Aquilo que, embora tenha partes ou aspectos distinguíveis, apresenta-se contudo como unidade, e pode ser tratado sem referir-se às suas partes. O todo é quantitativamente a soma de suas partes, mas é, de qualquer forma, qualitativamente diferente e, quase sempre, especificamente diferente. No todo há algo mais que as partes, quer tomadas separadamente, quer como partes de um todo, partes integrais, que o constituem quantitativamente ou partes essenciais, quando componentes da essência ou natureza essencial de alguma coisa. [MFSDIC]
(gr. to pan; lat. Totum; in. Whole; fr. Tout; al. Ali; it. Tutto).
Um conjunto qualquer de partes, independentemente da ordem ou da disposição das partes. Nisso o todo pode ser distinguido da totalidade, em que a ordem das partes não pode ser modificada sem modificar a própria totalidade (v. mundo; totalidade; universo).
Com base nas determinações de Aristóteles (Met., V, 26, 1023 b 25), a lógica medieval distinguia: 1) o todo universal ou essencial, cujas partes constituem sua substância: p. ex., “corpo vivo”; 2) o todo integral, cujas partes são quantidades: quantidades semelhantes como em “água”, ou quantidades dessemelhantes como em “árvore”; 3) o todo na quantidade, que é o universal tomado universalmente como “todo homem” ou “nenhum homem”; 4) o todo no modo, que é o universal tomado sem determinação, como “o homem”; 5) o todo no lugar, que é uma determinação que compreende adverbialmente o lugar, como “em todos os lugares” ou “em nenhum lugar”; 6S o todo no tempo, que é uma expressão que compreende adverbialmente a totalidade do tempo, como “sempre” e “nunca” (Pedro Hispano, Summ. log., 5, 14-23). Nizolio reduzia a duas estas espécies, argumentando que só duas se encontram na natureza, o todo contínuo (que é uma coisa só) e o todo descontínuo, que é um conjunto de coisas singulares (De veris principiis, I, 10). A isso Leibniz acrescentava o todo disjuntivo, como p. ex. “o animal é homem ou bruto” (nota ao trecho citado de Nizolio). Outras distinções estão registradas em Hamilton: o todo por si, em que as partes estão interligadas necessariamente, como o corpo e a alma estão ligados no homem, e o todo per accidens, em que as partes estão ligadas contingentemente. O todo por si pode ser: lógico, como um universal; metafísico ou real; físico ou substancial; matemático, quantitativo ou integral; e coletivo ou de agregação (Lectures on Logic, 2a ed., I, pp. 202 ss.).
Na lógica moderna todo é um operador, mais precisamente o quantificador universal simbolizado pela notação “(x)” (v. operador). Quanto à diferença entre todo e qualquer, ver este último termo. [Abbagnano]
Aristóteles chama todo em primeiro lugar àquilo no qual não falta nenhuma das suas partes constitutivas e, em segundo termo, ao que contém as suas partes componentes de maneira que formem uma unidade. Esta pode ser de duas espécies: 1. as partes componentes são, por sua vez, unidades. 2. a unidade resulta do conjunto das partes. Finalmente, seguindo Platão, distingue entre o todo e a totalidade, ou melhor, suma. O todo é o conjunto no qual a posição das partes não é indiferente. Por exemplo, as totalidades orgânicas, as estruturas. A suma é o conjunto no qual é indiferente a situação das partes; por exemplo, as simples adições ou agregados. Isto apoia-se na distinção estabelecida por Platão no Teeteto entre “o todo composto de partes#” e “o todo antes das partes”; num caso trata-se de um conjunto feito ou engendrado e no outro de uma unidade sem partes separadas. Os estoicos continuaram esta distinção ao afirmar que a totalidade se refere o cosmos enquanto o todo se refere ao infinito como vácuo infinito ou receptáculo. As dificuldades apresentadas pela noção de todo deram origem muito rapidamente a diversos exercícios cépticos. Sexto, o empírico, aceitava que um todo pode existir fora das suas partes ou estar constituído por elas. Mas por um lado um todo não é mais que as suas partes, já que sem elas o todo desaparece; pelo outro, se as próprias partes formam um todo, este será um simples nome ao qual não corresponde existência individual; disto se deduz que o todo não existe. Isto acontece quando às considerações cépticas se liga uma tendência nominalista. Mas neste caso não só é preciso negar o todo mas também a própria parte, pois se existem partes, ou são partes do todo, ou uma de outra, ou cada uma por si mesma. Mas não pode haver partes do todo, pois este não é mais que as suas partes (e neste caso, além disso, as partes são partes de si mesmas, visto que se diz que cada uma das partes é complementária do . Não pode haver partes uma de outra, pois se diz que a parte está incluída naquilo de que é parte e é absurdo afirmar que, por exemplo, a mão está incluída no pé. Nem, finalmente, pode ser cada parte de si mesma, pois a causa da inclusão seria ao mesmo tempo maior e menor que ela mesma. Alguns autores medievais reiteraram os argumentos destinados a provar que as partes não têm existência real. Em geral, podemos agrupar as opiniões sustentadas a este respeito em três respostas: 1. Há uma distinção real ou absoluta, sendo a qual o todo é um composto cuja a natureza não pode reduzir-se à natureza das partes componentes; 2. Há uma distinção modal, segundo a qual não há uma terceira entidade distinta, mas o todo é o modo de ser das partes não incluído nestas; 3. Há uma distinção racional, segundo a qual só a mente pode fundamentar a diferença entre o todo e as partes. Na sua investigação sobre o todo e as partes, Husserl chama todo a “um conjunto de conteúdos que estão envolvidos numa fundamentação utilitária e sem auxílio de outros conteúdos. Os conteúdos de semelhante conjunto chama-se partes. Os termos de fundamentação utilitária significam que todo o conteúdo está, por fundamentação, em conexão direta ou indireta com qualquer outro conteúdo”. Ampliando a noção de todo à própria suma, podem estabelecer-se diversos tipos de totalidades: os agregados, os organismos, as totalidades funcionais, as estruturas. Não deve supor-se, no entanto, que os agregados são sempre meras sumas, mas podem ter também qualidades de forma, perfis estruturais. Os todos compõem-se de partes mas as partes são diferentes de acordo com a função que desempenham no todo. As partes podem ser, por sua vez, todos, quer dizer, podem dar-se todos compostos de totalidades. Podem ser pedaços, isto é, “partes independentes relativamente a um todo”, e momentos ou partes abstratas, quer dizer, partes não independentes relativamente a um todo. Com a teoria dos todos e das partes se enlaça a teoria do concreto e do abstrato. O primeiro é definido como o não independente, o que não pode subsistir por sisi mesmo, o que está num todo, mas não pode manter-se fora e independentemente dele. Ao próprio tempo, a referida teoria constitui o fundamento ontológico-formal de toda a investigação acerca da estrutura. [DFW]