É a visão em regime de Rigor. [L’illumination du coeur]

Charles d’Hooghvorst

Qual o objeto da Cabala? É a reunificação do Nome de Deus. Segundo a tradição hebraica, no momento da transgressão (quer dizer da Queda) de Adão e Eva, o Nome de Deus ficou dividido em dois. O problema consiste em reunificá-lo.

Todas as palavras da Bíblia, os "carros do Santo, bendito seja". não são, segundo a Cabala, nada mais que Nomes de Deus.

O conhecimento destes Nomes de Deus reintegra o cabalista ao Paraíso perdido.

Observemos que em hebreu a palavra Paraíso (PRDS) está composta pelas primeiras letras das quatro palavras que se referem aos quatro sentidos da Escritura:

  • Pshat: o sentido simples
  • Remez: a alusão (signo)
  • Derash: a explicação
  • Sod: o secreto
    e os quatro juntos constituem o Paraíso.

Não se trata de quatro sentidos distintos, posto que estão todos vinculados ao "secreto". São como os degraus que a ele conduzem. Inclusive o primeiro sentido, o sentido simples, já transmite o secreto. Achar o Paraíso é ler a Escritura como deve ser lida. Aquele que o consegue retorna ao Paraíso. Entrar nele equivale a possuir os Nomes de Deus, é ter revivificado o texto sagrado e tê-lo penetrado. Eis aqui o Paraíso. Não há outro. [La Puerta – LA CABALA]