(gr. systema; in. System; fr. Système; al. System; it. Sistema).
1. Uma totalidade dedutiva de discurso. Essa palavra, desconhecida neste sentido no período clássico, foi empregada por Sexto Empírico para indicar o conjunto formado por premissas e conclusão ou o conjunto de premissas (Pirr. hyp., II, 173), e passou a ser usada em filosofia para indicar principalmente um discurso organizado dedutivamente, ou seja, um discurso que constitui um todo cujas partes derivam umas das outras. Leibniz chamava de sistema o repertório de conhecimentos que não se limitasse a ser um simples inventário, mas que contivesse suas razões ou provas e descrevesse o ideal sistemático da seguinte maneira: “A ordem científica perfeita é aquela em que as proposições são situadas segundo suas demonstrações mais simples e de maneira que nasçam umas das outras” (Méthode de la certitude, Op., ed. Erdmann, pp. 174-75). Wolff, por sua vez, dizia: “Chama-se de sistema um conjunto de verdades ligadas entre si e com seus princípios” (Log., § 889). A noção de sistema moldava-se assim na de procedimento matemático. Kant subordinou-a a outra condição: a unidade do princípio, que fundamenta o sistema, pois ele entendeu por sistema “a unidade de múltiplos conhecimentos, reunidos sob uma única ideia”; afirmou que o sistema é um todo organizado finalisticamente, sendo portanto uma articulação (articulatió), e não um amontoado (coacervatio); pode crescer de dentro para fora (per intussusceptionem), mas não de fora para dentro (per appositionem), sendo, pois, semelhante a um corpo animal, cujo crescimento não acrescenta nenhum membro, mas, sem alterar a proporção do conjunto, torna cada um dos membros mais forte e mais apto a seu objetivo (Crítica da Razão Pura, Doutr. do método, cap. III). Com base nisso, Kant fala de “unidade sistemática do conhecimento, da qual as ideias da razão pura tentam aproximar-se” (Ibid., Dialética, cap. II, seç. I). A unidade do sistema, ou seja, sua possibilidade de derivar de um único princípio, é a característica que determinou o sucesso dessa noção na literatura filosófica romântica. Constitui o ideal da teoria da ciência de Fichte: “Se não deve haver somente um ou vários fragmentos de sistema, nem mesmo vários sistema, mas um sistema único e perfeito do espírito humano, então deverá haver um princípio fundamental absolutamente primeiro e supremo. E embora, a partir dele, nosso saber se expanda por si em tantas séries, das quais procedem outras séries e assim por diante, todas essas séries devem unir-se num só elo, que não está preso a nada, mas se mantém e a todo o sistema por sua própria força” (Über den Begriff der Wissenschaftslehre, 1794, § 2; trad. it., p. 19). Na filosofia romântica é lugar-comum considerar o sistema como forma da ciência, que supõe um princípio único e absoluto. A origem disso é o ideal matemático, no qual Leibniz, Wolff e o próprio Kant se haviam inspirado; mas esse ideal acaba por voltar-se contra a própria matemática e sendo reivindicado exclusivamente para a filosofia. Shelling dizia: “Admite-se em geral que à filosofia convém uma forma especificamente sua, que se chama de sistemática. Pressupor tal forma não deduzida cabe a outras ciências, que já pressupõem a ciência da ciência, mas não a esta, que se propõe como objeto a possibilidade de semelhante ciência” (System des transzendentalen Idealismus, 1800, I, cap. I; trad. it., p. 27). Hegel só fez sancionar o mesmo ponto de vista: “A ciência do Absoluto é essencialmente sistema, porque o verdadeiro, como concreto, é tal apenas na medida em que se desenvolve em si, se reúne e mantém em unidade, vale dizer, como totalidade, pois só pela diferenciação e pela determinação de suas diferenças são possíveis a necessidade destas e a liberdade do todo” (Enc., § 14). Hegel acrescenta que “um filosofar sem sistema não pode ser nada científico” porque expressa um modo de sentir subjetivo; e em oposição às doutrinas românticas irracionalistas ou fideístas ele impõe a exigência sistemática. Essa mesma exigência manteve-se e foi valorizada nas filosofias idealistas. Croce dizia: “Pensar determinado conceito puro significa pensá-lo em sua relação de unidade e distinção com os outros todos; assim, o que se pensa nunca é realmente um conceito único, mas um sistema de conceitos, o Conceito” (Lógica, 4a ed., 1920, p. 172).
