(in. Reaction; fr. Reaction; al. Reaction; it. Reazioné).
1. Ação igual e de sentido contrário a determinada ação. É neste sentido que a física newtoniana utiliza essa palavra.
2. Em psicologia: qualquer resposta a um estímulo. Tempo de reação: intervalo entre estímulo e resposta.
3. Em política: movimento que tende a anular ou a neutralizar os efeitos de uma revolução ou de uma mudança qualquer, ou mesmo impossibilitar a ocorrência de mudanças. [Abbagnano]
(Starobinski1999)
A palavra “reação”, à primeira vista, não parece mais difícil de entender do que a palavra “ação”. Normalmente, não nos detemos a questionar sua origem. O termo não apresenta enigmas. Como no caso de “ação”, é sua trajetória e a variedade de suas funções semânticas que chamam a atenção do historiador quando este se propõe a analisá-lo.
- Como seu significado se transformou?
- Como penetrou em diversos campos do conhecimento?
- Que papéis intelectuais carregou?
- Que memórias desperta?
Hoje, é um termo banal. Mas nem sempre foi assim.
Raízes etimológicas: do concreto ao abstrato
Recorrer a uma etimologia mais distante certamente estimula a reflexão. Conhecer a genealogia de uma palavra nos convida a vê-la como um derivado. É verdade que a “raiz” mais profunda dos termos do vocabulário intelectual nem sempre revela sua verdade oculta: muitas vezes, sua emergência está ligada a gestos concretos, partindo de uma transferência metafórica.
Segundo os etimologistas:
- “Ato” e “ação” (e seus equivalentes em várias línguas modernas) remetem ao verbo latino agere (ago).
- Esse verbo, por sua vez, estaria ligado a um sentido original: “empurrar para frente”, “fazer avançar um rebanho” — um movimento que ocupa um espaço no solo terrestre, um momento do dia, e que coloca o homem em relação com o gado.
Podemos assim sonhar com esse antigo substantivo actio, muito usado para designar a condução do discurso, e que carregaria a memória de uma atividade pastoral ancestral. Em sua acepção abstrata — a única que conservamos —, seria uma metáfora que esqueceu sua origem. O poeta pode refletir sobre isso, mas essa lembrança não nos torna mais eficazes em nossos atos e ações contemporâneos. O jurista que “introduz uma ação” ou o detentor de “ações” na Bolsa não se sentem afetados por essa reminiscência.
O nascimento tardio de “reactio”
E quanto a reactio? A história não nos permite vê-lo como o par exato de actio. É um composto muito mais tardio, de origem erudita, forjado para formar um par no âmbito da abstração conceitual, não da vida cotidiana.
- Reagere e reactio não faziam parte do léxico antigo do latim.
- Não há registros desses termos em textos da Antiguidade.
- Seus elementos constitutivos (re-, agere, actio) já existiam, mas nunca haviam se unido na língua clássica.
O antônimo de agere no latim clássico era pati (sofrer, padecer); o de actio, passio. Ação e paixão formavam um par de opostos conceituais muito mais consolidado — herança da filosofia grega (poiein/paskhein), transmitida às línguas europeias.
Reagere surgiu tardiamente, entre os escolásticos, em parte para complementar pati e dotá-lo de uma face ativa. Formou-se porque compartilhava a mesma matéria que agere, como uma sombra ou réplica invertida. É um termo derivado (ou correlato), em que o prefixo re- introduz uma determinação:
- Antagônica: só há reação oposta a uma ação.
- Espacial: imaginamos a reação como um repelir da ação.
- Temporal: a reação parece sempre subsequente a uma ação que a precede e provoca — ainda que ação e reação possam ser concebidas como infinitamente próximas. (Kant, como veremos, negará essa sequência, defendendo sua simultaneidade.)
A entrada de “reactio” no léxico
Com base nos documentos disponíveis, é possível conjecturar que:
- Reactio penetrou discretamente no latim narrativo da Alta Idade Média. Mas consolidou-se? Não há evidências conclusivas.
- Entre os séculos XII e XIII, reagere e reactio adentraram definitivamente o latim erudito, tornando-se termos especializados da “física” (no sentido aristotélico amplo, que abrangia da cosmologia ao que hoje chamamos biologia).
O primeiro testemunho relevante vem de Alberto Magno, figura-chave na absorção medieval de Aristóteles.