A tarefa e a grandeza potencial dos mortais residem em sua capacidade de produzir coisas – obras, feitos [erga] e palavras – que mereceriam estar e, pelo menos até certo ponto, estão confortáveis na eternidade, de sorte que por meio delas os mortais pudessem encontrar o seu lugar em um cosmo onde tudo é imortal exceto eles próprios. Por sua capacidade de realizar feitos imortais, por poderem deixar atrás de si vestígios imorredouros, os homens, a despeito de sua mortalidade individual, atingem a imortalidade que lhes é própria e demonstram sua natureza “divina” A diferença entre o homem e o animal aplica-se à própria espécie humana: só os melhores (os aristoi), que constantemente provam serem os melhores (aristeuein, verbo que não tem equivalente em nenhuma outra língua) e que “preferem a fama imortal às coisas mortais” são realmente humanos; os outros, satisfeitos com os prazeres que a natureza lhes oferece, vivem e morrem como animais. Essa era ainda a opinião de Heráclito [Heráclito, fragm. B29 (Diels, Fragmente der Vorsokratiker [4. ed., 1922])], opinião da qual dificilmente se encontra equivalente em qualquer filósofo depois de Sócrates. [ArendtCH, 3]