O ideal de sistema como organismo dedutivo baseado num único princípio continuou sendo patrimônio da filosofia, que o cultivou mesmo quando — a exemplo de Kant — declarou que esse ideal era inatingível pelo conhecimento humano. Contudo, esse termo foi e é empregado também sem relação com este significado, para indicar qualquer organismo dedutivo, mesmo que não tenha um princípio único como fundamento. É o caso dos sistema de que hoje se fala em matemática e lógica. Os sistema hipotético-dedutivos, abstratos, axiomáticos, etc. não são sistema por terem um princípio único; aliás, os seus princípios, que são os axiomas, devem ser independentes entre si, não devem poder ser deduzidos um do outro (v. axioma, axiomatização). São chamados de sistema unicamente por seu caráter dedutivo, e no mesmo sentido fala-se de sistema numérico e, às vezes, de “sistema de axiomas” para indicar um simples conjunto não contraditório de proposições primitivas (cf. M. R. Cohen E. Nagel, “The Nature of a Logical or Mathematical System”, em Readings in the Philosophy of Science, 1953, pp. 129 ss.). Isso significa que o uso dessa palavra perdeu o significado forte ou elogioso de discurso dedutivo.
2. Qualquer totalidade ou todo organizado. Neste sentido, fala-se em “sistema solar”, “sistema nervoso”, etc, e também de “classificação sistemática” ou, mais simplesmente, de sistema em lugar de classificação, como fez Lineu, quando quis insistir no caráter ordenado e completo de sua classificação (Systema naturae, 1735).
Desse ponto de vista, às vezes se faz a distinção entre o sistema como conjunto contínuo de partes que têm inter-relações diversas e a estrutura ou a organização que os componentes dele podem assumir em determinado momento (W. Buckley, Sociology and Modern System Theory, 1967, p. 5).
3. Qualquer teoria científica ou filosófica, especialmente quando se quer ressaltar seu caráter escassamente empírico. No séc. XVIII falava-se de “sistema do mundo” para indicar as teorias cosmológicas (cf., p. ex., d’Alembert, (Euvres, ed. Condorcet, pp. 165 ss.). Leibniz chamava de sistema suas teorias sobre a relação entre a alma e o corpo ou entre as diferentes substâncias (Système nouveau de la nature et de la communication dessubstances, 1695). Baumgarten chamava de sistema psicológicos as “opiniões que parecem aptas a explicar a relação entre alma e corpo” (Mel, § 76l); no mesmo sentido, mas de maneira depreciativa, os iluministas falavam de sistema e de espírito sistemático. Diderot dizia: “Chamo de espírito sistemático o costume de traçar planos e criar sistemas do universo, para depois pretender adaptar-lhes os fenômenos, pela razão ou pela força” (Oeuvres, p. 291). D’Alembert falava igualmente de sistema como “sonhos dos filósofos” (cf. p. ex., OEuvres, ed. Condorcet, p. 234). Hegel queixava-se desse uso dos filósofos franceses, para os quais, segundo ele, sistema coincidia com unilateralidade ou o dogmatismo (Geschichte der Pbilosopbie, I, cap. III, seç. I, B, 4; trad. it., II, p. 293; I, cap. III, seç. III, E; trad. it., III, 1, p. 29). Esse uso manteve-se na França mesmo no séc. XIX (cf. E. Bernard, Introduction à la medicine expérimentale, 1865, I, II, § 6). [Abbagnano]
É a multiplicidade de conhecimentos articulados segundo uma ideia de totalidade. Nem um conhecimento isolado, nem muitos conhecimentos desconexos constituem um sistema. Este nasce só por conexão e ordenação segundo um comum princípio ordenador, por meio do qual se atribui a cada parte, no todo, seu lugar e função impermutáveis. Toda ciência procura sistematizar seu material de saber. O princípio, segundo o qual uma multidão de conhecimentos é ordenada, ou se baseia nos próprios objetos, ou brota da espécie de seu conhecimento, ou é, finalmente, trazido desde fora aos conhecimentos. Neste último caso temos só um sistema em sentido impróprio (ou sistemática). A mera sistemática não aclara o objeto, mas serve com frequência para mais facilmente nos orientarmos numa grande multidão de conhecimentos. Pode ser levada a efeito por muitas vias (cf. a sistemática das plantas, organizada segundo característicos não essenciais).
Se os conhecimentos não foram adquiridos independentemente uns dos outros pela experiência ou pela intelecção imediata, mas por dedução, mantêm entre si uma relação de fundamentação, de sorte que todas as proposições ou são deduzidas ou não o são (sistemas de fundamentação; p. ex., matemática, logística). As proposições não deduzidas (inteligíveis por si ou pressupostas) chamam-se axiomas (princípios do conhecimento) as proposições deduzidas, teoremas ou teses. Partindo de qualquer teorema, devemos poder chegar, passando por um número finito de passos, a um axioma (= proibição do regressus in infinitum), porque, de contrário, o teorema careceria de fundamento; pois que toda proposição intermédia só fundamenta, na medida em que é fundamentada num axioma. — A articulação de conhecimentos que exprime a ordem essencial existente nos objetos, dá origem a um sistema natural (p. ex., o sistema periódico dos elementos). O sistema é uma exigência da razão que em toda multiplicidade busca unidade e ordem e, na pressuposição do idealismo metafísico, é também uma exigência do ser e da realidade. O empenho em organizar um sistema natural da realidade é o anelo capital da filosofia. — Brugger.
