Céu e Terra, as formas da primeira oposição, desenham a base de um triângulo cujo vértice se oculta além-horizonte. O mundo, na sua elementaridade radical, mesmo no puro esquematismo de uma divisão em duas partes que se opõem como o «em cima» e o «em baixo», como a ligeireza do fogo e a gravidade da terra, como a luz e a noite de Parmênides, representa-se como complementaridade ou como símbolo. Como complementaridade, se de aquém para além-horizonte se vê que Céu e Terra são indissociáveis projetos do mesmo Projeto [v. projeto]. O triângulo da complementaridade é também o do simbólico: é o mesmo que se vê, olhando de cá para lá, ou de lá para cá, quero dizer, da base para o vértice, temos o ponto de vista da complementaridade, e do vértice para a base, o ponto de vista do simbólico. O primeiro lance do jogo cosmogônico é, pois, desenho ou [70] desígnio do triângulo, que, só por inversão de perspectiva, se qualifica de complementar ou de simbólico. Sempre há que nos precaver contra o positivismo, mesmo aqui de tão longe que estamos do que quer que se haja por positivo: se o triângulo é figura do originário, por todo o lugar e em todo o tempo o encontramos. Se o víssemos apenas no início de um processo, seria o caso de desconfiar da sua originalidade. Tranquilizemo-nos. O triângulo em que se reúne o «mundo que já é» como o «ainda não ser mundo», acha-lo-emos onde quer que busquemos o ser antes do que venha a ser, em relação com a interioridade do mundo que é; queremos dizer, todo o originário, dentro do mundo originado, imita a origem do mundo. Mundo não seria mundo aberto para mundos, se tudo quanto nele se contém, por sua vez, não estivesse aberto para a origem do mundo. [EudoroMito:70-71]