Filosofia – Pensadores e Obras

paz

estado de concórdia, de acordo entre os membros de um grupo, uma família e, particularmente, entre as nações. — A paz com o outro, segundo Platão, só pode resultar da paz interna, isto é, da ausência de impulsos violentos, de tendências agressivas num indivíduo ou numa nação. Essa própria paz interna só pode resultar, ainda segundo Platão, do equilíbrio entre os três componentes do indivíduo que são os desejos biológicos, o coração (ou a coragem) e o espírito (ou a razão). Esses três componentes correspondem, em relação à nação, à economia (que satisfaz as necessidades vitais), o exército (que encarna a coragem e as virtudes viris) e ao poder político (que é o princípio das decisões racionais. Se o equilíbrio interno é rompido pela miséria, ou por um exército muito fraco ou muito forte, ou ainda devido a um poder político desvinculado da nação, a guerra com o exterior está perto de ser declarada; no primeiro caso (o da miséria), é a “fome” que impelirá os indivíduos de uma nação a invadir um outro país para tomar-lhe seus bens; no segundo caso, predominando o elemento agressivo no interior de uma nação, ocorrerá rapidamente o expansionismo no exterior (tal como o nacional-socialismo na Alemanha de 1936, que levou à Segunda Guerra Mundial); finalmente, um poder político desencarnado e separado do corpo da nação provocará um enfraquecimento nacional, tornando-se um chamariz para a intervenção estrangeira: uma nação forte e equilibrada que possua a paz interna possuirá também a externa. Em suma, o estado pacífico é de início uma disposição interna, e acessoriamente uma forma de relação com o outro. O problema de uma paz perpétua entre os homens — não no sentido de um ideal utópico, mas de um objetivo preciso de ação política — excitou o espírito dos filósofos. Quais são as condições políticas da paz no mundo? A esse problema responde a obra de Kant intitulada Projeto de paz perpétua (1795): o estado de paz só poderia verdadeiramente instaurar-se, segundo Kant, quando existisse uma constituição política quase perfeita, regulando imperativamente não só as relações dos indivíduos num Estado, mas também as relações dos Estados entre eles. Uma tal união jurídica dos homens faria de cada homem um “cidadão do mundo”. Os chefes de Estado deveriam ter então por objetivo, segundo Kant, não somente o bem de seu país mas o do mundo inteiro. No plano jurídico, a constituição da O. N. U. responde atualmente ao projeto de Kant. A Organização das Nações Unidas tende mesmo a substituir, nas diferenças internacionais, a Corte internacional de justiça de Haia. No plano dos fatos, a ajuda aos países, praticada em larga escala pela França, visa ajudar os países devastados pela fome e instituir liames amigáveis com o maior número deles; pois a união política só pode realizar-se na base de uma união econômica que liguem carnalmente uns Estados aos outros. Uma constituição política mundial, dotada de um poder eficaz e de uma realidade material (e não de uma simples realidade formal e ideal como a carta das Nações Unidas), só pode coroar uma união econômica entre os grandes conjuntos continentais que constituem o mundo. Em nossa época, o projeto de paz perpétua, sem ser possível atualmente, poderá sê-lo um dia. O problema da paz não é militar (o problema estritamente militar do desarmamento parece na verdade insolúvel); só poderá tornar-se um problema político no momento em que as relações econômicas, culturais e humanas tiverem tecido entre as nações ou grupos de nações “inimigas” um liame tal que a união política resultará dela mesma. A guerra só será inconcebível quando todos os homens do mundo dependerem economicamente uns dos outros. [Larousse]