A definição de sistema como conjunto de elementos relacionados entre si e harmonicamente conjugados não é suficiente para uma dilucidação filosófica. Antes de tudo, põe-se a questão de saber se tais elementos são entidades ou se trata de conceitos ou enunciados.
Em segundo lugar, não tem a mesma significação um sistema se é um sistema orgânico ou um sistema mecânico.
Na significação que os estoicos davam ao termo, significava primariamente ordem, quer dizer, ordem do mundo segundo a qual não só todo o real estava submetido a uma lei, como, além disso, o pensamento seguia a lei da ordem sistemática. O sistema conceptual era por isso, uma tradução do sistema real.
A questão da relação entre o sistema e a realidade implica sempre uma certa ideia do que é o sistema. Costuma-se considerar três formas de relação:
1. O sistema conceptual deriva do real. 2. O sistema real é produto de uma ordem imposta pelo conceptual. 3. sistema real e sistema conceptual são paralelos e, por alguma razão, coincidentes. É óbvio, além disso, que à medida que se acentua a concepção da espontaneidade do pensar se tende a examinar o problema do sistema do ponto de vista da ordem dos conceitos.
Assim aconteceu no idealismo, que pela primeira vez precisou e ainda, com Hegel, exaltou a ideia do sistema, e em particular a ideia da filosofia como sistema.
Na Dialéctica Transcendental, Kant retomava a sua ideia do sistema como um todo do conhecimento ordenado segundo princípios. Daí a definição: “por sistema entendo a unidade das formas diversas do conhecimento sob uma só ideia”, donde a ideia é o conceito dado pela razão. No entanto, o sistema da razão era, em última análise, resultado de um trabalho infinito.
Com maior radicalidade, em compensação, sustenta Hegel a ideia – real e conceptual – do sistema. Embora apenas o total seja verdadeiro, e embora o parcial seja não verdadeiro ou, melhor dizendo, momento falso da verdade, esta será essencialmente sistemática, e a realidade e verdade de cada parte apenas terão sentido em virtude da sua referência e inserção num todo. Daí que, como diz no prefácio à Fenomenologia do Espírito “a verdadeira figura dentro da qual existe a verdade não pode ser senão o sistema científico desta verdade”. A verdade seria, portanto, de acordo com isto, apenas a articulação de cada coisa com o todo, e o próprio todo que a exprime o sistema desta articulação.
Desde Hegel pode falar-se, portanto, com pleno sentido, de sistema da filosofia, não porque estes sistemas não tivessem existido já antes, mas porque apenas desde Hegel ressalta e adquire maturidade aquela sistematicidade dos sistemas.
Até há pouco considerava-se o pensamento tanto mais filosófico quanto mais sistemático era, e viu-se a história da filosofia como uma sucessão de sistemas. No entanto, surgiu um modo de pensamento no qual não apenas se quebrou o sistema mas, o que mais importa para o caso, chegou-se à plena consciência de um novo modo não sistemático, essencialmente fragmentário, inclusivamente aforístico, adoptado pela filosofia. Este modo tem sido considerado por muitos autores como não filosófico. Outros têm visto, em contrapartida, nele o anúncio de um novo modo possível de filosofar, ao qual deixaria de ser sistemático na medida precisamente em que deixaria de se ater às hipóteses racionalistas que, através de múltiplas e díspares formulações têm persistido ao longo da história da filosofia do ocidente.
Esta ideia conduziu a uma discussão a fundo do próprio problema do sistema. Esta discussão seguiu duas vias: por um lado, a análise do sistema como sistema formal. Por outro lado, o exame da relação entre pensamento filosófico e sistema.
Alguns autores indicam que a propensão sistemática não é em si mesma nociva; o que é perigoso é, em seu entender, aderir-se a um sistema dado (como o de Hegel) em vez de propugnar um sistema aberto que, sem perder nenhuma das vantagens da ordenação sistemática, seja capaz de acolher os novos problemas e de se modificar continuamente.
O tipo de sistema aberto aqui referido é o adoptado pela ciência nas suas construções teóricas e pode ser considerado como extremamente fecundo para o conhecimento. Com efeito, podem admitir-se certas estruturas teóricas suficientemente amplas e tentar alojar nelas os novos fatos que se vão descobrindo. Deste modo, os fatos modificam o sistema, mas não o mudam de cada vez completamente. [Ferrater]
(do gr. systhema, conjunto).
a) Grupo de entidades ou dados que são relacionados uns aos outros por intenção ou interdependência.
b) Grupo de teorias ou doutrinas que constituem os princípios fundamentais de uma concepção unitária dentro do campo de uma ciência ou do conhecimento em geral.
