Filosofia – Pensadores e Obras

útil

(in. Useful; fr. Utile; al. Nützlich; it. Utilé).

1. O que é meio ou instrumento para um fim qualquer. Nesse sentido, a utilidade foi definida por Alberto Magno (S. Th., I, q. 8, a. 3), Geulinex (Ethica, III, 6) e Haumgarten (Met., § 336); é um caráter das coisas.

2. Mais especificamente, a partir de Hobbes, chamou-se de útil o que serve à conservação do homem ou, em geral, satisfaz às suas necessidades ou atende aos seus interesses. Hobbes afirmava, a propósito, que cada homem é por direito natural árbitro do que lhe é útil, e que “a medida do direito é a utilidade” (De cive, 1642, 1, 9-10). Seguindo Hobbes, Spinoza identificava o comportamento racional do homem com a procura do útil: “A razão, não exigindo nada de contrário à natureza, requer por si só, antes de mais nada, que cada um se ame e procure o que lhe é útil e que realmente assim seja.” Entre as muitas coisas útil e desejáveis, as mais importantes são as que convém à natureza humana; por isso, a mais importante de todas é a conservação do homem, na sua própria pessoa e na do outro. “Os homens que são governados pela razão, ou seja, os que procuram o que lhe é útil segundo a direção da razão, não desejam para si nada que também não desejem para os outros homens justos, fiéis e honestos” (Et, IV, 18, schol.). Nesse sentido, por um lado a utilidade tornou-se fundamento da doutrina moral chamada utilitarismo e, por outro lado, conceito fundamental da economia política. Na primeira direção, Hume já perguntava “por que a utilidade agrada”, e encontrava a resposta a esta pergunta na natural simpatia do homem para com o outro homem (Inq. Conc. Morais, V). A coincidência da utilidade individual com a social estava assim já postulada e passou a ser um dos temas do utilitarismo. Bentham definia utilidade como “a propriedade de um objeto em virtude da qual ele tende a produzir benefício, vantagem, prazer, bem ou felicidade (Introduction to the Principles of Morals, 1789, I, I). No campo da economia política, por útil entendeu-se habitualmente “tudo o que satisfaz uma necessidade”; a percepção de que nem sempre o que satisfaz uma necessidade econômica (é desejado como tal) satisfaz a necessidade biológica induziu Pareto a introduzir a noção de ofelimidade, que é o útil no contexto econômico (Traité d’économie politique, n. 2028). [Abbagnano]