Stein, Edith (1891-1942)
A ficha pessoal, que dicionários e enciclopédias fazem desta mulher, é a seguinte: “Edith Stein, nome original de Theresia Benedicta a Cruce, nascida em Breslau, morta em Auschwitz (Polônia), católica convertida do judaísmo, monja carmelita, filósofa e escritora espiritual que foi executada pelos nazistas por sua ascendência judaica e considerada mártir moderna” (Ene. Britânica).
Décima primeira filha de um casal de comerciantes judeus, Edith Stein herdou um caráter enérgico e sensível, inquieto e, ao mesmo tempo, responsável. Sua carreira universitária iniciou-se na Universidade de Gotinga (1911) onde entrou no círculo de discípulos de Edmund Husserl, criador da corrente filosófica Fenomenologia. Anos depois, passou a ajudante de Husserl, nomeado catedrático de filosofia da Universidade de Friburgo. Fez o doutorado em filosofia em 1916 e permaneceu nesta cidade até 1922, dedicando-se totalmente à filosofia e ao estudo dos manuscritos de seu mestre.
Paralelamente à sua vida acadêmica, corre sua vida religiosa. Desde tenra idade (1904), Edith Stein abandonou sua fé judaica para entrar num ateísmo agnóstico. Não obstante, em Gotinga terá também seus primeiros contatos com o catolicismo. A Ia Guerra Mundial produziu-lhe uma impressão tão viva que influiu decisivamente na profunda crise pessoal que atravessou em 1920. Esta circunstância preparou o terreno para sua conversão à religião católica. Decidiu receber o Batismo no verão de 1921, após a leitura da autobiografia de Santa Teresa, que realizou em 1922. A partir desta data, abandonou seu estudo ao lado de Husserl para dar aulas no Liceu Dominicano de Spira (1922-1932). Em 1933, teve de abandonar as aulas devido à legislação anti-semita dos nazistas. Em 1934, ingressou no carmelo de Colônia, tomando o nome de Teresa Benedicta de la Cruz. Primeiro a conversão e depois a entrada no carmelo não interromperam seu estudo e seus contatos com o mundo intelectual.
Em 1938, foi transferida para o Carmelo de Echt, na Holanda, acreditando estar a salvo da perseguição nazista. A condenação por parte do episcopado holandês (1942) da barbárie nazista provocou a ordem de Hitler de prender todos os católicos não arianos. Foi detida pela Gestapo em 1942 e levada, junto com sua irmã Rosa, ao campo de concentração de Auschwitz. Os sobreviventes desse campo de extermínio testemunham o auxílio prestado por Edith Stein a seus companheiros. Foi enviada à câmara de gás, onde morreu com sua irmã. Foi beatificada por João Paulo II em maio de 1987, em Colônia.
— A obra escrita por Edith Stein encontra-se no Archivium Carmelitanum Edith Stein, em Lovaina, Bélgica. Suas obras, em vias de publicação, estão classificadas da seguinte forma: a) Reelaboração dos manuscritos, que constituem a base da segunda e terceira parte das Ideen de Husserl. b) As traduções que fez de algumas obras de Newman e de Santo Tomás. Deste último traduziu De veritate e talvez também De ente et essentia. c) A numerosa correspondência com intelectuais e outras pessoas sobre temas particulares e sobre problemas de estudo, d) As obras de filosofia como : Sobre o problema da empatia; Contribuições para a fundamentação filosófica da psicologia e das ciências do espírito, I. Causalidade psíquica; II. Indivíduo e comunidade; A fenomenologia de Husserl e a filosofia de Santo Tomás de Aquino; O “ethos ” da missão da mulher etc. e) Estudos de espiritualidade e mística: Os caminhos do silêncio interior; A ciência da cruz; Estudos sobre São João da Cruz etc. Entre essas merece destaque sua autobiografia e Ser finito e ser eterno, talvez sua obra filosófica fundamental.
— De Edith Stein, afirma-se: “Jamais escreveu nada em que não acreditasse firmemente, não fez nada com espírito conformista” (R. Ingarden, companheiro de estudos). “A filosofia de E. Stein é uma combinação original de fenomenologia e pensamento escolástico. Da primeira tomou o método e os aspectos realistas; do segundo, principalmente o tomismo.”
— Outro importante ingrediente de seu pensamento filosófico é a mística, em especial a de três autores: o Pseudo-Dionísio, São João da Cruz e Santa Teresa de Jesus.
— Mas o interesse principal de sua filosofia está na construção de uma metafísica completa, novo degrau da filosofia perene que, sem deixar de ser estritamente filosófica, não descuida as riquezas proporcionadas pela experiência e por sua análise fenomenológica. A síntese fenomenológico-escolástica era para E. Stein uma síntese de razão e experiência, de temporalidade e eternidade, de finitude e infinitude, de existência e essência.
BIBLIOGRAFIA: Obras completas: I. La ciência de la cruz; Estúdios sobre san Juan de la Cruz, 1559; Cartas a H. Conrad-Martius; Teresa Renata dei Espíritu Santo: Edith Stein, una gran mujer de nuestro siglo, 1953. [Santidrián]