VIDE Romantismo, romantismo filosófico
O romantismo como movimento, estende-se de fins do século XVIII a meados do século XIX; todavia, sua influência perdura ainda hoje, principalmente na Alemanha, onde após a primeira guerra mundial se verificou um novo encontro com ele. O romantismo caracteriza-se pelo fato de abarcar e empolgar a vida espiritual em sua plena amplitude. No que, em particular, concerne à filosofia, há filósofos que podem chamar-se românticos (Schleiermacher e, principalmente, Schelling) e há, pelo menos, um romântico, que merece alinhar entre os filósofos (Fr. Schlegel).
Considerado historicamente, o romantismo surgiu como reação contra o Iluminismo, que superestimava a razão e os conceitos universais. Entre o idealismo alemão e o romantismo há uma ação recíproca múltipla, penetrada de contrastes. Assim como o romantismo recebeu sugestões das ideias de Fichte sobre a produtividade do eu e, em especial, da fantasia, bem como as recebeu da primazia do estético propugnada por Schelling, assim também Schelling se deixa levar e influenciar pelos impulsos do romantismo, o qual (especialmente com Schlegel) também não deixou de influir, de maneira menos fecunda, na visão hegeliana do devir histórico.
Quanto ao conteúdo, o romantismo é um produto sumamente multiforme e cambiante; contudo, podem descortinar-se nele traços característicos comuns. Em primeiro lugar, em vez da razão e do conceito, é a vida em sua total plenitude que ocupa o posto central, em volta do qual tudo gira; não foi em vão que Fr. Schlegel escreveu uma “filosofia da vida”. Desperta o sentido das leis próprias da vida; uma vez que a realidade apresenta ampla unidade orgânica na qual mergulha suas raízes o contraste de natureza e espírito, a única compreensão adequada do real será a que possuir um não menor caráter “orgânico”. Deste ponto de vista, novamente são encarados os vínculos orgânicos em que o homem se encontra envolvido: a nação e, para além dela, a humanidade; pelo que, se corre atrás do espírito popular e da linguagem. Em conexão com isso está, por último, uma autêntica valorização da história em sua inderivabilidade e do devir histórico, o que leva a dedicar especial atenção à Idade Média, com a alegria de haver descoberto algo novo. — Também o próprio homem é tomado em sua vida integral. Mais do que o entendimento e a vontade, são valorizados o sentimento e a fantasia, por onde se mostra que o romantismo está, como que em sua casa, na região da arte e, de modo especial, na região da poesia. Assim, o comando cabe a uma vivência irracional e a uma convivência não menos irracional com tudo, experiência essa complexa que, a um tempo, se apresenta como intuição intelectual. Esta repudia todo conceito solidamente delineado e acompanha a vida em seu incessante progresso ou em seu devir, que flui em direção ao infinito, assumindo constantemente formas diversas. Tal atitude era naturalmente muito pouco propícia a esforços sistemáticos do pensamento. — Com a recusa do conceito e de sua universalidade, o individual de novo se tornou visível em sua substantividade, passando, então, a primeiro plano o homem extraordinário, genial. Embora não seja ainda superado o naufrágio idealístico-panteístico do indivíduo no universo, contudo o que no conjunto predomina é o desenvolvimento da individualidade. Sem dúvida, neste ponto faz-se sentir a ameaça do outro perigo: a volatilização da ordem objetiva do ser no sujeito, uma última frivolidade caprichosa que dissolve o ser em pura poesia e se exprime na ironia romântica. Todavia, homens como precisamente Schlegel tomaram tão a sério o objetivo, que se volveram para o Deus pessoal. — A raiz de todos os reparos feitos ao romantismo é o seu irracionalismo unilateral (irracionalismo), o qual, no entanto, não tira a fecundidade a suas intuições fundamentais. — Lötz.