Na Gestaltheorie é a totalidade fenomênica ou real, em que as suas partes ou aspectos são partes conexionadas ao todo. Vide gestalt e psicologia. [MFSDIC]
No uso comum matemático, aplica-se a palavra “sistema” a qualquer conjunto de fenômenos cujos diferentes “estados” sejam descritos por um número razoavelmente grande de variáveis. Por exemplo, imaginemos o movimento de duas partículas, uma maior com certo movimento de translação e outra menor girando à volta da maior. Se fixamos um referencial, a cada momento precisaremos de seis números para caracterizar o sistema destas duas partículas: três números (três coordenadas) nos darão a posição da partícula maior; três outros números, a posição da partícula menor. O sistema das duas partículas é, assim, caracterizável por seis variáveis a cada momento; num tratamento abstrato podemos, em vez de considerá-lo como um sistema de duas partículas se movendo num espaço de três dimensões, considerá-lo como uma partícula movendo-se num espaço de seis dimensões. O espaço de seis dimensões, é, evidentemente, não desenhável- A intuição física fica sacrificada, mas ganha-se, com esta substituição, uma certa facilidade no manejo do algebrismo. As propriedades da entropia termodinâmica, para um sistema de muitas partículas, são deduzidas com certa facilidade utilizando-se o espaço pluri-dimensional associado.
Com o surgimento da cibernética, a noção de “sistema” passou a ser confundida com a noção de “estrutura”. Nesta deformação (ou ampliação) de seu sentido, chamamos sistema a qualquer conjunto entre cujos elementos possam ser definidas, ou encontradas, relações. Assim, no estudo de uma companhia, o organograma que a descreve é o exemplo de um sistema de tipo especial — um grafo — muito utilizado na análise de grupos sociais. Costuma-se aplicar o termo “sistema” sobretudo em relação a modelos geométricos ou matemáticos com uma interpretação física ou sociológica imediata: a distribuição das tarefas num projeto é um “sistema” com estrutura de grafo de tal espécie. A palavra “estrutura” diz das regras matemáticas que se aplicam ao “sistema” em causa, conforme os modelos que dele fizemos. (Francisco Doria – DCC)
A palavra sistema, em sentido amplo, significa um conjunto ou uma totalidade de objetos, reais ou ideais, reciprocamente articulados e interdependentes uns em relação aos outros. Na definição de sistema, encontram-se, pois, três noções ou ideias fundamentais: a de totalidade, a de unidade e a de interdependência das partes ou elementos constitutivos. Essas noções, que integram o conceito de sistema, correspondem, em parte, às categorias da quantidade (unidade, pluralidade e totalidade), tais como se encontram na classificação de Kant. A noção de pluralidade, no entanto, não corresponde à de interdependência, que não se encontra nas categorias da quantidade, mas nas da relação, substância e acidente, causalidade e dependência e “comunidade”, quer dizer, ação recíproca entre o agente e o paciente.
A noção de totalidade sistemática, portanto, não é puramente quantitativa, uma vez que implica, além da ideia de unidade, a de “comunidade”, de ação recíproca entre os elementos que a compõem. Uma biblioteca, por exemplo, é um conjunto ou uma totalidade de livros, mas não é um sistema. Essa totalidade, puramente quantitativa, inclui a unidade e a pluralidade dos elementos que a constituem, os livros, mas exclui a “comunidade”, como diz Kant, ou a interdependência recíproca desses elementos. A biblioteca é um agregado, uma coleção, que consiste na justaposição, no mesmo espaço, das partes ou unidades que, acrescentadas umas às outras, constituem a soma ou a totalidade.
A unidade desse conjunto, no entanto, não é interior ao próprio conjunto, mas exterior a ele, porque os elementos ou partes que o constituem não estão interiormente ligados uns aos outros, sua unidade sendo meramente exterior e contingente. A circunstância de achar-se determinado livro antes ou depois de outro, não resulta da natureza do próprio livro, mas do critério adotado para a sua classificação. A distribuição das partes no todo não é, portanto, necessária mas contingente, pois seja qual for o critério adotado na classificação e arrumação dos livros, o seu conjunto será sempre uma biblioteca. O exemplo mostra, com suficiente clareza, que embora a ideia de totalidade seja uma das ideias integrantes da noção de sistema, nem por isso coincide totalmente com essa noção, pois nem toda totalidade é sistemática. A essência, ou “sistematicidade” do sistema não consiste apenas em ser um conjunto ou uma totalidade, pois, como se acaba de ver, há totalidades puramente quantitativas que não constituem sistema.
A ideia de unidade, por sua vez, embora seja indispensável à elucidação da ideia de sistema, também não constitui a sua essência. O sistema é, sem dúvida, uma unidade, mas nem toda unidade é sistemática. A biblioteca, para voltar ao exemplo, é uma unidade, porque é uma e não várias bibliotecas, conjunto de livros justapostos no mesmo espaço, mas não é um sistema. A unidade da biblioteca é puramente exterior e formal, pois os elementos que a constituem são independentes uns dos outros e podem ser separados e redistribuídos em espaços diferentes sem deixar de ser o que são. A biblioteca não é uma unidade “em si”, mas apenas para o bibliotecário. A unidade desse conjunto não é interior e necessária, mas exterior e contingente, pois a posição de seus elementos, uns em relação aos outros, não é determinada por sua natureza ou essência, mas por um agente exterior, podendo ser outra, diferente da que é.
