Filosofia – Pensadores e Obras

modernismo

(in. Modernism; fr. Modernisme, al. Modernismus; it. Modernismo).

Tentativa de reforma católica que teve alguma difusão na Itália e na França na última década do séc. XIX e na primeira do séc. XX; foi condenado pelo papa Pio X com a encíclica Pascendi de 8 de setembro de 1907. Essa tentativa inspirou-se nas exigências da filosofia da ação, nela haurindo o significado que deve ser atribuído aos conceitos fundamentais da religião: Deus, revelação, dogma, graça, etc. O modernismo inspira-se principalmente nas ideias de Ollé Laprune e de Blondel, que permaneceram alheios ao movimento, e conta com os nomes de Laberthonnière, Loisy e Le Roy. Na Itália, assumiu especialmente a forma de crítica bíblica (Salvatore Minocchi, Ernesto Buonaiuti) e de crítica política (Romolo Murri), enquanto o debate filosófico limitava-se a reproduzir, com escassa originalidade, as ideias do modernismo francês. Os pontos básicos podem ser expostos assim:

1) Deus revela-se imediatamente (sem intermediários) à consciência do homem. Laberthonnière diz: “Se o homem deseja possuir Deus e ser Deus, é porque Deus já se deu a ele. E assim que podem ser e são encontradas na natureza as exigências do sobrenatural” (Essais dephilosophie religieuse, 1903, p. 171). Esse princípio diminuía ou anulava a distância entre os domínios da natureza e da graça, bem como entre o homem e Deus, fazendo de Deus o princípio metafísico da consciência humana. Tal é o fundamento do chamadométodo da imanência”, que pretende encontrar Deus e o sobrenatural na consciência do homem.

2) Deus é sobretudo um princípio de ação, e a experiência religiosa é sobretudo uma experiência prática. Esse ponto, que também deriva estritamente da Ação (1893) de Blondel, equivale a considerar que religião e moral são coincidentes. Essa é uma das teses fundamentais de Loisy (La religion, 1917, p. 69).

3) Os dogmas nada mais são que a expressão simbólica e imperfeita — porque relativa às condições históricas do tempo em que se constituem — da verdadeira revelação, que é a revelação feita por Deus mesmo à consciência do homem. Esse foi o ponto de vista que Loisy defendeu na mais famosa obra do modernismo, L ‘Évangile et l’église (1902).

4) Os instrumentos de investigação filológica devem ser aplicados sem limitações à Bíblia; isso significa que ela deve ser considerada e estudada como um documento histórico da humanidade, ainda que de caráter excepcional e fundamental. Esta foi a convicção tanto de Loisy quanto daqueles que, na Itália, aceitaram o ponto de vista do modernismo sobre esse assunto, especialmente Buonaiuti.

5) No campo da política, o Cristianismo não pode conduzir à defesa dos privilégios do clero ou de outros grupos sociais, mas apenas ao progresso e à ascensão do povo, cuja vida na história é a manifestação da vida divina. Tais foram as ideias políticas defendidas principalmente por Romolo Murri. Cf. E. Buonaiuti, Le modernisme catholique, 1927, J. Rivière, Le modernisme dans l’église, 1929; Garin, Cronache di filosofia italiana, 1943-55, 1956. [Abbagnano]