A “associação de ideias” que traz a experiência passada só pode restituir conexões extrínsecas e ela mesma só pode ser uma conexão extrínseca porque a experiência originária não comportava outras. Intro II
A sensação não admite outra filosofia senão o nominalismo, quer dizer, a redução do sentido ao contra-senso da semelhança confusa, ou ao não-senso da associação por contiguidade. Intro II
Ora, as sensações e as imagens que deveriam iniciar e terminar todo conhecimento aparecem sempre em um horizonte de sentido, e a significação do percebido, longe de resultar de uma associação, está ao contrário pressuposta em todas as associações, quer se trate da sinopse de uma figura presente ou da evocação de experiências antigas. Intro II
As partes de uma coisa não estão ligadas entre si por uma simples associação exterior que resultaria de sua solidariedade constatada durante os movimentos do objeto. Intro II
Se nós nos atemos aos fenômenos, a unidade da coisa na percepção não é construída por associação, mas, condição da associação, ela precede os confrontos que a verificam e a determinam, ela se precede a si mesma. Intro II
Portanto, a associação nunca funciona como uma força autônoma; nunca é a palavra proposta que, como causa eficiente, “induz” a resposta, ela só age tornando uma intenção de reprodução provável ou tentadora, só opera em virtude do sentido que adquiriu no contexto da experiência antiga e sugerindo o recurso a essa experiência, ela é eficaz na medida em que o sujeito a reconhece, a apreende sob o aspecto ou sob a fisionomia do passado. Intro II
Se enfim se quisesse fazer intervir, em lugar da simples contiguidade, a associação por semelhança, ver-se-ia ainda que, para evocar uma imagem antiga à qual ela de fato se assemelha, a percepção presente deve ser posta em forma, de maneira a se tornar capaz de trazer essa semelhança. Intro II
Assim, a atenção não é nem uma associação de imagens, nem o retorno a si de um pensamento já senhor de seus objetos, mas a constituição ativa de um objeto novo que explicita e tematiza aquilo que até então só se oferecera como horizonte indeterminado. Intro III
Com o problema do sentir, redescobrimos o da associação e da passividade. Intro IV
Elas deixaram de representar questão porque as filosofias clássicas se situavam abaixo ou acima delas, e lhes atribuíam tudo ou nada: ora a associação era entendida como uma simples coexistência de fato, ora era derivada de uma construção intelectual; ora a passividade era importada das coisas para o espírito, ora a análise reflexiva reencontrava nela uma atividade de entendimento. Intro IV
Ao contrário, essas noções adquirem seu sentido pleno se distinguimos o sentir da qualidade: agora a associação, ou, antes, a “afinidade” no sentido kantiano, é o fenômeno central da vida perceptiva, já que ela é a constituição, sem modelo ideal, de um conjunto significativo, e a distinção entre a vida perceptiva e o conceito, entre a passividade e a espontaneidade, não é mais apagada pela análise reflexiva, já que o atomismo da sensação não mais nos obriga a procurar em uma atividade de ligação o princípio de toda coordenação. Intro IV
É bem verdade que não é uma associação exterior que reúne, no hábito, os movimentos elementares, as reações e os “estímulos”. Intro III
A força da psicologia intelectualista, como a da filosofia idealista, provém do fato de que elas não tinham dificuldade em mostrar que a percepção e o pensamento têm um sentido intrínseco e não podem ser explicados pela associação exterior de conteúdos fortuitamente reunidos. Intro III
Sé se admite que no homem ela se “penetra de inteligência”, quer-se dizer através disso que simples representações podem deslocar os estímulos naturais do prazer e da dor, segundo as leis da associação de ideias ou segundo as do reflexo condicionado, que essas substituições ligam o prazer e a dor a circunstâncias que naturalmente nos são indiferentes e que, de transferência em transferência, constituem-se valores segundos ou terceiros que não têm relação aparente com nossos prazeres e nossas dores naturais. Intro V
Isso é evidente na primeira, já que a evocação da palavra não é mediada por nenhum conceito, que os estímulos ou os “estados de consciência” dados a convocam segundo as leis da mecânica nervosa ou segundo as leis da associação, e que assim a palavra não traz seu sentido, não tem nenhuma potência interior e é apenas um fenômeno psíquico, fisiológico ou mesmo físico justaposto aos outros e trazido à luz pelo jogo de uma causalidade objetiva. Intro VI