As ideias de totalidade e de unidade não bastam, consequentemente, para caracterizar e definir o sistema. A totalidade una, ou a unidade total, é sistemática quando os elementos ou as partes que a compõem são reciprocamente articulados e interdependentes uns em relação aos outros. A “sistematicidade” do sistema consiste, pois, nessa conexão, nesse relacionamento, ou melhor, nesse interrelacionamento, ou nessa interdependência dos elementos que o constituem. Os elementos, ou as partes, não podem ocupar, na totalidade, qualquer lugar, mas apenas aquele que é determinado pela função que desempenham no conjunto. A sua própria estrutura é determinada pela função que exercem no sistema, o que equivale a dizer que o sistema, enquanto totalidade, está presente em todas as suas partes, determinando a estrutura e a forma de cada uma. Se as partes têm determinada forma é porque devem exercer uma função também determinada, e se devem cumprir essa função e não outra, é porque a economia geral do sistema a exige e dela necessita.
Embora também se encontrem justapostos no espaço, como no caso dos sistemas físicos ou naturais, os elementos do sistema estão ligados uns aos outros em relação de dependência recíproca, porque só são o que são na medida em que desempenham a função que os caracteriza, e o exercício dessa função depende do exercício simultâneo das funções dos demais elementos do sistema. Todos os elementos, por sua vez, estão previamente determinados e configurados pela ideia da totalidade, que explica o lugar que cada um ocupa e a função que desempenha no conjunto do sistema. Ao contrário do que ocorre com o agregado ou a coleção, as relações entre os membros do sistema não são, como se disse, exteriores e contingentes, mas interiores e necessárias, não sendo possível, sob pena de destruir o sistema, alterar arbitrariamente o lugar ocupado pelos seus elementos, nem substituir uns pelos outros na função que desempenham.
A totalidade que se unifica no sistema não é, pois, a unidade exterior e formal, meramente quantitativa, a “pluralidade considerada como unidade”, na expressão de Kant, mas uma totalidade complexa e diferenciada, cujos membros, embora sejam estruturalmente diversos e cumpram funções distintas, são membros de um mesmo todo, e dependem todos uns dos outros, porque se acham interna e reciprocamente articulados, na medida em que concorrem todos para o exercício de uma função comum, a manutenção ou o desenvolvimento do sistema como tal. A caracterização sumária do sistema permite entrever que a sistematização das unidades totalizadas, ou das totalidades unificadas, pode ocorrer, e de fato ocorre, em três planos ou esferas diferentes: o plano da natureza, o da história e o do pensamento.
A natureza como sistema. Depois de Hegel, tornou-se clássica a divisão da realidade em natureza e história. A natureza corresponde à totalidade do real, com exceção do homem, e a história ao que resulta da transformação da natureza pelo homem, e do homem por sisi mesmo. Em termos hegelianos, a natureza seria a objetivação do espírito no espaço, e a história a objetivação do espírito no tempo. A ideia de natureza corresponde, assim, à ideia do conjunto ou da totalidade dos seres naturais, os quais, por diferentes que sejam, apresentam a característica comum de não terem sido produzidos ou fabricados pelo homem, e a de serem o fruto ou o resultado de um princípio comum que os gregos chamavam de physis.
Excluindo as teogonias e as cosmogonias, que têm interesse histórico mas não têm valor propriamente científico, os gregos já atribuíam à natureza o duplo sentido que até hoje conserva, o de conjunto de objetos naturais e o de principio interno que faz que as coisas sejam o que são. Natureza significa, portanto, em primeiro lugar, kosmos, expressão que, além de mencionar o conjunto de objetos naturais, inclui também a ideia de ordem, em oposição à ideia de desordem, ou de chaos. A natureza não é, pois, qualquer conjunto de seres naturais, mas o conjunto ordenado desses seres.
Já no século VI antes de Cristo, os pré-socráticos consideravam o mundo natural impregnado de razão, de logos, quer dizer, de regularidade e de ordem. Essa ordem ou essa regularidade, ou racionalidade, que a convertia em kosmos, tornava a natureza cognoscível ou inteligível. A natureza, portanto, não era concebida como um conjunto desarticulado, uma justaposição desconexa de elementos ou de partes, mas um sistema, entendido frequentemente como um grande organismo, ou um enorme animal, não só com vida própria mas também com razão, à semelhança do homem.
