Heráclito de Éfeso, na Ásia Menor, é aproximadamente contemporâneo de Parmênides, embora filosoficamente deva ser considerado seu sucessor, pelo fato de mover-se dentro da dialética parmenídica do ser e do não ser. Foi chamado o obscuro, por seu estilo breve e alusivo, muitas vezes difícil de interpretar-se. Heráclito entende a realidade como algo que varia de um modo constante, que flui como um rio, que nunca é o mesmo que antes. É como um fogo — o elemento mais móvel e ativo — que continuamente se acende e se apaga. A alma melhor é a que se assemelha ao fogo, a mais seca; sua inferioridade consiste em fazer-se úmida como o barro ou converter-se em água.
Mas, por outro lado, o homem participa de um certo princípio chamado sophón — o “sábio” —, que é uno, sempre e separado de todas as coisas. Pelo nus, o homem tende ao sophón — cujos predicados coincidem com os do ente de Parmênides — e assim é philósophos, filósofo.
“Heráclito diz que a alma é uma centelha da substância estelar.” (Macróbio, Sonho de Cipião, I, 14, 19.)
“Para as almas, se converterem em água é a morte; para a água, tornar-se terra é a morte. Porém da terra se faz a água; da água, a alma.” (Fr. 36 de Diels.)
“Todas as coisas que vemos despertos são morte; as que vemos dormindo, sonhos (mas as que vemos mortos são vida).” (Fr. 21 de Diels. A frase entre parênteses é um complemento de Diels, que supõe uma escala psíquica: vida, sonho, morte, paralela à física: fogo, água, terra.)
“Procurei-me a mim mesmo.” (Fr. 101 de Diels.)
“Não encontrarás os limites da alma, ainda que avances por todos os caminhos; tão profunda é sua medida.” (Fr. 115 de Diels.)
“Ao morrerem os homens, aguardam-lhes coisas que não esperam nem imaginam.” (Fr. 27 de Diels.)
Os fragmentos de Heráclito foram publicados em uma excelente edição por Bywater (The fragments of the work of Heraclitus of Ephesus on nature; translated from the Greek text of Bywater , with an introd. historical and critical). Pode-se consultar também Diels: Herakleitos von Ephesos: griechisch und deutsch.