(in. Rationalization; fr. Rationalisation; al. Rationalisierung; it. Razionalizzazioné).
1. Esse foi o nome às vezes dado ao processo de constituição das ciências da natureza em disciplinas teóricas, com adoção dos procedimentos da matemática; supunha-se que esse processo se realizaria perfeitamente na mecânica racional (cf. Husserl, Ideen, I, § 9). O ideal da racionalização foi atualmente substituído pelo da axiomatização (v. axiomática).
2. Termo frequentemente empregado por psicólogos e sociólogos para indicar a tendência a procurar argumentos e justificações para crenças cuja força não está nesses processos racionais, mas em emoções, interesses, instintos, preconceitos, hábitos, etc. [Abbagnano]
Mas que propomos nós, que supomos e pressupomos? Que a razão humana (quem, senão o homem, terá razão?) não acha em si mesma o alimento de que vive e o elemento em que vive. A racionalização que por muito alongada para trás e para a frente de qualquer aqui e agora se pense sempre parte de um irracionalizado e sempre em um irracionalizado se detém. Que nos impede de admitir que o mesmo sejam os irracionalizados do princípio e do fim, e ambos, um irracionalizável de princípio a fim? Só a irrazoável crença (tão irrazoável quanto outra qualquer) em que a razão pode correr por todos os recônditos da Realidade, seja ela qual for. Repare-se que não pomos a menor sombra de dúvida que o intelecto e a vontade, que compõem a razão voluntariosa, cheguem mesmo até onde, por incomum acesso de modéstia, suponham que não podem chegar. Mas há um ponto aonde sabemos de certeza certa que jamais chegarão: àquele, designadamente, em que se abrem as portas que dão livre curso às condições do próprio exercício do querer entender racionalmente homem e mundo e suas tão racionais correlações. Nesse ponto inatingível pelos dois componentes da razão triunfante, justamente porque dele decorrem os condicionantes do seu funcionamento e nele já se encontra a premonição do seu triunfo — nesse ponto também se situa o mítico, o que não é supérfluo nem impertinente agora, se o considerarmos como o impulso criador do mito do homem dotado de intelecto e vontade [37] omnipotentes, posto no centro de um mundo que a ele se coordena, ou, antes, a ele se subordina, pela irrestrita submissão a seus desígnios. [EudoroMito:37-38]