Assim como os gregos, os pensadores do Renascimento, sem falar nos teólogos cristãos para os quais o mundo é criação de Deus, também consideravam a ordem natural uma expressão da inteligência, com a diferença de que, para os gregos, essa inteligência era interior ou imanente ao kosmos, e, para os renascentistas, era exterior ou transcendente. Concebiam a natureza, além disso, não como um organismo mas como uma máquina, quer dizer, como uma engrenagem de peças articuladas, em vista de determinado fim, por uma inteligência estranha e superior à máquina. Na concepção renascentista da natureza, é visível a herança cristã, a ideia de criação ex-nihilo, do mundo por Deus, a partir do nada. Embora a concebam orgânica e não mecanicamente, os pensadores da Renascença também concebem a natureza como sistema, totalidade ordenada, inteligível, que pode ser descoberta e conhecida pela razão.
A ideia cosmológica dos gregos fundava-se na analogia entre o homem, microcosmo, e a natureza, macrocosmo. A concepção renascentista pressupunha a analogia entre a natureza, obra de Deus, entendido como artífice supremo, e a máquina, obra do homem. O que se poderia chamar de concepção moderna da natureza baseia-se na analogia entre os processos naturais e os processos históricos. À concepção orgânica e cíclica dos fenômenos naturais, característica do pensamento grego (com exceção do atomismo de Demócrito e de Epicuro) e à concepção mecanicista e racionalista (no sentido cartesiano) do Renascimento, substitui-se uma concepção histórica da natureza, que a concebe como evolução, transformação, desenvolvimento e progresso.
A natureza deixa de ser uma grande máquina, ou um conjunto de máquinas, cujo funcionamento pode ser explicado mecanicamente, para tornar-se um processo análogo ao da história, no qual a categoria de substância se resolve na categoria de função e a ideia de causalidade mecânica ou eficiente é substituída pela ideia teleológica da causalidade final. A concepção organicista e mecanicista é substituída pela concepção dialética da natureza, que assim a incorpora à visão histórica da realidade.
Nas três hipóteses, a natureza é entendida como sistema. As duas primeiras, concebendo-a por analogia com o organismo e a máquina, a concebem como totalidade, unidade e interdependência recíproca dos elementos que a constituem. De fato, nenhuma realidade ilustra melhor a ideia de sistema do que o organismo ou a máquina. O organismo não é um agregado ou uma coleção de membros esparsos, membra disjecta, mas uma totalidade, cujos órgãos, aparelhos, membros, etc. dependem todos uns dos outros, e desempenham funções definidas que se entrosam no comportamento global do conjunto, que, embora os transcenda, se acha presente em todos eles, como seu sentido e sua razão de ser. Na máquina, por sua vez, a forma e a função das peças são determinadas pela finalidade do conjunto, que, preexistindo, como totalidade, às partes que o compõem, assegura a sua racionalidade, sua sistematicidade.
Não fosse a natureza um sistema, o systema naturae, de que nos fala Lineu, uma totalidade ordenada, um conjunto de fenômenos que obedecem a normas e a leis, um kosmos, e não um chãos, e o conhecimento científico, quer dizer, metódico e sistemático da natureza, seria impossível, e impossível também seria a técnica que se funda nesse conhecimento e nos permite dominá-la e transformá-la. A natureza é cognoscível cientificamente porque é racional e, sendo racional, constitui um sistema, um conjunto articulado de fenômenos, de processos, que não ocorrem arbitrária ou caprichosamente, mas, ao contrário, em obediência a regularidades, a repetições, a leis. Se a sistematicidade das concepções orgânica e mecânica da natureza nos parece evidente, não tão clara parece ser a da concepção histórica ou dialética, na qual a ideia de sistema, entendida como totalidade fechada e finita, seria incompatível com as noções de processo, desenvolvimento e progresso, que caracterizam a história. Tal incompatibilidade desaparece a partir do momento em que se verifica que nenhuma totalidade é fechada, e que todas as totalidades parciais se acham inclusas na totalidade última que é o universo “em expansão”.
A história como sistema. Na introdução de suas Lições sobre a filosofia da história, Hegel escreve que ao abordar a história a única ideia trazida pela filosofia é a ideia da razão, “a ideia de que a razão governa o mundo e que, em consequência, a história universal também se desenrola racionalmente”. Alguns anos antes, referindo-se ao racionalismo cartesiano, que exprimia a essência “como unidade do pensamento e da extensão”, propunha-se considerá-la “como unidade do pensamento e do tempo”. Ao empreender a explicação da história partindo do pressuposto de sua racionalidade, Hegel completava conscientemente a obra de Descartes, procurando apreender pela dialética a estrutura do tempo, assim como a geometria analítica havia apreendido a estrutura da extensão.
