O fato de se estar em determinado lugar; num sentido mais específico, consciência de ser aí, sentimento de existir: nesse sentido, a filosofia fundamental de Heidegger apresenta-se como uma análise da “presença” (do Dasein, “fato de ser aí”). — De maneira geral, o sentimento de presença exprime, na filosofia da religião, um sentimento de participação no Ser absoluto (quer se trate de um Deus transcendental ou da Natureza, no sentido romântico de mediadora entre o homem e a divindade). Do ponto de vista da lógica, contrapõe-se frequentemente a presença (sentimento de uma “atmosfera”, diz Jaspers) à representação de um objeto, para sublinhar-se assim a irredutibilidade do sentimento de presença ou sentimento do real) a todo objeto particular da representação. “Nenhum objeto, dizia Jacobi, pode igualar o sentimento infinito da realidade.” [Larousse]
(in. Presence; fr. Présence; al. Anwesenheit; it. Presenza).
Este termo é empregado em dois significados principais: 1) existência de um objeto em certo lugar, pelo que se diz, p. ex., “estava presente à reunião de ontem à tarde”; 2) existência do objeto numa relação cognitiva imediata; assim, diz-se que um objeto está presente quando é visto ou é dado a qualquer forma de intuição ou de conhecimento imediato.
No âmbito do primeiro significado, e com objetivos teológicos (para descrever a presença de Deus ou dos anjos nas coisas ou a presença do corpo de Cristo no pão do sacramento do altar), os escolásticos distinguiam duas formas de presença: a chamada circunscriptiva, em que uma coisa está inteira em todo o espaço que ocupa, com parte em cada parte do espaço, e a definitiva, em que uma coisa está inteira na totalidade do seu espaço e inteira também em cada uma das partes dessa totalidade. A primeira presença é um modo de ser quantitativo; a segunda exclui qualquer quantidade (cf., p. ex., S. Tomás de Aquino, S. Th., I. q. 52, a. 2; Occam, Quodi, VII, q. 19).
Heidegger chamou de presença ou simples presença (Vorhandenheit) o modo de ser das coisas, que é diferente do modo de ser do homem, que é a existência (Sein und Zeit — Ser e Tempo, § 9). Sartre, por sua vez, falou de “presença do para-si no ser”, ou seja, da consciência, no sentido de que tal presença implicaria que “o para-si é testemunha de si em presença do ser como não sendo o ser”: o que significaria que a presença no ser é “presença do para-si em não sendo” (L’être et le néant — O Ser e o Nada, pp. 166-67). [Abbagnano]
O termo grego parousia (= “presença; note-se em dito termo o componente ousia) aparece em vários autores. Assim, em Platão, quando fala da “presença” das ideias nas coisas que participam delas; a participação se efetua porque as ideias estão presentes às coisas — a diferença do estar presentes nas coisas, que não seria propriamente presença, senão existência, ou melhor, co-existência. Por outro lado, o conceito de presença, com o sem o uso do termo “presença”, parece ser fundamental em todo o pensamento grego, pelo menos na opinião de Heidegger, que destacou a ideia do estar presente (Anwesen), das realidades presentes (Anweseden) e da presença (Anwesenheit). Heidegger chama os entes, onta, “os presentes” (Cf.. entre outros textos, Identität und Differenz, págs. 62 y segs.). A ideia de presença e dos entes presentes ou de “os presentes” é especialmente básica, segundo Heidegger, na filosofia grega, até o ponto de que nela pode falar-se do Ser como Presença. Ernst Tugendhat (TI KATA TINOS). Eine Untersuchung zu Struktur und Ursprung Aristotelischer Grundbegriffen, 1959, passim) elaborou esta concepção de Heidegger e pôs em relevo de que modo em alguns filósofos gregos — por exemplo, em Parmênides — o Ser está “todo ele presente”, por ser in-diferenciado e, por assim dizê-lo, trans-parente. Ele coloca um problema e é o do sentido da presença dos fenômenos, a diferença da presença, ou o ser presença, do Ser, mas dito autor assinala que enquanto a presença dos fenômenos é espúria, a do Ser é uma pura e autêntica presença. Ele desencadeia a questão da possível duplicidade do ser como presença e a necessidade de interpretar toda presença como o estar presente do ser. [Ferrater]