Marías: Parmênides

Parmênides de Eléia, na Magna Grécia, é o filósofo pré-socrático mais importante, o fundador da metafísica, em virtude de sua dupla descoberta: do ente (on) e da mente ou visão intelectual e imediata (noûs). Viveu desde fins do século VI até a primeira metade do V. Sua tradição imediata é a pitagórica e talvez a de Xenófanes, se bem que provavelmente indireta. Só se conservam fragmentos de seu grande poema em hexâmetros, que trazia o título tradicional Sobre a natureza (Peri physeos).

Parmênides determina todo o destino da filosofia do Ocidente, e muito especialmente da helênica. A antropologia posterior estará condicionada por seu pensamento, mas restam apenas fragmentos no que se refere diretamente ao homem; só há alusões vagas, que se podem interpretar unicamente a partir dos pressupostos gerais de sua filosofia. Para Parmênides, à parte de uma via impraticável, que é a que diz; que as coisas não são, há duas vias, às quais denomina via da verdade e via da opinião dos mortais: a primeira é a mente, o nus,, divino e comum a todos os homens, e conduz ao ente, uno, imóvel e eterno; a segunda é a da sensação, múltipla e passível de contrariedade, e conduz às coisas, muitas e mutantes, perecedeiras e corruptíveis como o corpo. O homem, pois, segundo participe do nus ou da sensação, reporta-se ao ente e é eterno como ele, ou às coisas, e é mortal como as mesmas. Em um ou outro caso, alcança a verdade do que as coisas são ou só a opinião, que afirma que as coisas são e não são, isto é, mostram uma aparência mutante que não corresponde à sua imobilidade real do ponto de vista do ser.

“É mister que aprendas todas as coisas, tanto o coração intrépido da Verdade bem redonda, quanto as opiniões dos mortais, nas quais não reside verdadeira certeza.” (Fr. 1 de Diels.)

“A (via) de que é e que é impossível que não seja, é a via da Persuasão (pois a Verdade a acompanha); a de que não ê e não é necessário que seja, esta, afirmo-te, é uma via completamente impraticável; pois nem podes conhecer o que não é (pois é impossível), nem dizê-lo; pois é o mesmo a visão noética (noein) e o ser.” (Fr. 4 e 5 de Diels!)

“Assim, segundo a opinião (dos mortais), as coisas chegaram a ser e são agora; e perecerão após se terem desenvolvido. A cada uma destas coisas, os homens puseram um nome determinado.” (Fr. 19 de Diels.)

Com os pressupostos antes Indicados, é claro o sentido destes fragmentos densos e herméticos. O coração intrépido (atremés) da verdade é uma primeira alusão à imobilidade e permanência do ente; a redondeza é a do ente maciço como uma esfera, e este ente só aparece ante a visão do nus, e por isso pode dizer que são o mesmo, sem que isto signifique nenhuma absurda identificação idealista do ser e do pensar, que Parmênides não pôde conjeturar. Os nomes que os homens põem às coisas significam a convenção (nomus), que se defrontará com a natureza (physis) em toda a filosofia posterior, como o ser verdadeiro com a opinião aparencial.

O melhor estudo publicado acerca de Parmênides é o de Karl Reinhardt: Parmenides und die Geschichte der griechischen Philosophie (1916).

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