A história deixava de ser o mero relato ou registro dos fatos, em sua sucessão cronológica, para tornar-se uma explicação do acontecido, a partir do mesmo pressuposto que permitira a instauração e o êxito surpreendente da física matemática, a racionalidade de seu objeto. Se o real enquanto natureza, como já se observou, fosse irracional, incoerente e absurdo, não poderia haver ciência do mundo natural, pois a ciência postula a regularidade, a invariância, a lei. O mesmo se poderia dizer em relação ao real enquanto história. Se o que chamamos de história fosse irracional, sucessão desordenada e inconsequente de acontecimentos, sem coerência nem lógica interior, também não seria possível uma ciência da história, quer dizer, o conhecimento metódico e sistemático das leis que regem o seu desenvolvimento. O domínio da história seria o domínio do capricho, do acaso, da surpresa, e o imprevisível sua única lei.
Assim como a fundação da físico-matemática seria de decisiva importância na história das ciências da natureza, propiciando o surto de desenvolvimento científico e tecnológico que deveria caracterizar o mundo moderno, assim também o descobrimento da razão dialética, entendida como mola propulsora da história, seria de decisiva importância na instauração e no progresso das ciências do homem, a economia, a sociologia, a política e a própria história. O pressuposto da racionalidade e a utilização da dialética, entendida não apenas como método, mas concebida como estrutura objetiva da realidade histórica, permitiu, em um primeiro momento, assentar os fundamentos e estabelecer as condições de possibilidade de uma filosofia da história e, em um segundo tempo, com a teoria da praxis, de uma ciência da história.
Em que sentido a história, como a ciência natural, é também sistemática? Poder-se-ia imaginar, como já se observou, que, por ser processo, transformação e desenvolvimento, inauguração constante do novo, advento do inédito, a história fosse retrataria ao tratamento sistemático, característico das ciências naturais e matemáticas. Sempre inconclusa, aberta em relação ao futuro, à mercê do acaso e da liberdade humana, como poderia a história ser reduzida a um conjunto sistemático de normas e de leis? As noções de história e de sistema não seriam contraditórias em seus próprios termos? Já se observou que o essencial, na ideia de sistema, além das noções de totalidade e de unidade, é a ideia de articulação, de interdependência necessária entre os elementos ou partes que o compõem. A história, portanto, só poderá ser sistemática se apresentar, também, essa característica, que torna possível o sistema da natureza.
A substância da história é o tempo, não o tempo matemático, mas o tempo humano, consciente de si mesmo, que implica a memória do passado, a percepção do presente e a projeção do futuro. Embora inclua essas três dimensões, às quais correspondem três dimensões simétricas da consciência, o tempo é contínuo e irreversível, constituindo uma totalidade que, embora seja movediça e fluente, nem por isso deixa de ser rigorosamente articulada em seus elementos constitutivos. Assim como na vida individual sucedem-se as idades, infância, mocidade, maturidade e velhice, assim também, no plano da história, sucedem-se as épocas e as fases, que, por serem sucessivas e irreversíveis, como as idades do homem, implicam-se umas às outras, em rigorosa e sistemática articulação. A situação atual do ser humano, na segunda metade do século XX, por exemplo, é o resultado de alguns milênios de vida pretérita, e só pode ser compreendida e explicada à luz dessa história e de todas as épocas e fases que a constituem.
Do mesmo modo que o organismo é mais “sistemático” do que a máquina, a história é mais sistemática do que organismo porque as suas partes constitutivas, que são as épocas e as fases, estão sempre implicadas umas nas outras, não no espaço, como as peças da máquina, ou no espaço e no tempo inconsciente, como os membros e os aparelhos do organismo, mas no tempo consciente de si mesmo, quer dizer, na memória. Porque não é possível separar os momentos do tempo nem substituí-los uns pelos outros, fazendo do futuro passado ou do passado futuro, por exemplo, o tempo apresenta uma estrutura rigorosamente unitária, na qual a implicação das épocas e das fases não é exterior e contingente, mas interior e necessária, o que caracteriza a implicação sistemática. Acrescente-se que, na história, essa implicação, além de interior e necessária, é consciente de si mesma, o que faz da história o processo de autognose e revelação do espírito. Sob a égide e a influência do hegelianismo, a teoria da praxis assentou os fundamentos e estabeleceu a metodologia da ciência que, permitindo o conhecimento metódico e sistemático da história, torna o homem capaz de dominá-la, deixando de ser por ela dominado, como até então acontecia.
Ciência e filosofia como sistema. No primeiro livro da Metafísica, Aristóteles distingue três formas ou modalidades de conhecimento: o sensível, que apreende o particular e o contingente, o empírico ou “experimental”, que nasce da memória e “das numerosas recordações de um mesmo objeto”, e a arte, ou techne, que aparece quando “de uma multidão de noções experimentais surge um único juízo universal”. O objeto da ciência é, portanto, o universal e não o particular, como já ensinava Sócrates. Mas não é apenas a universalidade do objeto que caracteriza o conhecimento científico e o distingue do conhecimento sensível e empírico, mas também o método, que permite procurar os objetos que se pretende conhecer e ordená-los depois de conhecidos.
