(lat. Silentium; in. Silence; fr. Silence; al. Schweigen; it. Silenzió).
Atitude mística diante da inefabilidade do ser supremo (cf., p. ex., Boaventura, Itinerarium mentis in Deum, VII, 5). Segundo Jaspers, a atitude diante do ser da Transcendência (Phil., III, p. 223). Segundo Wittgenstein, a atitude diante dos problemas da vida: “Sobre o que não se pode falar, deve-se calar” (Tractatus, 7). [Abbagnano]
Para a filosofia, o silêncio não se confunde com a ausência de ruído, pois nada mais é do que a abolição da palavra ou da linguagem. O silêncio pode constituir a expressão paradoxal daquilo que há de não-humano no homem: há o silêncio incomunicável, que caracteriza a alienação mental, e o silêncio da violência, caracterizando aqueles para os quais a linguagem e a comunicação não são mais possíveis. A experiência metafísica do silêncio gera uma angústia existencial: “O silêncio eterno dos espaços infinitos me apavora”, diz Pascal. Como experiência mística interior, o silêncio, ligado à oração, à meditação. ao asceticismo e à solidão. constitui a condição para o encontro com uma presença oculta, o caminho para o encontro com Deus ou com o outro. [Japiassu]
O QUE é o silêncio?
Uma pergunta estranha. Promove a expectativa de que se vai falar ou escrever sobre o silêncio. Não é o que se pretende. Na verdade, o propósito não é simplesmente outro. Ninguém nunca consegue falar ou escrever sobre o silêncio, por mais que deseje ou se empenhe. Quem o pretendesse, nem mesmo saberia o que estaria fazendo, isto é, que não estaria falando ou escrevendo sobre o silêncio, mas sobre uma “outra” coisa qualquer. Pois só é possível falar ou escrever, rompendo o silêncio. É uma primeira experiência: o silêncio se dá na impossibilidade e como impossibilidade de falar e escrever sobre ele. Com a pergunta, o que é o silêncio?, nem podemos renunciar a uma tal pretensão. Estamos sempre necessariamente numa “outra”.
Mas não é apenas impossível falar ou escrever sobre o silêncio. Também não carece fazê-lo. Em tudo que se diz, quando se fala, se escreve ou se cala, sempre se diz a partir do silêncio. É a segunda experiência. Trata-se de uma experiência tão rica e originária que dela vivem e se criam os poetas, os pensadores, os homens. O propósito aqui é apenas acenar, em alguns passos, para o vigor do silêncio. Pois é ao silêncio que os homens, os poetas, os pensadores dão passagem em tudo que dizem quando falam e/ou se calam em cada desempenho. Com isso nós nos descobrimos onde já sempre estamos — no silêncio da fala. Nosso procedimento será, então, um desafio, o desafio do que nos está mais próximo, tão próximo que nós mesmos o somos, em tudo que temos e não temos. O desafio consiste em deixar que o próprio silêncio apresente seu vigor tanto no que se fala como no que se cala. [Carneiro Leão]