Aldous Huxley. A Ilha.
[…] As paisagens realmente fazem com que as pessoas se lembrem de quem são.– E serão melhores do que as cenas da vida de um santo ou de um salvador?
Vijaya balançou a cabeça.
– Em primeiro lugar aí está a diferença entre o objetivo e o subjetivo. Um quadro de Cristo ou de Buda é simplesmente a lembrança de algo observado por um behaviorista e interpretado por um teólogo. Porém, quando se é confrontado com uma paisagem como esta, é psicologicamente impossível que seja vista com os olhos de algum J. B. Watson ou com o cérebro de um Tomás de Aquino. A submissão a essa experiência imediata é quase que forçada e a pessoa é praticamente compelida a representar um ato de autoconhecimento.
– Autoconhecimento? Como assim?
– Sim, autoconhecimento — insistiu Vijaya. — A vista deste vale é a projeção da sua própria mente, da mente de todos, tal qual existe, acima e abaixo do nível da história de cada um. São os mistérios da escuridão, de uma escuridão fervilhante de vida. Verdadeiros apocalipses de luz: o brilho da luz das frágeis casinhas, das árvores, da grama ou dos espaços azuis entre as nuvens, tem a mesma intensidade. O homem é tão divino quanto a Natureza e tão infinito quanto o Vazio. Isto é um fato que resiste a todas as tentativas que fazemos para negá-lo. Desse modo, estamos ficando perigosamente próximos à teologia e ninguém jamais foi salvo por uma teoria. Aferremo-nos aos dados e aos fatos concretos.