O homem é um animal aberto (Zubiri)

Zubiri1982

Naturalmente, nem toda verdade é científica ou filosófica no sentido mencionado. Mas toda verdade envolve a atualidade campal do real. Por isso o homem é um animal aberto não só a mil modos de saber, mas a algo mais profundo. Em face do puro animal, que é um animal de vida encerrada, o homem é sem dúvida o animal aberto a toda forma de realidade. Mas, como animal de realidades, o homem não é só um animal cuja vida é aberta; é antes de tudo o animal intelectivamente atualizante da própria abertura do real como real. Não é senão por isso que sua vida é aberta. A inteligência senciente, essa modesta faculdade de impressão de realidade, atualiza assim no animal humano o todo aberto do real como real. A inteligência atualiza a abertura do real. Por sua vez — não é o nosso tema —, ao surgir de uma inteligência senciente, o real mesmo está aberto, mas é outro tipo de realidade enquanto realidade.

Que é esta abertura ao real? Poder-se-ia pensar que é a abertura ao ser. Se assim fosse, o homem seria o compreensor do ser. Não é assim. O homem é o apreensor senciente do real. A verdade não é verdade do ser nem do real enquanto é, mas é verdade do real como real. Portanto, apresenta-se-nos agora não só o problema de “verdade e realidade”, mas o grave problema de “verdade, realidade e ser”. Depois de termos examinado o que é a verdade, e o que é a verdade do real (em suas diversas formas e em sua unidade primária), temos de nos formular o terceiro problema; verdade, realidade e ser.