Do conhecimento metódico do universal, gêneros, espécies, leis, etc, resulta a terceira característica da ciência, a sistematicidade. Um agregado, ou uma coleção de conhecimentos, mesmo que de conteúdo universal, não é ciência, porque entre esses conhecimentos não há ligação ou conexão necessária, mas mera contiguidade ou justaposição. Os conhecimentos passam a constituir ciência a partir do momento em que, além de serem universais, articulam-se organicamente, em um conjunto coerente, no qual revelam a interdependência e a conexão necessária em que se encontram uns em relação aos outros. A ciência é, pois, um sistema no qual todos os conhecimentos decorrem necessariamente, ou dos primeiros princípios, axiomas, postulados, definições, etc. como no caso das ciências dedutivas, ou da experiência e da universalização dos seus resultados, como no caso das ciências naturais.
Nas duas hipóteses, o que confere cientificidade a um conjunto de conhecimentos, não é somente a universalidade do seu conteúdo, nem o fato de terem sido obtidos mediante o emprego deste ou daquele método, mas a articulação racional, a unidade lógica, o sistema em que se acham estruturados. O caráter sistemático do conhecimento científico é o aspecto fundamental da racionalidade, ou da coerência, ou ainda, da unidade da razão, que consiste na exigência de relacionar, de ligar, de descobrir ou estabelecer conexões entre as coisas, reduzindo a multiplicidade à unidade. A geometria de Euclides é uma ciência, e não um agregado de conhecimentos desconexos, porque é um sistema, no qual os princípios, as definições, os teoremas, as proposições, os corolários, etc, constituem um todo, coerente e lógico. O mesmo se poderia dizer da física newtoniana na qual as diversas leis induzidas da experiência se articulam e unificam em função da lei da gravitação universal.
No prefácio da Fenomenologia do Espírito, Hegel escreve que “a verdade é o todo (ou a totalidade)”, acrescentando, logo em seguida, que “o todo é apenas a essência realizando-se a si mesma em seu desenvolvimento”, o que o leva a observar que “o absoluto é essencialmente resultado”, pois “é somente no fim que é o que é em verdade, nisso consistindo sua natureza de ser efetivo, sujeito ou vir-a-ser de si mesmo”. A tese é exemplificada com as proposições a respeito de Deus, nas quais se diz que Deus é a eternidade, o amor, etc. Nessas proposições começa-se com a palavra Deus que, em si mesma, é apenas uma palavra, um som sem sentido. Somente o predicado dirá o que Deus é, constituindo a explicitação do seu conteúdo e seu sentido. “O começo vazio, diz Hegel, só se torna um saber efetivo nesse fim (conclusão)”. O saber efetivo, consequentemente, só poderá ser apresentado como ciência ou como sistema, pois “a verdade é efetiva unicamente como sistema”.
A verdade filosófica não será, pois, o conhecimento metódico e sistemático de uma parte ou parcela do real apenas, como ocorre com as ciências particulares, mas o conhecimento metódico e sistemático do real considerado em sua totalidade. O real, como já se observou, se divide em dois grandes domínios, o da natureza e o da história. E do mesmo modo que na natureza todos os fenômenos e processos dependem, próxima ou remotamente, uns dos outros, constituindo sistemas incluídos em outros sistemas, na totalidade do universo, na história, as épocas e as fases que a constituem correspondem a momentos de um mesmo e único processo que, embora permaneça sempre aberto e inconcluso, nem por isso deixa de estruturar-se na forma do sistema. A verdade filosófica é a revelação da totalidade através do logos, a totalidade enquanto natureza e história. E como o logos é transparente, e a natureza e a história são sistemáticas, a sua revelação através do logos será também sistemática.
As filosofias irracionalistas que pretendem negar a racionalidade do real, e recusam o sistema, sob a alegação de que o conceito não esgota a realidade, a rigor não são filosofias, porque além de incorrer na contradição de pretender negar a racionalidade por meio de discursos racionais, negam a própria possibilidade de negar a racionalidade, ao invalidar a exigência racional de coerência que tornaria seus discursos persuasivos. A negação da racionalidade, na natureza e na história, a pretexto de que incluem contradições, coincide com a defesa de posições conservadoras que, direta ou indiretamente, contribuem para a negação das mudanças e a manutenção do presente. O espírito, no entanto, não se resigna à contradição, como diz Hegel, e aspira à unidade, pois “o mundo é a realização da razão e é apenas na superfície que reina o jogo dos acasos irracionais”.
A filosofia é sistemática porque a realidade é racional e a filosofia é a consciência da realidade. Processo, no duplo sentido de atividade que se efetua no tempo e de julgamento, a filosofia, como diz Hegel, é uma totalidade, um sistema, a evolução do pensamento que se torna consciente de si mesmo, o trabalho, a luta da razão que procura encontrar-se no mundo natural e construir-se na história. [Corbisier]