Quando fixo um objeto na penumbra e digo: “É uma escova”, não há em meu espírito um conceito da escova ao qual eu subsumiria o objeto e que, por outro lado, estaria ligado à palavra “escova” por uma associação frequente, mas a palavra traz o sentido e, impondo-o ao objeto, tenho consciência de atingi-lo. Intro VI
Do interior, eu conheço muito mal a mímica da cólera; faltaria, portanto, à associação por semelhança ou ao raciocínio por analogia um elemento decisivo — e aliás eu não percebo a cólera ou a ameaça como um fato psíquico escondido atrás do gesto, leio a cólera no gesto, o gesto não me faz pensar na cólera, ele é a própria cólera. Intro VI
O elo entre a palavra e seu sentido vivo não é um elo exterior de associação; o sentido habita a palavra, e a linguagem “não é um acompanhamento exterior dos processos intelectuais”. Intro VI
A constância do peso não é uma constância real, não é a permanência em nós de uma “impressão de peso” fornecida pelos órgãos mais frequentemente empregados e, nos outros casos, restabelecida por associação. II III
Ao contrário, se admitimos que todas essas “projeções”, todas essas “associações”, todas essas “transferências” estão fundadas em algum caráter intrínseco do objeto, o “mundo humano” deixa de ser uma metáfora para voltar a ser aquilo que com efeito ele é, o meio e como que a pátria de nossos pensamentos. Intro II
Falando do esquema corporal, primeiramente só se acreditava introduzir um nome cômodo para designar um grande número de associações de imagens, e se desejava exprimir apenas que essas associações eram estabelecidas fortemente, e estavam sempre prontas para operar. Intro III
Por exemplo, para que o esquema corporal nos faça compreender melhor a aloquiria, não basta que cada sensação da mão esquerda venha a se colocar e a se situar entre imagens genéricas de todas as partes do corpo, que se associariam para formar em torno dela como que um desenho do corpo em sobreposição; é preciso que essas associações sejam reguladas a cada momento por uma lei única, que a espacialidade do corpo desça do todo às partes, que a mão esquerda e sua posição esteja implicada em um desígnio global do corpo e tenha ali a sua origem, de forma que ela possa de um só golpe não apenas se sobrepor a ela ou baixar sobre ela, mas ainda tornar-se a mão direita. Intro III
Encaminhamo-nos então para uma segunda definição do esquema corporal: ele não será mais o simples resultado das associações estabelecidas no decorrer da experiência, mas uma tomada de consciência global de minha postura no mundo intersensorial, uma “forma”, no sentido da Gestaltpsychologie. Intro III
Se observamos que um cego é capaz de localizar os estímulos em seu corpo e de executar movimentos abstratos, além de existirem exemplos de movimentos preparatórios nos cegos, pode-se sempre responder que a frequência das associações comunicou às impressões táteis a coloração qualitativa das impressões cinestésicas e soldou estas últimas em uma quase-simultaneidade. Intro III
Quer os estímulos desencadeiem, segundo as leis da mecânica nervosa, as excitações capazes de provocar a articulação da palavra, quer os estados de consciência acarretem, em virtude das associações adquiridas, a aparição da imagem verbal conveniente, nos dois casos e fala tem lugar em um circuito de fenômenos em terceira pessoa, não há ninguém que fale, há um fluxo de palavras que se produzem sem qualquer intenção de falar que as governe. Intro VI
Portanto, o nome não se destacou das “associações” antigas, ele se alterou como um corpo inanimado. Intro VI
Os dados visuais, uma vez tornados “habituais”, criariam “associações” estáveis entre as direções antigas e as novas, que finalmente suprimiriam as primeiras em benefício das segundas, preponderantes porque fornecidas pela visão. II II
Se o “endireitamento” do campo resultasse de uma série de associações entre as posições novas e as antigas, como a operação poderia ter um andamento sistemático e como faces inteiras do horizonte perceptivo viriam juntar-se de um só golpe aos objetos já “endireitados”? Se, ao contrário, a nova orientação resultasse de uma operação do pensamento e consistisse em uma mudança de coordenadas, como o campo auditivo ou tátil poderia resistir à transposição? Seria preciso que, por uma circunstância improvável, o sujeito constituinte estivesse apartado de si mesmo e fosse capaz de ignorar aqui aquilo que ele faz alhures. II II